quarta-feira, 4 de julho de 2018

ESPECIALIZAÇÃO EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE - UFES: Atividade final


A disciplina de Epistemologia da psicanálise trouxe uma reflexão sobre os conceitos constituídos na filosofia e na psicanálise em relação aos métodos e conhecimentos que são atribuídos ao inconsciente. Além de conceitos psicanalíticos, a área também estuda as formações do próprio inconsciente, como atos falhos, chistes e sonhos, ou seja, a via real de acesso ao inconsciente.
Como proposta de Atividade Final, sintetizamos a reflexão expressa na obra de Sigmund Freud, Totem e Tabu (1913) e uma análise da função do pai em psicanálise e suas relações com a cultura, bem como a função da linguagem nesse processo.


A obra Totem e Tabu (1913) de Freud vem refletir sobre os aspectos civilizatórios e evolutivos do homem. Questões sobre a origem das instituições sociais e culturais, bem como moralidade e contextos da psicanálise são trazidos para uma discussão a partir do totemismo, próprio das civilizações primitivas.
Para fins de análise da temática, iniciou sua abordagem com tribos aborígenes australianas, que possuem características bastante primitivas, não possuem instituições sociais religiosas, mas que, em seus costumes e tradição, tem o totemismo – um animal, planta ou força que possui relação especial com o clã, admitindo-se sua relação ancestral e protetora. Em retribuição, o clã segue, respeita, ouve e se abstém dele em alimento, suas características são transmitidas hereditariamente. Onde há o totem, há também as regras da exogamia, ou seja, não há relação incestuosa. Essa proibição está devidamente ligada ao totem, não se sabe ao certo quando foi atrelada, mas Freud descreve a sua relação com o desejo da transgressão – tabus. Ele faz uma relação entre o desejo, a proibição e a formação psíquica da criança - neuroses.
Ao comparar os tabus às convenções morais existentes em nossa sociedade, Freud apresenta o caráter perigoso daquele que transgride e que, a partir desse ato, pode-se gerar a neurose obsessiva, um deslocamento do desejo, de um objeto para outro. Uma ambivalência de sentimentos, influenciados pelo desejo e pela repressão que confluem na angústia.
As questões anímicas, religiosas e científicas também fundamentaram as reflexões de Freud, ao perceber que o sujeito cria sua percepção de mundo a partir de seus desejos.
O animismo permitia ao homem conceber o mundo a partir do mágico, do que era natural, de si mesmo. Expunha seus desejos nos espíritos e em suas ações, para fins de suas vontades.
A religião permitiu perceber a partir das forças externas, dos deuses e suas forças de atuação sobre o mundo, sem deixar que seus desejos estivessem a tona. A ciência trouxe alguma realidade, e mostrou como os desejos precisam estar atrelados à ela.
Ao longo dos escritos, Freud apresenta o complexo de Édipo como ilustração ao totemismo, em que a primeira escolha da criança, a mãe, é incestuosa, e faz a relação do desejo com a proibição, bem como a presença do pai, que representa, em certo momento, a castração simbólica da criança e seu representante fálico e rival, diante da mãe.
Ao totem, o sacrifício do primevo para que seja cultuado, respeitado e para que os laços unam-se à superioridade. Uma consolidação do estado de direito ao tomar o pai como simbólico de autoridade após o sacrifício.
Freud estabelece a constituição da sociedade sobre os dois tabus apresentados ao longo de suas reflexões, a proibição do incesto (garantia da força e união na ausência física do pai) e a obrigação da proteção do totem, uma primeira instância social e religiosa que parte da culpa e da obediência.
O primeiro módulo da disciplina traz uma reflexão sobre a posição do pai e sua evolução na psicanálise como uma acordo com a civilização, cujo delinear se dá a partir de textos e concepções que Freud trouxe para a noção de pai.
Na mesma época da publicação de “Totem e Tabu” (1913) surge também o texto “O interesse científico da Psicanálise” (1913), conferindo à psicanálise uma relação com as ciências e apresentando-se como uma ciência dos processos inconscientes e um meio de pesquisa aplicado nos diversos campos do saber.
Nascida do encontro e da observação de um médico e um homem da ciência com os traumas e imersa em diversas teorias da época, trouxe uma perspectiva de que o homem passa por processos de adaptações e transformações e isto é biológico. A contribuição da psicanálise diz respeito à significação de cada uma dessas funções no conjunto do corpo e na determinação do sintoma.
Freud mostra que a psicanálise liga-se a vida e as funções orgânicas e que a sexualidade encontra-se envolvida, pois também é função orgânica. Freud destaca a sexualidade infantil como abordagem da psicanálise, pois possui propriedades estão presentes na concepção biológica, mas não somente.
Quando apresentando o quadro epistemológico da psicanálise, cujo centro é o complexo familiar, se instaurando a neurose e a psicose. Abrindo terreno aos fenômenos psíquicos reprimidos e inibidos, Freud mostra a sexualidade não apenas como função orgânica, mas ligada à Eros e a libido. Instinto e pulsão, agora se tornam movimentos para a construção do objeto.
Essa teoria evolutiva da psicanálise, Freud chamou de Kultur (cultura), o que explica seu interesse pela história da civilização, bem como do indivíduo e dos seus processos psíquicos. Mais ligada à ciência da vida, a psicanálise reflete sobre o conceito de povos e cultura, bem como os elementos psíquicos presentes em sua evolução.

