quinta-feira, 29 de setembro de 2016

APRESENTAÇÃO

LABORATÓRIO DE ENSINO DE FILOSOFIA
PROF. JORGE AUGUSTO DA SILVA SANTOS


Para finalizarmos a disciplina de Laboratório de Ensino de Filosofia, foi proposto pelo professor Jorge Augusto um Seminário relacionado a um filósofo de interesse coletivo e um de seus textos mais expressivos.

A apresentação deste trabalho, portanto, se baseou na escolha do filósofo Friedrich NIETZSCHE e de um texto significativo de seu pensamento: ASSIM FALAVA ZARATUSTRA, presente no material disponível para consulta da semana, "Textos básicos de Filosofia - Danilo Marcondes” e o próprio livro do autor.

Apresentaremos aos diletos colegas, ao tutor presencial e ao tutor à distância o Contexto histórico global do pensador, o texto selecionado e a importância de sua obra na História da Filosofia.

O grupo é composto por Cristiani Lopes Silva, Gislayne da Penha Croce Ferreira, Kerly Nunes de Souza e Maria Elizabeth Ribeiro.

BOM ESTUDO A TODOS NÓS!

PARTE I - Contexto histórico de Nietszche


Friedrich Wilhelm NIETZSCHE, alemão nascido em Röcken em 15 de outubro de 1844 e falecido em 25 de agosto de 1900, tornou-se um dos mais importantes filósofos do século XIX ao realizar sua crítica a partir de uma revisão da moral ocidental, compartilhando a necessidade da destruição das ilusões da certeza racionalista configurando assim, na crise da sociedade moderna.
Filho de família protestante cresceu direcionado à vocação, mas distanciou-se dessa caminhada ao chegar à adolescência e iniciar seus estudos em Filologia – Estudo da História Linguística. Filósofos como Platão, Ésquilo, Schiller, Hölderlin, Byron e Schopenhauer conduziram seu pensamento pelo caminho filosófico. 
Nessa crítica, que abarca toda a tradição filosófica iniciada em Platão e seguida até Hegel, há, segundo o próprio filósofo, toda uma história de um erro, erro esse que se percebe desde a origem do domínio da moral, em que, através de seus estudos, é possível verificar os elementos que possibilitaram a sua aceitação e as motivações que levaram os indivíduos a se submeterem, reproduzirem e perpetuarem certos princípios morais.
Tudo iniciou-se na tragédia grega, na relação entre os princípios apolíneos e dionisíacos. Para entendermos melhor, é preciso compreender seus respectivos deuses: Apolo, deus da razão e da clareza, da ordem e da harmonia e Dionísio, deus do instinto, da vida, da metamorfose, da desmedida. Para Nietzsche, ao afirmar a excelência da razão entre os instintos, Sócrates criou a oposição entre dois princípios, que marca o fim da tragédia grega, pelo domínio da razão sobre os instintos a que foram submetidos. Tudo deveria ser inteligível para ser belo e, portanto, virtuoso a partir do saber. Assumiu-se uma busca pela verdade através da absolutização da forma. Posteriormente, essa submissão foi reforçada pelo cristianismo medieval.
Segundo GONTIJO (2006)

Assim, retirar Apolo ou Dionísio da tragédia significa condenar-lhe ao acaso. Sem Apolo ela perde seu caráter mimético – ilusório e deixa de ser arte, pois sem a medida apolínea ela retorna ao seu estado primitivo de ritual dionisíaco, no qual os instintos vitais eram vivamente celebrados. Por outro lado, sem Dionísio (e sem música) a tragédia perde seu vigor e deixa de ser uma expressão da vida, pois torna-se expressão da forma, da métrica e, consequentemente, da supremacia da razão, o que, para Nietzsche, faz com que a tragédia perca seu status de arte.[...]

