quarta-feira, 4 de julho de 2018

ESPECIALIZAÇÃO EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE - UFES: Atividade final


A disciplina de Epistemologia da psicanálise trouxe uma reflexão sobre os conceitos constituídos na filosofia e na psicanálise em relação aos métodos e conhecimentos que são atribuídos ao inconsciente. Além de conceitos psicanalíticos, a área também estuda as formações do próprio inconsciente, como atos falhos, chistes e sonhos, ou seja, a via real de acesso ao inconsciente.
Como proposta de Atividade Final, sintetizamos a reflexão expressa na obra de Sigmund Freud, Totem e Tabu (1913) e uma análise da função do pai em psicanálise e suas relações com a cultura, bem como a função da linguagem nesse processo.


A obra Totem e Tabu (1913) de Freud vem refletir sobre os aspectos civilizatórios e evolutivos do homem. Questões sobre a origem das instituições sociais e culturais, bem como moralidade e contextos da psicanálise são trazidos para uma discussão a partir do totemismo, próprio das civilizações primitivas.
Para fins de análise da temática, iniciou sua abordagem com tribos aborígenes australianas, que possuem características bastante primitivas, não possuem instituições sociais religiosas, mas que, em seus costumes e tradição, tem o totemismo – um animal, planta ou força que possui relação especial com o clã, admitindo-se sua relação ancestral e protetora. Em retribuição, o clã segue, respeita, ouve e se abstém dele em alimento, suas características são transmitidas hereditariamente. Onde há o totem, há também as regras da exogamia, ou seja, não há relação incestuosa. Essa proibição está devidamente ligada ao totem, não se sabe ao certo quando foi atrelada, mas Freud descreve a sua relação com o desejo da transgressão – tabus. Ele faz uma relação entre o desejo, a proibição e a formação psíquica da criança - neuroses.
Ao comparar os tabus às convenções morais existentes em nossa sociedade, Freud apresenta o caráter perigoso daquele que transgride e que, a partir desse ato, pode-se gerar a neurose obsessiva, um deslocamento do desejo, de um objeto para outro. Uma ambivalência de sentimentos, influenciados pelo desejo e pela repressão que confluem na angústia.
As questões anímicas, religiosas e científicas também fundamentaram as reflexões de Freud, ao perceber que o sujeito cria sua percepção de mundo a partir de seus desejos.
O animismo permitia ao homem conceber o mundo a partir do mágico, do que era natural, de si mesmo. Expunha seus desejos nos espíritos e em suas ações, para fins de suas vontades.
A religião permitiu perceber a partir das forças externas, dos deuses e suas forças de atuação sobre o mundo, sem deixar que seus desejos estivessem a tona. A ciência trouxe alguma realidade, e mostrou como os desejos precisam estar atrelados à ela.
Ao longo dos escritos, Freud apresenta o complexo de Édipo como ilustração ao totemismo, em que a primeira escolha da criança, a mãe, é incestuosa, e faz a relação do desejo com a proibição, bem como a presença do pai, que representa, em certo momento, a castração simbólica da criança e seu representante fálico e rival, diante da mãe.
Ao totem, o sacrifício do primevo para que seja cultuado, respeitado e para que os laços unam-se à superioridade. Uma consolidação do estado de direito ao tomar o pai como simbólico de autoridade após o sacrifício.
Freud estabelece a constituição da sociedade sobre os dois tabus apresentados ao longo de suas reflexões, a proibição do incesto (garantia da força e união na ausência física do pai) e a obrigação da proteção do totem, uma primeira instância social e religiosa que parte da culpa e da obediência.
O primeiro módulo da disciplina traz uma reflexão sobre a posição do pai e sua evolução na psicanálise como uma acordo com a civilização, cujo delinear se dá a partir de textos e concepções que Freud trouxe para a noção de pai.
Na mesma época da publicação de “Totem e Tabu” (1913) surge também o texto “O interesse científico da Psicanálise” (1913), conferindo à psicanálise uma relação com as ciências e apresentando-se como uma ciência dos processos inconscientes e um meio de pesquisa aplicado nos diversos campos do saber.
Nascida do encontro e da observação de um médico e um homem da ciência com os traumas e imersa em diversas teorias da época, trouxe uma perspectiva de que o homem passa por processos de adaptações e transformações e isto é biológico. A contribuição da psicanálise diz respeito à significação de cada uma dessas funções no conjunto do corpo e na determinação do sintoma.
Freud mostra que a psicanálise liga-se a vida e as funções orgânicas e que a sexualidade encontra-se envolvida, pois também é função orgânica. Freud destaca a sexualidade infantil como abordagem da psicanálise, pois possui propriedades estão presentes na concepção biológica, mas não somente.
Quando apresentando o quadro epistemológico da psicanálise, cujo centro é o complexo familiar, se instaurando a neurose e a psicose. Abrindo terreno aos fenômenos psíquicos reprimidos e inibidos, Freud mostra a sexualidade não apenas como função orgânica, mas ligada à Eros e a libido. Instinto e pulsão, agora se tornam movimentos para a construção do objeto.
Essa teoria evolutiva da psicanálise, Freud chamou de Kultur (cultura), o que explica seu interesse pela história da civilização, bem como do indivíduo e dos seus processos psíquicos. Mais ligada à ciência da vida, a psicanálise reflete sobre o conceito de povos e cultura, bem como os elementos psíquicos presentes em sua evolução.