Através das crenças infantis e da infantilidade do neurótico, Freud busca compreender o processo da civilização. As teorias sexuais infantis são resultado de uma pré-ciência que age sem cessar quando a criança busca soluções para sua questão interna, em que a relação do sujeito com a realidade encontra-se deturpada.
Os mitos e as fantasias constituem a atividade mental primária das crianças, recobertas pela razão, que propõem soluções de problemas e conclusões lógicas. A ambivalência de sentidos, frequente na vida da criança, procura soluções criando o próprio mito, a moralidade e a religião. A história da civilização mostra os caminhos tomados pelos homens, segundo Freud, para a realização de seus desejos insatisfeitos.
As inferências de Freud, na obra totem e Tabu (1913) não tem carga moral original, mas se tornam morais a partir de suas observações. O medo e a proibição do incesto afirmavam a isogamia. “Essas restrições impostas aos membros da sociedade primitiva são originadas no totem, um objeto ou animal investido de poderes, que desperta medo e respeito e sobre o qual se projeta todo o narcisismo próprio ao ambiente anímico.”
Ao totem se dirige uma afetividade enquanto ao tabu se dirige a agressividade. Presença da ambivalência: amor e ódio, neurose em busca da satisfação pulsional.
O mito freudiano, do pai primevo sendo devorado e assumido pelos seus, mostra, antes de tudo, um poder absoluto que é derrocado pela associação dos filhos contra o pai. A ausência que se dá, a partir deste ato, institui uma castração simbólica que se relaciona à ausência do real. Na figura do ancestral totêmico concentra-se uma fixação libido. O desrespeito à lei do pai provoca a falta e o castigo e, mesmo em sua ausência, permanece a submissão àquele que tem o seu valor simbólico.
Da teoria freudiana da cultura para a teoria lacaniana da linguagem e do objeto, vê-se que o simbólico determina-se aquém e além das determinações imaginárias e das relações da natureza do mito freudiano. Lacan afirma que o inconsciente é estruturado como linguagem, onde Freud colocava a função do pai Lacan faz o Nome-do-Pai como operador simbólico.
Lacan traz castração, frustração e privação como uma trilogia relacionada ao simbólico, imaginário e real, pois é através do objeto ou de sua falta que acontece a satisfação do sujeito. Pai e mãe são nomes que situam o sujeito no sistema cultural. A construção do enunciado sobre a privação real da mãe, que é desprovida do poder referente no pai, é simbólica, só tem sentido através da linguagem porque pela linguagem tudo pode se reconstituir
No plano simbólico o desejo precisa ser reconhecido através da linguagem, e é no plano simbólico que se torna possível a ausência, a falta, na medida em que dá lugar à presença.
Através da lógica, da linguagem e da linguística Lacan situa a psicanálise no campo da cultura, da ciência de seu tempo, isto é, das ciências humanas.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

