quinta-feira, 29 de setembro de 2016

APRESENTAÇÃO

LABORATÓRIO DE ENSINO DE FILOSOFIA
PROF. JORGE AUGUSTO DA SILVA SANTOS


Para finalizarmos a disciplina de Laboratório de Ensino de Filosofia, foi proposto pelo professor Jorge Augusto um Seminário relacionado a um filósofo de interesse coletivo e um de seus textos mais expressivos.

A apresentação deste trabalho, portanto, se baseou na escolha do filósofo Friedrich NIETZSCHE e de um texto significativo de seu pensamento: ASSIM FALAVA ZARATUSTRA, presente no material disponível para consulta da semana, "Textos básicos de Filosofia - Danilo Marcondes” e o próprio livro do autor.

Apresentaremos aos diletos colegas, ao tutor presencial e ao tutor à distância o Contexto histórico global do pensador, o texto selecionado e a importância de sua obra na História da Filosofia.

O grupo é composto por Cristiani Lopes Silva, Gislayne da Penha Croce Ferreira, Kerly Nunes de Souza e Maria Elizabeth Ribeiro.

BOM ESTUDO A TODOS NÓS!

PARTE I - Contexto histórico de Nietszche


Friedrich Wilhelm NIETZSCHE, alemão nascido em Röcken em 15 de outubro de 1844 e falecido em 25 de agosto de 1900, tornou-se um dos mais importantes filósofos do século XIX ao realizar sua crítica a partir de uma revisão da moral ocidental, compartilhando a necessidade da destruição das ilusões da certeza racionalista configurando assim, na crise da sociedade moderna.
Filho de família protestante cresceu direcionado à vocação, mas distanciou-se dessa caminhada ao chegar à adolescência e iniciar seus estudos em Filologia – Estudo da História Linguística. Filósofos como Platão, Ésquilo, Schiller, Hölderlin, Byron e Schopenhauer conduziram seu pensamento pelo caminho filosófico. 
Nessa crítica, que abarca toda a tradição filosófica iniciada em Platão e seguida até Hegel, há, segundo o próprio filósofo, toda uma história de um erro, erro esse que se percebe desde a origem do domínio da moral, em que, através de seus estudos, é possível verificar os elementos que possibilitaram a sua aceitação e as motivações que levaram os indivíduos a se submeterem, reproduzirem e perpetuarem certos princípios morais.
Tudo iniciou-se na tragédia grega, na relação entre os princípios apolíneos e dionisíacos. Para entendermos melhor, é preciso compreender seus respectivos deuses: Apolo, deus da razão e da clareza, da ordem e da harmonia e Dionísio, deus do instinto, da vida, da metamorfose, da desmedida. Para Nietzsche, ao afirmar a excelência da razão entre os instintos, Sócrates criou a oposição entre dois princípios, que marca o fim da tragédia grega, pelo domínio da razão sobre os instintos a que foram submetidos. Tudo deveria ser inteligível para ser belo e, portanto, virtuoso a partir do saber. Assumiu-se uma busca pela verdade através da absolutização da forma. Posteriormente, essa submissão foi reforçada pelo cristianismo medieval.
Segundo GONTIJO (2006)

Assim, retirar Apolo ou Dionísio da tragédia significa condenar-lhe ao acaso. Sem Apolo ela perde seu caráter mimético – ilusório e deixa de ser arte, pois sem a medida apolínea ela retorna ao seu estado primitivo de ritual dionisíaco, no qual os instintos vitais eram vivamente celebrados. Por outro lado, sem Dionísio (e sem música) a tragédia perde seu vigor e deixa de ser uma expressão da vida, pois torna-se expressão da forma, da métrica e, consequentemente, da supremacia da razão, o que, para Nietzsche, faz com que a tragédia perca seu status de arte.[...]

A partir dessa submissão, surge uma falsa moral, decadente, “de rebanho”, estabelecida por um sistema de juízos que considera o bem e o mal transcendentes e independentes da realidade em que habitamos. A origem dos valores não é mais questionada e, portanto, esquecida em busca de criações que se esvaem no tempo e no espaço, necessitando serem revistas e reavaliadas. 
O resultados dessa moral decadente, como bem sabemos, foi uma uniformização e acomodação humana e, por consequência, o niilismo que se traduz em um sentimento de impotência e desencantamento pela vida. O niilismo, lógica da decadência, portanto, entendido como um estado patológico, pode ser visto como desencantamento que caminha para a perda do sentido da existência humana, em que sentimentos de medo, insegurança e descrença geram um pessimismo diante de um esvaziamento do sentido da própria existência, uma força que pode ser o ponto de partida para a revisão dos conceitos estáticos descritos na tradição filosófica e tanto criticados por Nietzsche. Esse processo, torna-se, portanto, o ponto de partida para a transvaloração de valores. Somente a partir dele é que podemos construir valores a partir daqueles que não mais nos servem. A necessidade por novos horizontes, por novas perspectivas, deve partir do vazio, da falta de qualquer um deles.
A transvaloração dos valores, citada outrora pelo autor, leva-nos a buscar respostas além da física, do mundo, uma busca de princípios universais que fundamentam a nossa existência e que, por vezes, se tornam metafísicos. Essa busca nos leva a uma verdade autônoma que nos daria segurança e conforto. Mas, que verdade é essa? O próprio autor reflete sobre essa verdade, uma vontade de verdade, que surge da impotência da vontade de criar daquele que nega a decisão e por isso quer certezas e estabilidade, que lança sobre tudo um olhar pessimista por não conseguir satisfazer suas próprias vontades e o leva a nada mais querer, ao niilismo existencial. Busca-se noutro mundo aquilo que não se tem...
A “transvaloração de todos os valores”, sugerida por Nietzsche, refere-se à coragem de erigir novos e humanos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana numa perspectiva de resgatar as forças vitais, a própria vontade de poder, poder como virtude, um domínio sobre si mesmo, o despertar das capacidades humanas, das forças vitais adormecidas.
É interessante mencionar que, niilista, Nietszche percebe a decadência como algo bom, em seu livro “Vontade de Potência – Ensaio de uma transmutação de todos os valores”, ele afirma que “O fenômeno da decadência é tão necessário como o desabrochamento e o progresso da vida: Não possuímos meios que suprimam esse fenômeno. Ao contrário, a razão exige que lhes deixemos seus direitos.” É o simples processo de evolução da humanidade, ordem “[...] necessária e peculiar a cada época.”

