quarta-feira, 27 de junho de 2018

PARTE III – Capítulos 9 a 12


Capítulo 9 - A prática da filosofia no Estado Novo
O Estado Novo ergue-se em um clima de ingenuidade, como se a conjuntura universal não falasse sobre o que somos enquanto seres que vivem num contexto histórico. O discurso filosófico é gerado a partir de reflexões políticas, em uma associação de interesses entre a verdade e a afirmação social.

Os instrumentalizadores da filosofia, dentro do espírito da cultura brasileira, tratam as ideias não a serviço da explicitação de nossa historicidade, mas a serviço de uma aparência que conservava a ideia de um governo forte, como o de Vargas, que encarnava o nacionalismo.
O movimento escolanovista buscava nas ciências o caminho seguro para se chegar ao objetivo final da educação, através de uma pedagogia e psicologia científica. Esse pensamento reforçava a subordinação à ordem política que vê em um regime forte a possibilidade de se alcançar eficiência e utilidade.
Enquanto uma visão pragmática direciona o homem para uma sociedade democrática e capitalista, o positivismo contribuía para justificar a ditadura.Os pensadores que aparecem nesse período, para sobreviverem, subordinam-se ao Estado Novo, em um regime ditatorial.

Capítulo 10 - Verdade e consciência em Alvaro Vieira Pinto
Vieira Pinto pretende colocar a ideia de que, “ou aceitamos a inteira responsabilidade pela interpretação de nossa realidade, ou continuaremos orbitando no conjunto dos países avançados do mundo”.
Vieira ignora e despreza toda a tradição filosófica Ocidental, a fim de construir um discurso original. Ele trata com certo desprezo a dissertação acadêmica, combatendo-a. Sua obra Consciência e realidade nacional é dedicada à tarefa de pensar o desenvolvimento nacional, partindo do princípio da necessidade de uma reconstrução do pensamento tradicional filosófico, a fim de reler o subdesenvolvimento e a miséria existencial decorrente dele.
Vieira Pinto enfatiza o mundo enquanto realidade nacional. Ele pensou a realidade brasileira sem considerar o sentido global da ordem econômico-social e do pensamento, acabando por obscurecer sua percepção da contemporaneidade. “O que se postula é a existência de um pensamento autenticamente nacional, com uma diretriz de compreensão da realidade nacional como se esta devesse emergir enquanto singularidade no contexto da civilização ocidental”.
Para Vieira Pinto, uma consciência ingênua ou alienação é aquela destituída do sentido de ser nacional, que deve surgir a partir do “despertar das massas para a necessidade de superação do estado de subdesenvolvimento”. Ele engajou-se em estabelecer um quadro de referência para o desenvolvimento nacional, como “verdade absoluta, a partir de um radicalismo reducionista”, em que não existe verdade fora do referente nacional.

Capítulo 11 - A Ideia de verdade no pensamento De Miguel Reale
Se em Kant o objeto será sempre para o entendimento, em Miguel Reale a existência do objeto é um pressuposto para o ato de experienciar. O eu transcendental deve ser concebido em sua natureza dinâmica, de uma realidade concreta, visível, perceptível, apreensível, não comandada pelo imperialismo da razão.
Para Reale deve-se levar em conta o condicionamento histórico-social em que todo conhecimento é produzido. Ele toma como tarefa a desconstrução do pensamento da razão kantiniana, pois esta se mostra insuficiente para uma teoria do conhecimento que leve em conta a totalidade de experiência humana.
Reale destaca que é necessário “fugir do idealismo e encontrar o sentido da concretude do pensar, a despeito de todas as contribuições do pensamento fenomenológico”.
Miguel Reale desloca a questão da relação sujeito-objeto para uma perspectiva da interação consciência-mundo, em que a consciência como intencionalidade exercerá papel importante na reiterada exigência da dialeticidade que tem como tarefa a interpretação de homem e da história, “na infinita abertura das suas manifestações”.

Capítulo 12 - A questão da educação no pensamento De Miguel Reale
“Para Miguel Reale, a essência do homem é o seu dever ser”. A existência humana é uma realização que acontece no âmbito da cultura, e nesse âmbito o homem se realiza através “das objetivações da intencionalidade da consciência”. O homem enquanto ser existencial é dever-ser, a experiência humana amplia o universo da cultura e é nesse universo de experiências que os sentidos da história e da própria presença no mundo são desvelados.
“Filosofia é educação”, pensar a educação brasileira é trazer à tona indicadores que são capazes de conceber o homem brasileiro enquanto presença situada historicamente. O universo cultural é o mais importante, Reale afirma que “o ser da pessoa humana tem essa especificidade radical, não só em relação aos demais entes, mas também no que concerne ao ser em geral”.
O homem se autorrevela em seu fazer histórico-cultural, na “descoberta e doação de sentidos ao originário mundo da vida”.“A relação sujeito-objeto é deslocada para o originário problema da interação consciência-mundo”.

O pensar filosófico, como a educação, não se esgota em si mesmo, pois sempre haverá muitos estímulos que o impulsione a educar-se e a transmitir aos outros essa educação. “Educar é, conduzir o indivíduo na trilha da autoconsciência para que ele se descubra como dever-ser, como valor-fonte de toda experiência possível”. Para Reale é função prioritária da educação conduzir o homem a assumir um lugar de autorreflexão, em um processo global de disposições que o torne capaz de harmonizar-se com o mundo da cultura.
Para Reale a educação deve levar o homem a se preocupar com o modo pelo qual “os objetos se tornam objetos para o entendimento humano”.
Ao afirmar que a essência do homem é o seu dever-ser, Reale indica que “a morada do homem é o espaço ético, a partir do qual ele realiza sua experiência histórica”. Partindo desse pressuposto, a educação deve ter como tarefa principal dar condições para que o educando “ingresse no espaço do dever-ser como lugar histórico da sua realização”.
“É necessário que o processo educacional abandone a prática do privilégio excessivo à pura e simples transmissão do conhecimento e se inscreva no trabalho de reflexão sobre o ser da pessoa humana que se pretende educar, na perspectiva de uma lógica que ultrapasse as fronteiras da fragmentariedade e da dispersão para atingir o horizonte englobante da cultura como único espaço de realização do homem na finitude da história”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário