O homem
hospitaleiro consiste em ser gentil, o qual prepara o ambiente para receber o
próximo. Esse termo está associado à cortesia, respeito e educação. O respeito às
diferenças e a alteridade é fundamental no desenvolvimento desta prática.
No
entanto, o termo hospitalidade possui uma ligação com a palavra
hostilidade. Hostilidade significa
receber o estranho ou o inimigo, na qual desperta o sentimento de desconfiança
com visitante. Com isto, a nossa linguagem sempre estará direcionada para
lembrar ao visitante que ele não faz parte deste ambiente.
Ao longo
de nossas vidas somos hospedeiros de hóspede parasita que nos habitam, e através
de nosso comodismo aceitamos até o momento em que não nos tirem da zona de
conforto. Os seres humanos, quando não tem vontade ou não podem lidar com os
estranhos habitantes, simplesmente o obedecem e deixam fazer morada em seu lar,
como se a casa fosse deles. O estranho também tem a função de nos estimular a
sair de nossas rotinas, quando nos incomoda e nos perturba. Assim, nos permite
encontrar outra perspectiva no nosso próprio ser. O fato de sermos confrontados
pelo estranho nos faz com que nos tornemos estrangeiros dos nossos próprios
costumes.
O hóspede
não possui os nossos costumes e nem se expressa com o mesmo idioma. Mas, é
recebido por nós através do dever moral, como ser fosse uma norma ética a ser
cumprida.
Derrida,
na leitura dos textos platônicos, cita a acolhida de dois tipos de estrangeiros.
O primeiro é aquele que fala nossa língua, possui boas referências familiares e
tem um estatuto social. O segundo são os bárbaros, que falam um idioma
diferente, que possuem um mal cheiro, tem hábitos alimentares diferentes, não
tem estatuto social e nem documentos. No primeiro caso temos o estrangeiro
acolhido e no segundo caso o rejeitado. O primeiro estrangeiro se refere àquilo
que eu posso ser, como sujeito de legislação, já o segundo estrangeiro é
irreconhecível, não e nada e nem ninguém. A distinção se apresenta entre o
hóspede e o hostil, entre o hospedado e o hostilizado, ou seja, aquele em que
eu me reconheço e aquele que é rejeitado por suas diferenças.
Para
Levinas, devemos servir ao estrangeiro sem questionar suas origens, pois me
constitui o ser que sou. Assim, me torno responsável pelo estrangeiro, pois é
minha responsabilidade ética. Com isto, para esse autor a hospitalidade molda o
nosso ser, fazendo parte de nossa essência. Essa responsabilidade ética é
consequência por sermos seres sociais que necessitam viver em comunidade.
A
hospitalidade, no pensamento de Levinas, está muito associada aos personagens
bíblicos, aos pobres, às viúvas e aos órfãos. O acolhimento neste contexto é
independente da localização geográfica, da origem, da cultura e entre outros,
pois a hospitalidade é servir o próximo sem questionar e é incondicional, e se
encontra muito além da caridade e dos bons costumes.
No
pensamento de Derrida, esse dever ético é uma obrigatoriedade com aquele que o
constitui e recebe uma hostilidade pura e incondicional. O estrangeiro não pode
sentir o diferente em minha casa.
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