A partir dessa submissão, surge uma falsa moral, decadente, “de rebanho”, estabelecida por um sistema de juízos que considera o bem e o mal transcendentes e independentes da realidade em que habitamos. A origem dos valores não é mais questionada e, portanto, esquecida em busca de criações que se esvaem no tempo e no espaço, necessitando serem revistas e reavaliadas. 
O resultados dessa moral decadente, como bem sabemos, foi uma uniformização e acomodação humana e, por consequência, o niilismo que se traduz em um sentimento de impotência e desencantamento pela vida. O niilismo, lógica da decadência, portanto, entendido como um estado patológico, pode ser visto como desencantamento que caminha para a perda do sentido da existência humana, em que sentimentos de medo, insegurança e descrença geram um pessimismo diante de um esvaziamento do sentido da própria existência, uma força que pode ser o ponto de partida para a revisão dos conceitos estáticos descritos na tradição filosófica e tanto criticados por Nietzsche. Esse processo, torna-se, portanto, o ponto de partida para a transvaloração de valores. Somente a partir dele é que podemos construir valores a partir daqueles que não mais nos servem. A necessidade por novos horizontes, por novas perspectivas, deve partir do vazio, da falta de qualquer um deles.
A transvaloração dos valores, citada outrora pelo autor, leva-nos a buscar respostas além da física, do mundo, uma busca de princípios universais que fundamentam a nossa existência e que, por vezes, se tornam metafísicos. Essa busca nos leva a uma verdade autônoma que nos daria segurança e conforto. Mas, que verdade é essa? O próprio autor reflete sobre essa verdade, uma vontade de verdade, que surge da impotência da vontade de criar daquele que nega a decisão e por isso quer certezas e estabilidade, que lança sobre tudo um olhar pessimista por não conseguir satisfazer suas próprias vontades e o leva a nada mais querer, ao niilismo existencial. Busca-se noutro mundo aquilo que não se tem...
A “transvaloração de todos os valores”, sugerida por Nietzsche, refere-se à coragem de erigir novos e humanos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana numa perspectiva de resgatar as forças vitais, a própria vontade de poder, poder como virtude, um domínio sobre si mesmo, o despertar das capacidades humanas, das forças vitais adormecidas.
É interessante mencionar que, niilista, Nietszche percebe a decadência como algo bom, em seu livro “Vontade de Potência – Ensaio de uma transmutação de todos os valores”, ele afirma que “O fenômeno da decadência é tão necessário como o desabrochamento e o progresso da vida: Não possuímos meios que suprimam esse fenômeno. Ao contrário, a razão exige que lhes deixemos seus direitos.” É o simples processo de evolução da humanidade, ordem “[...] necessária e peculiar a cada época.”

PARTE II - A obra "Assim falou Zaratustra" - O super homem

Nietzsche ao anunciar a morte de Deus considera o progressivo desaparecimento na cultura do homem moderno de todas as filosofias, religiões ou ideologias que antes o iludiam e serviam para consolá-lo. O super-homem não necessita mais de ilusões tranquilizadoras porque o espírito dionisíaco aceita a vida com o seu caos intrínseco e ausência de sentido. Essa atitude propõe ao homem um novo estado e condição, em que haja alegria em aceitar a vida na sua totalidade e, também a morte.  Matar Deus significa libertar-se das cadeias do mundo sobrenatural, ser capaz de viver sem falsas esperanças.
O super-homem, para Nietzsche, é aquele que se permite ir além da racionalidade, que despreza todo valor ético inerente a princípios religiosos, ao viver em um mundo dionisíaco, que reconhece a ilusão contida em todas as filosofias e que consegue perceber o tempo como um eterno retorno.

Na ideia de super-homem, a verdade só pode ser compreendida em uma experiência original do pensamento que se pode experimentar, colocando o homem no controle de sua existência em busca de excelência. A vida passa a ser amada, pois o homem se assume como ele é, em sua condição corpórea, mundana, finita e histórica, mas que pode através da coragem superar-se, tornando-se cada vez mais forte.
Nietzsche através do personagem Zaratustra, destaca que o homem atual, é somente uma corda estendida sobre um abismo, entre a sua origem imperfeita, irracional, submissa e a possibilidade de superação de si mesmo, ou seja, de tornar-se super-homem.
Para o filósofo essa travessia é perigosa, pois implica ao homem uma profunda mudança da sua condição humana. O super-homem é aquele que é capaz de escutar a voz do corpo, da natureza e dos instintos, de desprezar a atual condição humana que busca incessantemente a felicidade ao procurar andar segundo princípios morais, racionais, religiosos, éticos, que para ele são obstáculos que devem ser transpassados, a fim de alcançar a si mesmo.
Nietzsche exalta aquele que age intensamente que se lança na sua humanidade, e unindo-se a natureza se torna mais Homem, que se arrisca para transpor a sua condição inferior, que rompe com a tradição para a construção do futuro nesse mundo em que vive, desprezando qualquer “fantasia” de um além-mundo.
O super-homem, para o filósofo, é aquele que trabalha para alcançar seu próprio aperfeiçoamento, negando sua condição atual, ele é capaz de extrair de si os valores morais, criticando-os e superando-os, pois inverte o modo de pensar normal, destruindo o que se é atualmente, colocando toda a sua vontade e toda a sua ação ao serviço da grandeza humana.