PARTE II - A obra "Assim falou Zaratustra" - O super homem

Nietzsche ao anunciar a morte de Deus considera o progressivo desaparecimento na cultura do homem moderno de todas as filosofias, religiões ou ideologias que antes o iludiam e serviam para consolá-lo. O super-homem não necessita mais de ilusões tranquilizadoras porque o espírito dionisíaco aceita a vida com o seu caos intrínseco e ausência de sentido. Essa atitude propõe ao homem um novo estado e condição, em que haja alegria em aceitar a vida na sua totalidade e, também a morte.  Matar Deus significa libertar-se das cadeias do mundo sobrenatural, ser capaz de viver sem falsas esperanças.
O super-homem, para Nietzsche, é aquele que se permite ir além da racionalidade, que despreza todo valor ético inerente a princípios religiosos, ao viver em um mundo dionisíaco, que reconhece a ilusão contida em todas as filosofias e que consegue perceber o tempo como um eterno retorno.

Na ideia de super-homem, a verdade só pode ser compreendida em uma experiência original do pensamento que se pode experimentar, colocando o homem no controle de sua existência em busca de excelência. A vida passa a ser amada, pois o homem se assume como ele é, em sua condição corpórea, mundana, finita e histórica, mas que pode através da coragem superar-se, tornando-se cada vez mais forte.
Nietzsche através do personagem Zaratustra, destaca que o homem atual, é somente uma corda estendida sobre um abismo, entre a sua origem imperfeita, irracional, submissa e a possibilidade de superação de si mesmo, ou seja, de tornar-se super-homem.
Para o filósofo essa travessia é perigosa, pois implica ao homem uma profunda mudança da sua condição humana. O super-homem é aquele que é capaz de escutar a voz do corpo, da natureza e dos instintos, de desprezar a atual condição humana que busca incessantemente a felicidade ao procurar andar segundo princípios morais, racionais, religiosos, éticos, que para ele são obstáculos que devem ser transpassados, a fim de alcançar a si mesmo.
Nietzsche exalta aquele que age intensamente que se lança na sua humanidade, e unindo-se a natureza se torna mais Homem, que se arrisca para transpor a sua condição inferior, que rompe com a tradição para a construção do futuro nesse mundo em que vive, desprezando qualquer “fantasia” de um além-mundo.
O super-homem, para o filósofo, é aquele que trabalha para alcançar seu próprio aperfeiçoamento, negando sua condição atual, ele é capaz de extrair de si os valores morais, criticando-os e superando-os, pois inverte o modo de pensar normal, destruindo o que se é atualmente, colocando toda a sua vontade e toda a sua ação ao serviço da grandeza humana.

Nietzsche enaltece aquele que negando voluntariamente o homem atual anuncia a vinda do Super-Homem.

PARTE III - A importância da obra

“Assim falou Zaratustra” é considerada a obra mais célebre de Nietzsche. Desde seu lançamento o texto instiga e divide os críticos, e sua influência transcende muito além da filosofia, inspirando autores como Carl Jung e Thomas Mann.  É uma obra escrita diferentemente dos livros convencionais de filosofia, e extremamente absoluta, necessitando de muito cuidado e interpretação.  O livro trata de temas que estão presentes em toda a sua obra, no entanto estão escritos nesta obra de forma musical, poética, quase mística, com parábolas, cantos e imagens rebuscadas. Com todas essas características o livro é marcado por ser uma obra que todos podem ler, porém pouquíssimos conseguem entender.  
Nesta época a Europa era marcada pelo orientalismo e Nietzsche teve acesso a lenda de Zoroastro, profeta persa que viveu entre os séculos XII e VI a.C.  O bem e o mal na filosofia de Zoroastro são forças que lutam entre si, sendo os primeiros inventores da moral e responsável por levá-lo ao mundo metafísico, universal. Nietzsche tem a intensão de proporcionar um novo sentindo a esses ideais.
Nietzsche gastou dez dias para escrever cada parte do seu livro. A primeira parte foi escrita em fevereiro de 1883, com profundo sofrimento, em julho é escrito a segunda parte, em janeiro de 1884 concluiu a terceira parte e um ano depois escreveu a quarta parte. O editor recusou-se a imprimir sua obra, pois preferia folhetos antissemitas e religiosos, sendo assim, Nietzsche custeou seu próprio livro.
Essa obra é vista por muitos autores como fruto de uma composição musical, uma sinfonia composta em quatro partes. Mahler definiu Zaratustra como uma nascida dentro do espírito musical. Alguns há definiram como um texto sagrado (Nietzsche o chamou de quinto evangelho) ou uma paródia deles, pois assim como Jesus e Buda que deram seus ensinamentos através da fala, Zaratustra não deixa nada escrito para seus seguidores.
“Assim falou Zaratustra” é considerada uma das maiores críticas feitas aos valores ocidentais.  Podendo ser compreendido como uma recusa aos valores e ideias de que se orgulha o homem moderno. Nietzsche mostrou a necessidade de se romper com os valores morais, o niilismo que se propagava nas instituições: na educação e na política.  Esse filósofo queria instigar o homem a romper com os ídolos, tornar-se um leão para criar novos valores.  Com esse livro Nietzsche proporciona um recomeço ao homem, possibilitando ao espírito transformar-se em criança.
Nietzsche tem o propósito de transmitir uma filosofia positiva. O livro tem como ideia principal o super-homem. Para ele, “o homem é algo que deve ser superado, é uma ponte, não um fim”.

Essa obra é considerada uma antítese à Bíblia, sendo Zaratustra antagônico de Jesus. Através dela houve a desconstrução da metafisica, Nietzsche escreve o evangelho do super-homem com o objetivo de anunciar um novo tempo, no qual Deus morreu e o homem tem sede de assumir o poder na totalidade, tendo assim que assumir também as consequências morais e éticas de um mundo sem Deus.  Zaratustra tem o propósito de ensinar o homem o caminho da liberdade e de como se tornar senhor de si mesmo. Seu principal ensinamento é que a dor e o sofrimento faz parte da vida e que viver é um processo contínuo de libertação.

REFERÊNCIAS

Informações disponíveis em:

GONTIJO. Fernanda Belo. O apolíneo e dionisíaco como manifestações da arte e da vida. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/existenciaearte/ Edicoes/2_Edicao/O%20APOLiNEO%20E%20DIONISiACO%20COMO%20MANIFESTACOES%20DA%20ARTE%20E%20DA%20VIDA%20%20Fernanda%20Belo%20Gontijo.pdf. Acesso em 27 set. 2016.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5 ed. revista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. Pág.146-147.

NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. 1 ed. São Paulo: Globo, 2005. Pág.416-417.

https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/assim-falou-zaratustra/

http://classroom.orange.com/pt/assim-falou-zaratustra-nietzsche.html#document_ content

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SEMANA 6 - CIÊNCIA CLÁSSICA E PARADIGMAS NÃO-CLÁSSICOS NA CIÊNCIA: O SIGNIFICADO DAS QUALIDADES SECUNDÁRIAS NA NATUREZA

CIÊNCIA CLÁSSICA E PARADIGMAS NÃO-CLÁSSICOS NA CIÊNCIA: O SIGNIFICADO DAS QUALIDADES SECUNDÁRIAS NA NATUREZA


Nesta semana refletimos sobre a perspectiva do homem ou da experiência humana enquanto fora do contexto de justificação e possibilidade do conhecimento científico da natureza. O ideal de matematização do conhecimento da realidade toma o lugar do mundo de qualidades e diversidade da experiência humana - objetividade e subjetividade são realidades inconciliáveis quanto ao conhecimento da natureza.

A partir do século XX, a ciência procura a diversidade e a riqueza qualitativa da natureza em relação ao ponto de vista da experiência humana e já não se vê tão nitidamente a distinção entre realidade objetiva e subjetividade. Introduz-se os termos 'ciência clássica e paradigma não-clássico', e torna-se necessário avaliar a natureza humana e o conhecimento a partir das qualidades secundárias na natureza.   

Para tanto, três questões fundamentais foram apresentadas:

1)     O que se entende por problema das qualidades secundárias em relação ao conhecimento da realidade dos objetos físicos no mundo?
2)     Quais são as principais características da ciência clássica em relação ao conhecimento da natureza e que papel tem a matemática nesse contexto?
3)     Como Galileo vê as qualidades secundárias e por que elas não podem figurar no domínio matemático do conhecimento da natureza? 

Argumentando...




1. Os filósofos de diversas épocas sempre procuraram encontrar a origem do conhecimento. Seria proveniente do pensamento ou das experiências? Se considerarmos que o conhecimento é um pensamento ou intuição intelectual, estaríamos apontando para o racionalismo, se, no entanto, se a experiência for dita como princípio do conhecimento, estaríamos apontando para o empirismo.

Sobre o conhecimento da realidade, acreditamos conhecer porque trazemos uma tradição, experiências relativas à nossa vivência tais como pensamentos, impressões ou sentimentos que partem das experiências sensoriais. Mas como saber se esse conhecimento se baseia no real ou nas aparências?

A qualidades secundárias são subjetivas, ou seja, são entendidas de acordo com a perspectiva de cada um, apesar de serem, por vezes, confundidas com sensação - capacidade cognitiva - e propriedade - atributo de objetos que independem das nossas experiências.

Para resolver o problema das qualidade secundárias, torna-se necessário atravessar o campo da aparência - do que se aparenta ser - e encontrar o conhecimento através da realidade do mundo e isso só acontece através dos critérios da ciência, pois os mesmos não lidam com a aparência e sim com a própria realidade, objetiva. Somente através do intelecto alcançamos o que o mundo apresenta, para além das experiências sensoriais - atomismo.

2. Com o pensamento moderno, houve a dominação da natureza e essa passa a submeter-se ao homem e a ciência passa a basear-se na observação e no experimento, na tentativa de compreender, explicar e controlar a natureza. O mundo passa a ser explicado racionalmente.

A realidade da natureza torna-se representada pela linguagem matemática tal como um conjunto de regras e leis que garantem o seu funcionamento e previsibilidade, afinal, onde existe ordem existe lei.

As interpretações subjetivas são afastadas dessa nova concepção, e, mais uma vez a experiência humana destoa do conhecimento da natureza, dando espaço às quantidades, grandezas e noções matemáticas. As leis tornam-se universalmente necessárias e válidas.

3. Galileu vem, com sua ciência moderna pautada na linguagem matemática, discorrer sobre as qualidades primárias, existentes independente das experiências sensoriais e aplicadas aos objetos e às propriedades secundárias dos objetos que nada mais é do que o efeito produzido em nossas experiências pela ação das qualidades primárias, sendo subjetivas e relativas às experiências sensoriais, afirmando que há uma grande diferença entre o que mutável e imutável, objetivo e variável. Nessa visão mecanicista, o verdadeiro conhecimento precisa se afastar dos sentidos, podendo ser descrito matematicamente e independentes da aparência subjetiva.


Assistam conosco sobre Galileu e sua ciência!


Segue uma Excelente animação explicando o experimento mental e paradoxal conhecido como "o gato de Schrödinger".

SEMANA 5 - LÓGICA MATEMÁTICA

LÓGICA MATEMÁTICA


Nesta semana, o surgimento da lógica matemática e seus apontamentos para o pensamento contemporâneo foi o ponto de destaque!
A iniciar por Galileu e, em particular, Descartes, a lógica era entendida simplesmente como exercício de raciocínio e destituída de significado como instrumento de descoberta científica. Ambos, Galileu e Descartes, exerciam a matemática como modelo de conhecimento. Mas a lógica era percebida de forma diferente da estrutura da lógica aristotélica. Ela se mostra um sistema de símbolos artificiais e destituídos de conteúdo de pensamento exatamente como são os símbolos lógicos e matemáticos.
O alemão Johann Gottlob Frege ilustrou de forma ideal a fundamentação lógica da matemática e a justificativa científica de uma linguagem simbólica e cuja influência é significativa ao longo do Século XX como veremos a seguir.


Friedrich Ludwig Gottlob Frege (1848-1925) inovou de forma substancial a lógica matemática. Admitindo apenas o verdadeiro e o falso como valores lógicos e fazendo uso de uma linguagem natural, a lógica clássica não atendia as perspectivas de Frege. Como uma recusa às teses modernas sobre a significação dos termos presentes na linguagem, Frege contrapõe a visão da tradição filosófica do papel das ideias ou representações mentais no processo de significação. Idealizou uma linguagem artificial e sintética que poderia aprimorar as ciências e o pensamento, validando as deduções e permitindo um raciocínio seguro - Ideografia.

A lógica formal ou Aristotélica consistia numa abordagem das categorias e princípios pelos quais pensamos sobre as coisas, através da estrutura formal, ou seja, sua validação se torna verdadeira a partir da sua forma de raciocínio e independe da verdade de seu conteúdo ou conceito e, para tanto, os dados podem ser substituídos por variáveis indeterminadas. A partir dessa abstração do conteúdo, apresenta-se pela lógica das proposições, pela lógica do raciocínio e pela lógica do conceito. A lógica aristotélica é formal relativa à forma como o pensamento é representada por suas leis silogísticas, no entanto, utiliza alguns termos que possuem ambiguidade e remetem-se à linguagem natural, como "pas” e "tis”, respectivamente todo e algum, em português. Isso levou ao estudo de sua lógica e ponderou-se sobre a constante lógica utilizada por Aristóteles ter um sentido natural, o que não se tornou definitivo.

Frege, iniciador da lógica moderna foi o primeiro a utilizar de forma moderna as varáveis e os quantificadores, o cálculo clássico dos enunciados. A lógica clássica distancia-se da gramática das línguas naturais e foi fundamental no suporte dos cálculos na lógica. A estrutura gramatical agora se fundamenta na "função” e no "argumento”, a primeira invariável e apta a receber conteúdos e o segundo variável e proposto a preencher as funções. A grande diferença dos prosdiorismos aristotélicos através da organização do conjunto da lógica.

Enquanto a lógica anterior estava fundamentada na análise gramatical das línguas naturais, a lógica fregeana estava voltada para um conjunto de sinais escritos de forma lógica que garantiam o seu fundamento e conteúdo, formalizada no pensamento puro, garantindo exatidão na dedução, trazendo apenas o essencial.


Como atividade prática e presencial, pesquisamos sobre os as inovações trazidas pelos matemáticos citados no glossário da apostila para o campo da lógica matemática e discutimos no momento de tutoria. Seguem alguns destaques:

George Boole

Foi o matemático britânico George Boole (1815-1864) que inventou um sistema de álgebra que é chave para a programação de hoje - conhecido como sistema booleano, álgebra de Boole ou álgebra booleana que esquematiza as operações lógicas, e está presente em todas as partes: desde a programação por trás dos videogames, até o código dos aplicativos e programas de computador que usamos.
Pode-se dizer que os tijolos que formam a programação, que são os comandos ou instruções dadas a um sistema informático, são todos baseados na lógica de Boole.


Ele estabeleceu o conceito de lógica algébrica em matemática e simplificou o mundo em enunciados básicos que tinham "sim" ou "não" como resposta, usando a aritmética básica nessa tarefa.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=homenagem-matematico-inventou-logica-booleana&id=020175151103


Auguste de Morgan
Em 1838, De Morgan definiu e introduziu o termo indução matemática - processo que já havia sido usado sem suficiente clareza e com pouco rigor matemático. Em 1849, publicou oTrigonometry and Double Algebra em que fez uma interpretação geométrica dos números complexos. Ele reconhecia a natureza puramente simbólica da Álgebra e estava ciente da existência de outras Álgebras. Ele introduziu as leis de De Morgan e sua contribuição mais significativa foi Formal Logic , obra na qual definiu uma reformulação da Lógica Matemática.Ele sabia da existência de álgebras diferentes da álgebra ordinária e contribuiu para o desenvolvimento da álgebra abstrata. Ele percebeu que indo da álgebra simples do sistema numérico, para a álgebra dupla dos complexos, as regras de operação permaneciam as mesmas. Ele acreditava que essas duas formas esgotavam os possíveis tipos de álgebras e que seria impossível desenvolver uma álgebra tripla ou quádrupla.
De Morgan escreveu trabalhos sobre os fundamentos de álgebra, calculo diferencial, lógica e teoria das probabilidades.
ecalculo.if.usp.br/historia/morgan.htm

 Charles Sanders Peirce
Um dos ensaios de Peirce, "Como fazer claras as nossas ideias", publicado em 1878, foi o primeiro esboço e marco fundador do pragmatismo. Para o filósofo, nossas crenças nada mais são do que normas para a ação. O estabelecimento de uma crença é o único fim de qualquer indagação ou processo racional, desde que se considere como crença um hábito ou regra de ação que, ainda que não conduza imediatamente a um ato, torna possível uma determinada conduta, na ocasião própria.
Dessa forma, para se desenvolver o conteúdo de uma ideia, basta determinar o comportamento que ela é capaz de suscitar, nisso residindo a sua significação. 
Peirce também foi um dos fundadores da semiótica contemporânea e da lógica das relações, mais tarde desenvolvida por Bertrand Russell. 

educacao.uol.com.br/biografias/charles-sanders-peirce.htm

Bertrand Russell


O ano de 1900 foi considerado, por este, o mais extraordinário de sua vida de letrado, teve a oportunidade de participar de um Congresso Internacional em Paris, na área da Filosofia, onde teve contato com as idéias de Giuseppe Peano, matemático italiano que em muito contribuiu para o avanço desta importante ciência. Na ocasião o tema abordado dizia respeito a lógica simbólica.
Foi uma oportunidade única em sua vida e que em muito contribuiu para a publicação de seu livro intitulado “Principles of Mathematics” , no ano de 1903, no qual sustentou a idéia de que as definições matemáticas se sustentam baseadas apenas em algumas premissas consideradas verdadeiras sem haver a necessidade de demonstração, bastando somente trilhar o caminho do raciocínio e entender quais operações são válidas.
Russell elaborou algumas das mais influentes teses filosóficas do século XX, e, com elas, ajudou a fomentar uma das suas tradições filosóficas, a assim chamada Filosofia Analítica. Dentre essas teses, destacam-se a tese logicista, ou da lógica simbólica, de fundamentação da Matemática. Segundo Russell, todas as verdades matemáticas - e não apenas as da aritmética, como pensava Gottlob Frege- poderiam ser deduzidas a partir de umas poucas verdades lógicas, e todos os conceitos matemáticos reduzidos a uns poucos conceitos lógicos primitivos.

Ludwig Wittgenstein

Seu pensamento é geralmente dividido em duas fases. Para identificá-las, muitos autores recorrem ao artifício de atribuir os escritos da juventude ao Primeiro Wittgenstein e a obra posterior ao Segundo Wittgenstein, À primeira fase, pertence o Tractatus Logico-Philosophicus, livro em que Wittgenstein procura esclarecer as condições lógicas que o pensamento e a linguagem devem atender para poder representar o mundo. À segunda fase, pertencem as Investigações Filosóficas, publicadas postumamente em 1953. Nesse livro, Wittgenstein trata de tópicos similares ao do Tractatus (embora sob uma perspectiva radicalmente diferente) e avança sobre temas da filosofia da mente ao analisar conceitos como o de compreensão, intenção, dor e vontade, umas perspectiva para os jogos de linguagem em que os entendimentos são múltiplos e variados, e atendem a finalidades diversas, com suas regras, convenções e finalidades próprias.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein

SEMANA 4 - A REVOLUÇÃO CARTESIANA

A REVOLUÇÃO CARTESIANA



Descartes é o primeiro filósofo moderno que centraliza o pensamento dando importância ao sujeito, um sujeito que se desprende da natureza a agora consegue se enxergar no mundo, mas que precisa de uma certeza.

Ele coloca em dúvida o mundo objetivo, externo ao sujeito, através da dúvida metódica, que questiona as "racionalidades insubmissas ao modelo matemático”, a fim de superar continuamente a dualidade corpo e alma.

A partir do "Penso, logo existo”, Descartes propõe uma solução para a questão da certeza quanto à própria existência humana, pois no momento em que estou pensando não posso duvidar de que existo.

No pensamento do filósofo o sujeito passa a ter uma grande importância na busca das respostas quanto às verdades do mundo. Para tanto a matemática torna-se um elemento fundamental na compreensão da natureza, que passa a ser representada a partir da forma matemática, além da retomada do platonismo.

Há uma busca pelo desvelar do sujeito ao se mostrar livre frente ao "reino da necessidade” representado pela natureza, pois aquele se contrapõe a este para estabelecer sua liberdade.

Nos estudos de anatomia do corpo humano, Descartes busca a compreensão do movimento, que o leva a conceber o homem como homem-máquina, em uma visão mecanicista que vê o corpo humano como uma máquina, pois para ele a única diferença entre o homem e um relógio está na força que os move, enquanto o relógio é movido por uma força externa a ele, o homem possui dentro de si a sua força motriz, ou seja, o ser pensante que não está presente no mundo físico.

Descartes também diferencia o corpo da alma, o corpo é a matéria física e a alma a matéria pensante, contudo ambos se relacionam a fim de compor uma mesma coisa, o ser humano. O filósofo traz uma nova perspectiva de homem e mundo, para ele o homem encontra-se só na imensidão do Universo, em uma compreensão de um Cosmos ordenado por leis físicas e matemáticas.
Kerly Nunes de Souza

A necessidade de explicar o mundo está presente em todas as épocas da humanidade. O que se altera é a forma como essa busca foi processada em cada período. Para os modernos, o conhecimento é relacionado não apenas com o sujeito que pensa, mas diz respeito à sua atuação prática na realidade.

Surge nesse sentido, dois modelos de conhecimento: o empirismo, em que as ideias são provenientes dos sentidos, das experiências e sensações e o racionalismo, em que o verdadeiro conhecimento é aquele que for logicamente necessário e válido.

Nesta última corrente filosófica, René Descartes (1596-1650) apresenta-se com grande destaque. Seu principal objetivo era revisar sistematicamente todos os seus conhecimentos à procura de toda forma de dúvida e/ou certezas inabaláveis, na tentativa de construir uma nova ciência. Esse método, desenvolvido por ele  foi o método da dúvida metódica.  Em suas conclusões, o fato do pensar jamais poderia duvidar, sendo esta a única certeza matemática de que dispunha e base sustentável para a construção do saber. O método para Descartes é, portanto, a forma de se chegar às verdades e a razão é a maneira de organizar a realidade para que essa se torne compreensível.

Em sua obra "Discurso do método”, descreveu detalhadamente os passos que o levaram à fundação de seu método, caminhando da dúvida sistemática à certeza da existência de um sujeito pensante - o cogito. O sujeito passa a pensar e questionar tudo o que está ao seu redor, a si mesmo e para além de si: a vida.




Seu pensamento causou uma reviravolta epistemológica, inovações e incertezas abalaram a visão cosmológica do homem e centraliza-se o olhar no conhecimento a partir do próprio homem, é claro que esse racionalismo trouxe consequências como a fragmentação do saber, impactos na concepção da natureza, mas nos permite dizer que foi um grande avanço para o desenvolvimento tecnocientífico moderno.

Lendo e vasculhando o material, encontrei um trecho do "Discurso do método", de Descartes em que ele diz o seguinte:

" Concluo justamente que minha essência consiste nisto apenas, que eu sou uma coisa pensante [...] E no entanto, talvez [...] tenho um corpo ao qual estou estreitamente ligado, tenho, de um lado, uma ideia clara e definida de mim mesmo como uma coisa pensante, não extensa, e, de outro lado, uma ideia nítida de meu corpo como uma coisa extensa e não pensante; é certo, portanto, que sou realmente algo distinto de meu corpo e não posso existir sem ele."

Esse trecho sistematiza a existência de uma dicotomia alma/corpo, espírito/matéria e uma percepção da extensão da realidade: objetividade/subjetividade, nos permitindo refletir sobre a existência de uma verdade absoluta quando desconhecemos toda a nossa essência...

O mecanicismo se apresenta como uma teoria que acredita que o Universo se comportava como uma grande máquina, em que tudo podia ser conhecido, ou seja, suas causas, objetivos, uma grande previsibilidade se apresentava por meio da análise das partes que o compõe, teoria essa que ainda exerce grande influência no conhecimento científico, afinal, este é aquele que pode ser medido, quantificado, decomposto em partes mais simples e estudado para entender como funciona o conjunto.

O determinismo científico, teoria originada do mecanicismo, trouxe ainda a ideia de que a natureza estava diretamente relacionada às regras, e estas, compunham o Universo e podiam ser percebidas pelo uso da razão.

Assim como trouxe em discussão o colega Nivaldo, se conhecêssemos as forças da natureza e o próprio Universo em suas partículas, talvez fosse possível expressar em fórmula, segundo o entendimento dessa teoria, o movimento de tudo. John Locke, Augusto Comte foram alguns influenciados por essas ideias...

Sobre Descartes, ao entender o homem como ser pensante e matéria, substância, ele entende o homem como integrante do mundo físico, do Universo e, como parte integrante do mesmo, o vê como uma grande máquina. Essa visão dualista o fez refletir sobre o funcionamento do mundo pôs a natureza a favor dessa mecanização, afinal, tudo está interligado nessa grande máquina.

Sobre essa relação, encontrei esse trecho de Ferdinand Al Quié(1987) que traduz o pensamento como ligação entre as partes, favorecendo a relação homem x mundo, no mecanicismo:

Relógios e órgãos são bem semelhantes, assim como nervos e tubos. A água que brota das fontes pode mover máquinas ou pronunciar palavras. As molas se armam como tendões. Contudo, é pelo pensamento que o homem compreende a máquina, tanto o seu corpo quanto a mecânica do mundo. Pensando que o corpo é a máquina integrada na grande máquina do Universo, o homem assegura a sua dignidade.
AL QUIÉ, Ferdinand. Descartes e o mecanicismo. São Paulo: Global, 1987.



A seguir ficha de leitura do capítulo 6 do texto de René Descartes “O Discurso do Método”:


FICHA DE LEITURA DO CAPÍTULO 6 DA OBRA “O DISCURSO DO MÉTODO” DE RENÉ DESCARTES

DESCARTES, René. Discurso do Método, tradução de: Enrico Corvisieri. Versão eletrônica do livro “Discurso do Método”. Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia). Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/

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1-    Jamais dei muita atenção às coisas que provinham de meu espírito, e, à medida que não colhi outros frutos do método que emprego, exceto que fiquei satisfeito em relação a algumas dificuldades que dizem respeito às ciências especulativas, ou então que tentei pautar meus hábitos pelas razões que ele me ensinava, não me considerei obrigado a nada escrever acerca dele. Pois, no que se refere aos hábitos, cada qual segue de tal maneira sua própria opinião [...] apenas adquiri algumas noções gerais concernentes a física, e, começando a comprová-las em várias dificuldades particulares, percebi até onde podiam conduzir e quanto diferem dos princípios que haviam sido utilizados até o presente, considerei que não podia mantê-las escondidas sem transgredir a lei que nos obriga a procurar, no que depende de nós, o bem geral de todos os homens. Pois elas me mostraram que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida, e que, em lugar dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas, é possível encontrar-se uma outra prática mediante a qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam [...] poderíamos utilizá-los da mesma forma em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como senhores e possuidores da natureza. [...] para a conservação da saúde, que é sem dúvida o primeiro bem e a base de todos os outros bens desta vida; pois mesmo o espírito depende tanto do temperamento e da disposição dos órgãos do corpo que, se é possível encontrar algum meio que torne comumente os homens mais sábios e mais hábeis do que foram até aqui, creio que é na medicina que se deve procurá-lo. [...] tendo a intenção de empregar toda a minha vida na pesquisa de uma ciência tão necessária, e havendo encontrado um caminho que se me afigura tal que se deve infalivelmente encontrá-la, se o seguirmos [...] julguei que não havia melhor remédio contra esses dois impedimentos a não ser comunicar com fidelidade ao público o pouco que já tivesse descoberto, e convidar os bons espíritos a empregarem todas as forças para ir além, contribuindo, cada qual de acordo com sua inclinação e sua capacidade, [...] somando as vidas e os trabalhos de muitos, fôssemos, todos juntos, muito mais longe do que poderia ir cada um em particular. Pág 34 e 35

2-    [...] a respeito das experiências, que elas são tanto mais necessárias quanto mais avançados estivermos no conhecimento. Pois, no início, mais vale servir-se apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos, e que não poderíamos ignorar, desde que lhes dediquemos o pouco que seja de reflexão, em vez de procurar as mais raras e complicadas: a razão disso é que essas mais raras muitas vezes nos enganam, quando se conhecem ainda as causas das mais comuns, e que as circunstâncias das quais dependem são quase sempre tão específicas e tão pequenas que é muito penoso notá-las. [...] procurei encontrar os princípios, ou causas primeiras, de tudo quanto existe, ou pode existir, no mundo, sem nada considerar, para tal efeito, senão Deus, que o criou, [...] examinei quais são os primeiros e os mais comuns efeitos que se podem deduzir dessas causas [...] quando quis descer às que eram mais específicas, apresentaram-se-me tão variadas que não acreditei que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas ou espécies de corpos que existem sobre a Terra, [...] a não ser que se busquem as causas a partir dos efeitos e que se recorra a muitas experiências específicas. [...] o poder da natureza é tão amplo e tão vasto e que esses princípios são tão simples e tão gerais que quase não percebi um único efeito específico que eu já não soubesse ser possível deduzi-lo daí de várias formas diferentes, e que a minha maior dificuldade é comumente descobrir de qual dessas formas o referido efeito depende. Pág. 35 e 36

3-    [...] ocorreram outras razões que me fizeram mudar de opinião e pensar que devia continuar escrevendo todas as coisas que considerasse de alguma importância, [...] para ter mais oportunidades de melhor analisá-las, porque não há dúvida de que se tem mais cuidado com o que pensamos que deva ser visto por muitos, do que com o que se faz apenas para si próprio [...] apesar de ser verdade que cada homem deve procurar, no que depende dele, o bem dos outros, [...] é verdade também que os nossos cuidados devem estender-se para mais longe do tempo presente, [...] quero que se saiba que o pouco que aprendi até agora não é quase nada em comparação com o que ignoro, e que não desanimo de poder aprender; [...]. Pág 36 e 37

4-    [...] apesar de reconhecer que sou muito sujeito a falhas, e que quase nunca me fio nas primeiras idéias que me ocorrem, a experiência que possuo acerca das objeções que me podem ser feitas impede-me de esperar delas qualquer proveito: [...] raramente aconteceu que alguém me objetasse algo que eu já não tivesse previsto, salvo se fosse coisa muito afastada de meu assunto; de maneira que quase nunca deparei com algum crítico de minhas opiniões que não me parecesse ou menos rigoroso ou menos equilibrado do que eu mesmo. [...] Pág 38

5-    A respeito da utilidade que os outros obteriam da divulgação de meus pensamentos, não poderia também ser muito grande, sendo que ainda não os levei tão longe que não seja necessário acrescentar-lhes muitas coisas antes de aplicá-los ao uso. [...] porque não se pode compreender tão bem uma coisa, e torná-la nossa, quando a aprendemos de outrem, como quando nós mesmos a criamos. [...] jamais acreditem nas coisas que lhes forem apresentadas como provindas de mim, se eu mesmo não as tiver divulgado. [...] e tenho certeza de que os mais apaixonados dos atuais partidários de Aristóteles sentir-se-iam felizes se tivessem tanto conhecimento da natureza quanto ele o teve, apesar de sob a condição de nunca o terem maior. [...] o modo de filosofar é muito cômodo para aqueles que possuem espíritos bastante medíocres; pois a falta de clareza das distinções e dos princípios de que se utilizam é causa de que possam falar de todas as coisas tão ousadamente como se as conhecessem, e sustentar tudo o que dizem contra os mais perspicazes e os mais capazes sem que haja meio de persuadi-los. [...] se almejam falar de todas as coisas com conhecimento e obter a fama de sábios, irão consegui-lo mais facilmente satisfazendo-se com a verossimilhança, que pode ser encontrada sem muito esforço em todas as espécies de matérias do que procurando a verdade, que só se descobre pouco a pouco em algumas, e que, quando se trata de falar das outras, obriga a confessar sinceramente que nós as ignoramos. Dado que preferem o conhecimento de um pouco de verdade à vaidade de darem a impressão de nada ignorar, [...] o que ainda me falta descobrir é em si mais difícil e mais obscuro do que aquilo que pude anteriormente encontrar, [...] a partir da juventude me tivessem ensinado todas as verdades cujas demonstrações procurei depois, e se eu não tivesse dificuldade alguma em aprendê-las, talvez nunca soubesse algumas outras, e ao menos nunca teria adquirido o hábito e a facilidade, que julgo possuir, para sempre descobrir outras novas, conforme me esforço em procurá-las. [...] Pág 38, 39 e 40

6-    [...] se houvesse no mundo alguém de quem se soubesse que seria com certeza capaz de encontrar as maiores coisas e as mais úteis possíveis para o público, e a quem, por esse motivo, os demais homens se esforçassem, por todos os meios, em ajudar na realização de seus intentos, não vejo que pudessem fazer mais por ele além de financiar as despesas nas experiências de que precisasse e, de resto, impedir que seu tempo lhe fosse tomado por pessoas inoportunas. [...] Pág. 40

7-    [...] houve novamente duas outras razões, que me obrigaram a apresentar aqui alguns ensaios particulares, e a prestar ao público alguma conta de minhas ações e de meus intentos. A primeira é [...] jamais procurei esconder minhas ações como se fossem criminosas, [...] haver-me sempre mantido assim indiferente entre o cuidado de ser conhecido e o de não sê-lo, não pude evitar de adquirir certa reputação, julgando que devia fazer o máximo para me livrar ao menos de tê-la má. A outra razão [...] não quero faltar tanto a mim próprio que dê motivo aos que me sobreviverão para me censurar um dia de que eu poderia ter-lhes legado muitas coisas bem melhores do que as que leguei, se não me tivesse descuidado tanto em fazê-los compreender em que poderiam contribuir para os meus projetos. Pág. 41

8-    [...] como a experiência torna a maioria desses efeitos muito correta, as causas das quais os deduzo não servem tanto para prová-los ou explicá-los, mas, ao contrário, são elas que são provadas por eles. [...]. Pág. 42

9-  [...] E se escrevo em francês, que é o idioma de meu país, e não em latim, que é o de meus mestres, é porque espero que aqueles que se servem somente de sua razão natural totalmente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que só acreditam nos livros antigos. [...]. Pág. 42


10- [...] decidi não empregar o tempo de vida que me resta em outra coisa que não seja tentar adquirir algum conhecimento da natureza, que seja de tal ordem que dele se possam extrair normas para a medicina, mais seguras do que as adotadas até agora; [...] ficarei sempre mais agradecido àqueles em virtude dos quais desfrutarei sem estorvo do meu tempo, do que o seria aos que me oferecessem os mais dignificantes empregos do mundo. Pág. 43

CONSIDERAÇÕES:
O método científico, para Descartes, é a maneira pela qual o homem poderá dominar a natureza, e para tanto se faz necessário o uso da física e da matemática para explicar seus fenômenos.
Descartes valoriza o uso do pensamento matemático sobre a lógica para alcançar uma nova expressão da natureza, a fim de explicá-la e manipulá-la. A matemática se apresenta como condição de pensamento para se alcançar a certeza e evidência dos raciocínios.
O pensamento metafísico é abandonado, Descartes propõe um novo olhar diante do mundo, que nega os valores clássicos e estabelece uma nova relação homem e natureza.       



  

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