terça-feira, 20 de junho de 2017

PARTE III - RELAÇÃO HÓSPEDE X INIMIGO - HOSPITALIDADE X HOSTIL

O homem hospitaleiro consiste em ser gentil, o qual prepara o ambiente para receber o próximo. Esse termo está associado à cortesia, respeito e educação. O respeito às diferenças e a alteridade é fundamental no desenvolvimento desta prática.
No entanto, o termo hospitalidade possui uma ligação com a palavra hostilidade.  Hostilidade significa receber o estranho ou o inimigo, na qual desperta o sentimento de desconfiança com visitante. Com isto, a nossa linguagem sempre estará direcionada para lembrar ao visitante que ele não faz parte deste ambiente.
Ao longo de nossas vidas somos hospedeiros de hóspede parasita que nos habitam, e através de nosso comodismo aceitamos até o momento em que não nos tirem da zona de conforto. Os seres humanos, quando não tem vontade ou não podem lidar com os estranhos habitantes, simplesmente o obedecem e deixam fazer morada em seu lar, como se a casa fosse deles. O estranho também tem a função de nos estimular a sair de nossas rotinas, quando nos incomoda e nos perturba. Assim, nos permite encontrar outra perspectiva no nosso próprio ser. O fato de sermos confrontados pelo estranho nos faz com que nos tornemos estrangeiros dos nossos próprios costumes.
O hóspede não possui os nossos costumes e nem se expressa com o mesmo idioma. Mas, é recebido por nós através do dever moral, como ser fosse uma norma ética a ser cumprida.    
Derrida, na leitura dos textos platônicos, cita a acolhida de dois tipos de estrangeiros. O primeiro é aquele que fala nossa língua, possui boas referências familiares e tem um estatuto social. O segundo são os bárbaros, que falam um idioma diferente, que possuem um mal cheiro, tem hábitos alimentares diferentes, não tem estatuto social e nem documentos. No primeiro caso temos o estrangeiro acolhido e no segundo caso o rejeitado. O primeiro estrangeiro se refere àquilo que eu posso ser, como sujeito de legislação, já o segundo estrangeiro é irreconhecível, não e nada e nem ninguém. A distinção se apresenta entre o hóspede e o hostil, entre o hospedado e o hostilizado, ou seja, aquele em que eu me reconheço e aquele que é rejeitado por suas diferenças.
Para Levinas, devemos servir ao estrangeiro sem questionar suas origens, pois me constitui o ser que sou. Assim, me torno responsável pelo estrangeiro, pois é minha responsabilidade ética. Com isto, para esse autor a hospitalidade molda o nosso ser, fazendo parte de nossa essência. Essa responsabilidade ética é consequência por sermos seres sociais que necessitam viver em comunidade.
A hospitalidade, no pensamento de Levinas, está muito associada aos personagens bíblicos, aos pobres, às viúvas e aos órfãos. O acolhimento neste contexto é independente da localização geográfica, da origem, da cultura e entre outros, pois a hospitalidade é servir o próximo sem questionar e é incondicional, e se encontra muito além da caridade e dos bons costumes.

No pensamento de Derrida, esse dever ético é uma obrigatoriedade com aquele que o constitui e recebe uma hostilidade pura e incondicional. O estrangeiro não pode sentir o diferente em minha casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário