quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PARTE II - CIÊNCIA, RELIGIÃO E SUAS FRONTEIRAS

1      Entre ciência e religião

1.1 Traçando uma fronteira conceitual

A ciência sempre procurou atestar empiricamente suas teorias, para tratá-las como verdade, mesmo assim, a medida que investiga, muitas vezes encontra outras verdades que são capazes de invalidar as antigas. O homem pauta o conhecimento a partir do que é capaz de compreender intelectualmente, e muitas vezes ignora ou descarta aquilo que foge ao seu entendimento.
Os conceitos de ciência e religião parece-nos conhecimentos totalmente distintos, que um não deve envolver-se com o outro, pois isso acabaria com suas essências e, consequentemente, com o que cada um é. Em outras palavras ciência deixaria de ser ciência e religião deixaria de ser religião.
Para entender melhor essa suposta contradição entre ciência e religião é importante conhecer suas origens. O termo religião era pouco utilizado antes do século XIX, seu sentido estava relacionado ao termo religio que significava piedade ou adoração e estava diretamente relacionado à tradição cristã. Após o século XIX o termo foi ganhando novos significados e usos.
Ao redor do termo religião existem algumas conceituações etimológicas como: religare que significa religar o homem à Deus; relegere, do latim, que se relaciona ao ato de releitura e interpretação dos textos bíblicos sagrados; e, atualmente, com uma conotação mais universal, considera um conjunto de crenças que associam o que é humano ao transcendente.
Já o termo ciência, como é conhecido atualmente, surgiu no século XIX, popularizado por William Whewell ao se referir aos praticantes de diversas áreas da filosofia natural.
Muitos filósofos da ciência  buscaram delimitar limites entre ciência e religião. Por exemplo: para Karl Popper a ciência, diferente da religião, possui hipóteses falsificáveis e Charles Alan Taylor defende que os limites entre ciência e religião variam de acordo com o contexto histórico que os cercam.
Normalmente distingue-se ciência de religião atribuindo àquela o conhecimento do que está ligado ao mundo natural e a esta ao mundo sobrenatural. Essa restrição da ciência ao mundo natural é chamada de naturalismo metodológico, que têm como objeto de estudo entidades naturais e não sobrenaturais, apesar de não desconsiderá-las. Os conceitos de ciência e religião não se resumem a uma definição única e imutável, pois suas vertentes irão variar de acordo com a delimitação do que se quer conhecer e por quais meios.

1.2 Uma complexa relação

Desde a antiguidade clássica filósofos, teólogos e cientistas estudam a relação que há entre ciência e religião. A ciência é conhecida pela sua eficácia, razão, experiência e evidência, já a religião é conhecida por seu caráter de revelação, fé e sacralidade.  Elas são passivas de mudanças de acordo com o contexto histórico. A religião é responsável por diversas inovações cientificas e técnicas anteriores a Revolução Cientifica.
Os séculos VIII e XIII é marcado pelo período denominado como Renascimento ou Idade de Ouro Islâmico.  Neste período houve várias contribuições em diversos setores cultural da região, beneficiando a tecnologia, a navegações a literatura, a artes e a indústria. Que ajudou no desenvolvimento da sociedade.
Segundo o físico e teólogo John Polkinghorne, a ciência e religião pode ser caracterizada através de quatro eixos:

·         Como disciplinas conflitantes;
·        Como disciplinas independentes;
·         Como disciplinas que podem dialogar entre si;
·        Como disciplinas que abrangem a mesma área.

1.2.1 Incompatibilidade
         A teoria da evolução e a religião possuem incompatibilidades. E muitos pensadores usam desta incompatibilidade para definir a relação entre fé e ciência. Para Richard Dawkins, os religiosos apresentam um menosprezo pelos avanços nas pesquisas cientificas, e isso dificulta o professor explicar a teoria da evolução, visto que os alunos religiosos não aceitam essa teoria e rejeitam o professor. 

1.2.2 Independência
         Stephen Jay Gould é um importante historiador da ciência, afirma que ciência e religião possuem fundamentos com aspectos diferentes da experiência humana, sendo assim, essas áreas do conhecimento podem trabalhar pacificamente.  A definição de áreas separadas de Gould é aceita pela academia nacional de ciência do Estados Unidos, no qual defende que ambas são áreas do conhecimento independentes. Para o arcebispo John Habgood, a ciência é descritiva, enquanto a religião é prescritiva, por isso elas apresentam caminhos diferentes para compreensão da experiência humana.

1.2.3 Diálogos 
         O teólogo Philip Hefner defende que as comunidades religiosas e cientificas tem acadêmicos que participam de ambas áreas do conhecimento. Assim, a comunidade acadêmica não pertence a nenhum dos grupos específicos, mas formam a terceira via comunitária, que possuem interesses em comum entre as duas áreas de conhecimento e envolvem todos. No pensamento de Alvin Plantinga, a ciência e religião possuem afinidades, pois elas tentam explicar o mundo e a realidade. Com isto, o verdadeiro conflito está entre ciência e o naturalismo.

1.2.4 Integração

Apesar da complexidade que existe entre ciência e religião, os resultados produtivos que as duas trouxeram para o mundo devem serem considerados regras, ou seja, é necessário que as duas convivem em harmonia, pois o conflito entre as duas não beneficia a história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário