UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES
GRADUAÇÃO
EM FILOSOFIA
MARIA ELIZABETH RIBEIRO
GISLAYNE DA PENHA CROCE FERREIRA
KERLY NUNES DE SOUZA
1 BIOGRAFIA
E CONTEXTO HISTÓRICO
João de Salisbury (1115-1180) nasceu em
Salisbury, condado de Wiltshire, na Inglaterra. Passou cerca de doze anos
estudando nas melhores escolas e entrando em contato com os mestres mais
famosos. Esteve em Paris e depois seguiu para Chartres, onde permaneceu por
mais tempo e teve sua formação mais sólida. Lá se interessou pelos problemas
especulativos, assimilou a cultura e
abraçou a literatura.
Foi convidado a participar ativamente do
clérigo, atuando como secretário do arcebispo de Canterbury, Thomas Becket
(1117-1170), ao qual dedicou as obras Metalogicon
(A Metalógica) e Polycraticus (O
Político) e, que, mais tarde foi assassinado por ordem do rei Henrique II.
Depois desse acontecimento, Salisbury retornou à França onde exerceu, ao final
de sua vida, o cargo de bispo de Chartres, entre 1176 e 1180.
Foi um homem que conhecia bastante a
Antiguidade. Em sua obra Metalógica, defende o estudo da Lógica, da Gramática e
da Retórica, ou seja, do Trivium em
vista a um personagem fictício, o Cornifício, que representa estudantes descontentes com a
educação da época e solicitam a redução do número de disciplinas. Eles
desejavam parecer sábios e não os serem, segundo a obra. A defesa salsburiana
era por uma formação sólida, para que os estudantes conseguissem realmente se
tornarem sábios e terem sucesso.
A obra Policraticus
foi escrita durante o reinado de Henrique II de Anjou, porém, antes das
controvérsias sobre a violação das liberdades eclesiásticas praticadas pelo rei
que resultaram na morte do arcebispo. Tal obra era um tratado de filosofia
política e dialogava sobre a ética na vida política e diversas temáticas como o
tiranicídio. Por isso, além de teólogo, Salisbury também foi considerado por
alguns como um grande ideólogo e o primeiro medieval a considerar a imagem de
um rei instruído, um rei intelectual, preocupado como poder e com o governo.
A obra já apresentava uma linguagem moral e
intelectual e além de inaugurar a filosofia política medieval, Salisbury também
defende a importância das letras na preservação do conhecimento.
2 O PAPEL DAS
LETRAS NA FORMAÇÃO DO FILÓSOFO
2.1 O MÉTODO SALSBURIANO
João de Salisbury, foi um dos mais brilhantes
pensadores do século XII, do Renascimento do século XII, em que se estudava
muito acerca dos métodos de ensino. O que ele mais defendia, era o método
tríade: natureza, memória e razão. Para ele, sem esses três conceitos, os
homens não poderiam progredir intelectualmente.
De acordo com o pensador, a natureza nos
torna mais perceptíveis e com isso, conserva de forma satisfatória a memória
humana. A razão, por sua vez, examina o
que foi percebido pela natureza e decide o que será levado ao pensamento, tendo
a função de filtrar o conhecimento.
Primeiro, a natureza excita nossa capacidade de perceber as coisas. Em
seguida, custodia essas percepções ao tesouro da memória. Com estudo diligente,
a razão então examina o que foi percebido e que
será ou deverá ser recomendado à custódia da memória. Depois do
escrutínio da natureza, a razão pronuncia um julgamento verdadeiro e incorruptível
acerca dessas coisas.
Com base nisso, a busca da sabedoria,
portanto, estaria no interior de cada indivíduo, que buscaria desenvolvê-la
através de leituras e práticas cotidianas.
Sobre leitura, Salisbury, afirmava que a
prática e a tentativa da mesma é o que produz a perfeição, pois, no ato de ler,
supera-se obstáculos e lapida-se o saber, tornando-o completo e significante.
