quinta-feira, 29 de setembro de 2016

PARTE I - Contexto histórico de Nietszche


Friedrich Wilhelm NIETZSCHE, alemão nascido em Röcken em 15 de outubro de 1844 e falecido em 25 de agosto de 1900, tornou-se um dos mais importantes filósofos do século XIX ao realizar sua crítica a partir de uma revisão da moral ocidental, compartilhando a necessidade da destruição das ilusões da certeza racionalista configurando assim, na crise da sociedade moderna.
Filho de família protestante cresceu direcionado à vocação, mas distanciou-se dessa caminhada ao chegar à adolescência e iniciar seus estudos em Filologia – Estudo da História Linguística. Filósofos como Platão, Ésquilo, Schiller, Hölderlin, Byron e Schopenhauer conduziram seu pensamento pelo caminho filosófico. 
Nessa crítica, que abarca toda a tradição filosófica iniciada em Platão e seguida até Hegel, há, segundo o próprio filósofo, toda uma história de um erro, erro esse que se percebe desde a origem do domínio da moral, em que, através de seus estudos, é possível verificar os elementos que possibilitaram a sua aceitação e as motivações que levaram os indivíduos a se submeterem, reproduzirem e perpetuarem certos princípios morais.
Tudo iniciou-se na tragédia grega, na relação entre os princípios apolíneos e dionisíacos. Para entendermos melhor, é preciso compreender seus respectivos deuses: Apolo, deus da razão e da clareza, da ordem e da harmonia e Dionísio, deus do instinto, da vida, da metamorfose, da desmedida. Para Nietzsche, ao afirmar a excelência da razão entre os instintos, Sócrates criou a oposição entre dois princípios, que marca o fim da tragédia grega, pelo domínio da razão sobre os instintos a que foram submetidos. Tudo deveria ser inteligível para ser belo e, portanto, virtuoso a partir do saber. Assumiu-se uma busca pela verdade através da absolutização da forma. Posteriormente, essa submissão foi reforçada pelo cristianismo medieval.
Segundo GONTIJO (2006)

Assim, retirar Apolo ou Dionísio da tragédia significa condenar-lhe ao acaso. Sem Apolo ela perde seu caráter mimético – ilusório e deixa de ser arte, pois sem a medida apolínea ela retorna ao seu estado primitivo de ritual dionisíaco, no qual os instintos vitais eram vivamente celebrados. Por outro lado, sem Dionísio (e sem música) a tragédia perde seu vigor e deixa de ser uma expressão da vida, pois torna-se expressão da forma, da métrica e, consequentemente, da supremacia da razão, o que, para Nietzsche, faz com que a tragédia perca seu status de arte.[...]

A partir dessa submissão, surge uma falsa moral, decadente, “de rebanho”, estabelecida por um sistema de juízos que considera o bem e o mal transcendentes e independentes da realidade em que habitamos. A origem dos valores não é mais questionada e, portanto, esquecida em busca de criações que se esvaem no tempo e no espaço, necessitando serem revistas e reavaliadas. 
O resultados dessa moral decadente, como bem sabemos, foi uma uniformização e acomodação humana e, por consequência, o niilismo que se traduz em um sentimento de impotência e desencantamento pela vida. O niilismo, lógica da decadência, portanto, entendido como um estado patológico, pode ser visto como desencantamento que caminha para a perda do sentido da existência humana, em que sentimentos de medo, insegurança e descrença geram um pessimismo diante de um esvaziamento do sentido da própria existência, uma força que pode ser o ponto de partida para a revisão dos conceitos estáticos descritos na tradição filosófica e tanto criticados por Nietzsche. Esse processo, torna-se, portanto, o ponto de partida para a transvaloração de valores. Somente a partir dele é que podemos construir valores a partir daqueles que não mais nos servem. A necessidade por novos horizontes, por novas perspectivas, deve partir do vazio, da falta de qualquer um deles.
A transvaloração dos valores, citada outrora pelo autor, leva-nos a buscar respostas além da física, do mundo, uma busca de princípios universais que fundamentam a nossa existência e que, por vezes, se tornam metafísicos. Essa busca nos leva a uma verdade autônoma que nos daria segurança e conforto. Mas, que verdade é essa? O próprio autor reflete sobre essa verdade, uma vontade de verdade, que surge da impotência da vontade de criar daquele que nega a decisão e por isso quer certezas e estabilidade, que lança sobre tudo um olhar pessimista por não conseguir satisfazer suas próprias vontades e o leva a nada mais querer, ao niilismo existencial. Busca-se noutro mundo aquilo que não se tem...
A “transvaloração de todos os valores”, sugerida por Nietzsche, refere-se à coragem de erigir novos e humanos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana numa perspectiva de resgatar as forças vitais, a própria vontade de poder, poder como virtude, um domínio sobre si mesmo, o despertar das capacidades humanas, das forças vitais adormecidas.
É interessante mencionar que, niilista, Nietszche percebe a decadência como algo bom, em seu livro “Vontade de Potência – Ensaio de uma transmutação de todos os valores”, ele afirma que “O fenômeno da decadência é tão necessário como o desabrochamento e o progresso da vida: Não possuímos meios que suprimam esse fenômeno. Ao contrário, a razão exige que lhes deixemos seus direitos.” É o simples processo de evolução da humanidade, ordem “[...] necessária e peculiar a cada época.”

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