Nietzsche enaltece aquele que negando voluntariamente o homem atual anuncia a vinda do Super-Homem.

PARTE III - A importância da obra

“Assim falou Zaratustra” é considerada a obra mais célebre de Nietzsche. Desde seu lançamento o texto instiga e divide os críticos, e sua influência transcende muito além da filosofia, inspirando autores como Carl Jung e Thomas Mann.  É uma obra escrita diferentemente dos livros convencionais de filosofia, e extremamente absoluta, necessitando de muito cuidado e interpretação.  O livro trata de temas que estão presentes em toda a sua obra, no entanto estão escritos nesta obra de forma musical, poética, quase mística, com parábolas, cantos e imagens rebuscadas. Com todas essas características o livro é marcado por ser uma obra que todos podem ler, porém pouquíssimos conseguem entender.  
Nesta época a Europa era marcada pelo orientalismo e Nietzsche teve acesso a lenda de Zoroastro, profeta persa que viveu entre os séculos XII e VI a.C.  O bem e o mal na filosofia de Zoroastro são forças que lutam entre si, sendo os primeiros inventores da moral e responsável por levá-lo ao mundo metafísico, universal. Nietzsche tem a intensão de proporcionar um novo sentindo a esses ideais.
Nietzsche gastou dez dias para escrever cada parte do seu livro. A primeira parte foi escrita em fevereiro de 1883, com profundo sofrimento, em julho é escrito a segunda parte, em janeiro de 1884 concluiu a terceira parte e um ano depois escreveu a quarta parte. O editor recusou-se a imprimir sua obra, pois preferia folhetos antissemitas e religiosos, sendo assim, Nietzsche custeou seu próprio livro.
Essa obra é vista por muitos autores como fruto de uma composição musical, uma sinfonia composta em quatro partes. Mahler definiu Zaratustra como uma nascida dentro do espírito musical. Alguns há definiram como um texto sagrado (Nietzsche o chamou de quinto evangelho) ou uma paródia deles, pois assim como Jesus e Buda que deram seus ensinamentos através da fala, Zaratustra não deixa nada escrito para seus seguidores.
“Assim falou Zaratustra” é considerada uma das maiores críticas feitas aos valores ocidentais.  Podendo ser compreendido como uma recusa aos valores e ideias de que se orgulha o homem moderno. Nietzsche mostrou a necessidade de se romper com os valores morais, o niilismo que se propagava nas instituições: na educação e na política.  Esse filósofo queria instigar o homem a romper com os ídolos, tornar-se um leão para criar novos valores.  Com esse livro Nietzsche proporciona um recomeço ao homem, possibilitando ao espírito transformar-se em criança.
Nietzsche tem o propósito de transmitir uma filosofia positiva. O livro tem como ideia principal o super-homem. Para ele, “o homem é algo que deve ser superado, é uma ponte, não um fim”.

Essa obra é considerada uma antítese à Bíblia, sendo Zaratustra antagônico de Jesus. Através dela houve a desconstrução da metafisica, Nietzsche escreve o evangelho do super-homem com o objetivo de anunciar um novo tempo, no qual Deus morreu e o homem tem sede de assumir o poder na totalidade, tendo assim que assumir também as consequências morais e éticas de um mundo sem Deus.  Zaratustra tem o propósito de ensinar o homem o caminho da liberdade e de como se tornar senhor de si mesmo. Seu principal ensinamento é que a dor e o sofrimento faz parte da vida e que viver é um processo contínuo de libertação.

REFERÊNCIAS

Informações disponíveis em:

GONTIJO. Fernanda Belo. O apolíneo e dionisíaco como manifestações da arte e da vida. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/existenciaearte/ Edicoes/2_Edicao/O%20APOLiNEO%20E%20DIONISiACO%20COMO%20MANIFESTACOES%20DA%20ARTE%20E%20DA%20VIDA%20%20Fernanda%20Belo%20Gontijo.pdf. Acesso em 27 set. 2016.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5 ed. revista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. Pág.146-147.

NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. 1 ed. São Paulo: Globo, 2005. Pág.416-417.

https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/assim-falou-zaratustra/

http://classroom.orange.com/pt/assim-falou-zaratustra-nietzsche.html#document_ content