Utilizando-se corretamente a natureza, a
memória, a razão e praticando a leitura, o estudante consegue produzir
julgamentos e opiniões consistentes.
Caso rompesse com essa tríade e o ato de ler, contudo, interromperia o
ciclo do conhecimento e passaria, apenas, a repetir sem pensar afirmações de
intermediários.
Salisbury foi enfático ao registrar que sem a
prática habitual dos exercícios gramaticais, das leituras, e dos debates, mesmo
os detentores das mais elevadas virtudes intelectuais definhariam. Ainda, deu
grande importância à memória, evidenciando a necessidade de tê-la e
desenvolvê-la. Para além, tudo que se registra na memória há de se registrar
através das letras. Assim como o teor dos conhecimentos eram guardados na
memória eles também eram registrados nos livros para que jamais se perdessem.
João de Salisbury enxergava as vias rumo ao
conhecimento como uma arte. Arte a ser lapidada a cada dia, com disciplina e
método, a fim de alcançar a perfeição de um saber. Aos olhos de João, praticar
era a maneira mais eficiente do estudante fixar os conteúdos e avançar nos
estudos.
Por ser boa, a natureza humana deveria ser
continuamente nutrida para que se desenvolvesse adequadamente. Nutrida com
exercícios intelectuais diários, tais como leituras e debates. E todos estes
envoltos pelos princípios éticos cristãos, ou seja, ser bom antes de ser douto.
A memória era concebida como uma prática que
viabilizava a busca pela essência do conhecimento, um ato de sorver as
informações e imprimi-las na alma. Atingida pela essência, o conhecimento se
transformava em parte da existência humana.
Salisbury asseverou que o bom uso da palavra
(eloquência) separava os sábios dos ignorantes, os humanos das bestas ou
“animais brutos”. Estes, por não conhecerem as virtudes e os bens proporcionados
pela eloquência, não se entendiam. Sem consenso, por não haver comunicação
adequada, perdiam-se e destruíam os símbolos da civilidade humana.
2.2 O USO DAS LETRAS
Para João de Salisbury a chave para a
perpetuação da vida humana residia no bom uso da eloquência. Absorvida pelas
pessoas, ela tornava a existência humana possível. Sem ela, o homem permanecia
no “estado de natureza”, que para ele era a ignorância das palavras e das
letras, e estas eram o sustentáculo de uma existência humana civilizada.
Com os antigos e os sábios de seu tempo, João
aprendeu a valorizar a eloquência e absorveu a disciplina nos estudos. Ainda
com os mesmos, as vantagens do ócio intelectual. Para ele, uma era parte da
outra, e estas tornavam o homem cada vez mais conhecedor de si mesmo, ou seja,
mais humano.
Através das letras, Salisbury afirmava que as
coisas não pereciam com o tempo, elas eram dignas de lembrança e, assim, era
permitido que o conhecimento fosse transmitido à posteridade. Como seria
possível admirar o passado caso não houvesse os escritores, aqueles que
registram a vida e seus acontecimentos? Segundo Salisbury, as letras tem luz
que iluminam os feitos dos humanos.
O ensino letrado sempre esteve ligado à
Igreja. Antes da existência das universidades, eram os homens da Igreja os
responsáveis pela instrução. A Catedral de Chartres foi um desses centros de
estudos. Homens como Bernardo de Chartres, (c.1124), Teodorico de Chartres
(c.1155) e Gilberto de La Porré (c.1075-1154) deram fama ao notório saber desenvolvido
nesse ambiente. Atraíram estudantes de todo o ocidente medieval para participar
desse contexto de ensino formal nos rudimentos das letras para os oblatos e aos
conversi iletrados ou semiletrados,
alguma instrução para que pudessem participar da vida ou, ao menos, da adoração
comunitária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em meio às críticas e aos seus diálogos, João
de Salisbury criou, através de suas obras Metalogicon
e Policraticus um debate sobre o
saber clássico e sua importância como marca da humanidade. Importando-se com a
literatura, as artes, a política e a própria humanidade, conduzindo-os ao
empenho pessoal através de um método baseado no Trivium - Gramática, Retórica e Dialética e na sabedoria através da
busca pela natureza, pela memória e pela razão.