Através das crenças infantis e da infantilidade do neurótico, Freud busca compreender o processo da civilização. As teorias sexuais infantis são resultado de uma pré-ciência que age sem cessar quando a criança busca soluções para sua questão interna, em que a relação do sujeito com a realidade encontra-se deturpada.
Os mitos e as fantasias constituem a atividade mental primária das crianças, recobertas pela razão, que propõem soluções de problemas e conclusões lógicas. A ambivalência de sentidos, frequente na vida da criança, procura soluções criando o próprio mito, a moralidade e a religião. A história da civilização mostra os caminhos tomados pelos homens, segundo Freud, para a realização de seus desejos insatisfeitos.
As inferências de Freud, na obra totem e Tabu (1913) não tem carga moral original, mas se tornam morais a partir de suas observações. O medo e a proibição do incesto afirmavam a isogamia. “Essas restrições impostas aos membros da sociedade primitiva são originadas no totem, um objeto ou animal investido de poderes, que desperta medo e respeito e sobre o qual se projeta todo o narcisismo próprio ao ambiente anímico.”
Ao totem se dirige uma afetividade enquanto ao tabu se dirige a agressividade. Presença da ambivalência: amor e ódio, neurose em busca da satisfação pulsional.
O mito freudiano, do pai primevo sendo devorado e assumido pelos seus, mostra, antes de tudo, um poder absoluto que é derrocado pela associação dos filhos contra o pai. A ausência que se dá, a partir deste ato, institui uma castração simbólica que se relaciona à ausência do real. Na figura do ancestral totêmico concentra-se uma fixação libido. O desrespeito à lei do pai provoca a falta e o castigo e, mesmo em sua ausência, permanece a submissão àquele que tem o seu valor simbólico.
Da teoria freudiana da cultura para a teoria lacaniana da linguagem e do objeto, vê-se que o simbólico determina-se aquém e além das determinações imaginárias e das relações da natureza do mito freudiano. Lacan afirma que o inconsciente é estruturado como linguagem, onde Freud colocava a função do pai Lacan faz o Nome-do-Pai como operador simbólico.
Lacan traz castração, frustração e privação como uma trilogia relacionada ao simbólico, imaginário e real, pois é através do objeto ou de sua falta que acontece a satisfação do sujeito. Pai e mãe são nomes que situam o sujeito no sistema cultural. A construção do enunciado sobre a privação real da mãe, que é desprovida do poder referente no pai, é simbólica, só tem sentido através da linguagem porque pela linguagem tudo pode se reconstituir
No plano simbólico o desejo precisa ser reconhecido através da linguagem, e é no plano simbólico que se torna possível a ausência, a falta, na medida em que dá lugar à presença.
Através da lógica, da linguagem e da linguística Lacan situa a psicanálise no campo da cultura, da ciência de seu tempo, isto é, das ciências humanas.

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