Para tanto, a prática da leitura e da escrita
levam o homem à eloquência, à disciplina, caminho para ser conhecedor de si e
do meio.
Essa busca pela sapiência, como descrito por
Salisbury, é a busca pela felicidade, e as letras são os feitos mais iluminados
do homem, pois registram tudo o que é conhecido, possibilitando á posteridade
também conhecer e aprimorar.
REFERÊNCIAS
COSTA,
Ricardo da. Extratos de fontes das “Filosofias Medievais” (sécs.
II-XIII) Seleção e notas. UFES, 2007.
COSTA, Ricardo da; SANTOS, Bento Silva. História da Filosofia Medieval.
SEAD/UFES. 2015. p.51-80.
DICIONÁRIO ABC. João de Salisbury.
Disponível em: http://elmaxilab.com/definicao-abc/letra-j/joao-de-salisbury.php.
Acesso em: 10 jun 2015.
LANZIERI JÚNIOR, Carlile. "No tesouro seguro de nossa
memória". A memória na concepção de três personagens do século XIII.
Notandum, São Paulo/Porto, ano XVIII, n. 37, jan./abr., 2015. p. 29-48.
Disponível em: http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05 jun 2015.
________. Sob os olhos dos homens de pedra: a importância do método na
educação medieval a partir dos escritos de João de Salisbury. Disponível em:
http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05 jun 2015.
PAPA BENTO XVI. Audiência Geral: João de
Salisbury. 2009. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2009/documents/hf_ben-xvi_aud_20091216.html.
Acesso em 11 jun. 2015.
João de Salisbury é o
grande nome filosófico do Renascimento do século XII. Tornou seus escritos
literários Metalogicon e Policraticus importantes obras
filosóficas e políticas e tinham alto teor crítico. COSTA, Ricardo da; SANTOS, Bento Silva.
História da Filosofia Medieval. SEAD/UFES. 2015.p.51.
O período em questão
era marcado pela oralidade. Poucos sabiam ler e escrever e entre aqueles que
sabiam, o método era utilizado para suscitar aquilo que se acreditava ser mais
importante. Além do que era aprendido em livros buscava-se a tessitura do aprendizado
ético e cristão. Os feitos dos iletrados também eram registrados por serem
considerados sábios pelas vivências.
LANZIERI JÚNIOR, Carlile. "No tesouro seguro de nossa
memória". A memória na concepção de três personagens do século XIII.
Notandum, São Paulo/Porto, ano XVIII, n. 37, jan./abr., 2015. p. 36.
Disponível em: http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05 jun 2015.
LANZIERI JÚNIOR,
Carlile. Sob os olhos dos homens de
pedra: a importância do método na educação medieval a partir dos escritos de
João de Salisbury. Disponível em: http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05
jun 2015.
LANZIERI JÚNIOR,
Carlile. Sob os olhos dos homens de pedra: a importância do método na educação
medieval a partir dos escritos de João de Salisbury. Disponível em: http://www.vivariumhist.com/.
Acesso em 05 jun 2015.
LANZIERI JÚNIOR,
Carlile. Sob os olhos dos homens de pedra: a importância do método na educação
medieval a partir dos escritos de João de Salisbury.
Disponível em: http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05 jun 2015.
COSTA, Ricardo da.
Extratos de fontes das “Filosofias Medievais” (sécs. II-XIII) Seleção e notas.
UFES, 2007.
LANZIERI JÚNIOR, Carlile.Sob os olhos dos homens de
pedra: a importância do método na educação medieval a partir dos escritos de
João de Salisbury. Disponível em: http://www.vivariumhist.com/. Acesso em 05
jun 2015