INTRODUÇÃO


HISTÓRIA DA FILOSOFIA NO BRASIL


A disciplina de História da Filosofia do Brasil, ministrada pelo professor Jorge Augusto da Silva Santos, trouxe-nos uma reflexão sobre a Filosofia no Brasil desde o século XIX até o século XX, uma caminhada que perpassou por vários pesquisadores e correntes filosóficas que partiram do pensamento filosófico estrangeiro e caminharam para uma exegese dos textos europeus e, por fim, por uma filosofia própria, bastante ligada à realidade e o contexto local.
Nessa trajetória, conhecemos personagens como Tobias Barreto, Farias de Brito, Antônio Vieira Pinto, Rubem Alves dentre outros que fizeram a filosofia do Brasil acontecer e foram traduzidos nas atividades temáticas da disciplina.
Para a realização dessa atividade, foi utilizada a Leitura Complementar nº 20. O livro “Pequenos estudos de filosofia brasileira” de autoria de Aquiles Côrtes Guimarães evidencia como a filosofia passou a interessar às principais correntes de filosofia existentes no país. A obra é constituída de uma grandiosa contribuição ao “entendimento da singularidade da proposta fenomenológica na análise da meditação brasileira.”
Para o Seminário avaliativo, o grupo foi composto pelos acadêmicos Beneir Cunha da Silva Junior, Cristiani Lopes Silva, Gislãyne da Penha Croce Ferreira, Kerly Nunes de Souza e Maria Elizabeth Ribeiro.

PARTE I: Capítulos 1 a 4


Capítulo 1 – O discurso filosófico Colonial
Para entender a consciência filosófica no Brasil Colônia temos que ter em mente que éramos limitados pela metrópole (Portugal) e nesta havia a presença de uma escolástica decadente que constituía a base do desenvolvimento filosófico. Assim, toda a referência brasileira gira em torno de Portugal, e este país jamais se preocupou com a ilustração da sua história por intermédio da produção do pensamento. Dessa forma, como na metrópole prevalecia a religiosidade e a escolástica com a Companhia de Jesus, por consequencia, o Brasil acabou preso à essa censura, num generalizado descaso e até mesmo ignorância no trato dos problemas filosóficos, em detrimento do iluminismo que já despontava nos demais países ocidentais. Concluindo, a “filosofia das luzes” no Brasil apenas começa com sua independência política.


Capítulo 2 – Gonçalves de Magalhães – Contra a ciência do seu tempo


Gonçalves de Magalhães (ou visconde de Araguaia) foi o primeiro grande momento de afirmação do pensamento brasileiro. No Brasil, o contexto foi o de uma renovação de ideias (“surto de ideias novas”), e na Europa, o de uma dominância do espírito do cientificismo, a razão científica como único instrumento de ordenar o curso da humanidade. Magalhães, que possui uma vocação cristã num espirito do romantismo, insurge contra a ciência de sua época e encara os problemas que abalam a mentalidade católica. No entanto, sua crítica é considerada provinciana, com argumentos pouco sólidos e distanciados da tessitura do discurso científico. Em resumo, Magalhães busca uma educação baseada no mais alto significado do catolicismo e da moral dele decorrente, não valorizando a educação científica, e sendo assim, a ênfase que deu à ordem sobrenatural acabou por obscurecer sua extraordinária vocação especulativa.



Capitulo 3 – Tobias Barreto e o cientificismo de sua época


Tobias Barreto foi um pensador quase solitário na crítica do positivismo e de todas as formas de cientificismo. Em sua época, havia uma forte crença no império da razão construtora, e Barreto soube perceber as diversas reações européias contra o império do cientificismo, dando então uma resposta adequada a estes movimentos que assinalaram a vida intelectual européia. Barreto, percebe a insuficiência do cientificismo e realiza uma crítica do conhecimento, baseado no neokantismo, enfrentando as elites pensantes do Brasil que estavam imbuídas do ideário cientificista. Esse retorno a Kant marcou o pensamento de Barreto enquanto atitude filosófica voltada para a questão dos valores, da cultura e da história. Seu culturalismo permeou a compreensão do homem e da história, lutando contra o vulgarismo cientificista e a avassaladora mediocridade intelectual.



Capitulo 4 – A Função do discurso na crítica de Sílvio Romero


Silvio Romero é identificado por ter realizado uma crítica de ideias. Viveu num contexto em que na Europa havia a crença generalizada no poder da razão científica, e o Brasil seguia a tradição européia. Romero sempre se esforçou por se adaptar aos embates das novas ideias européias. Seu discurso sempre foi voltado para a reafirmação do vigor do naturalismo. Ele encarou como uma missão o seu exercício crítico, que tinha a necessidade de impedir que a fragilidade da cultura brasileira se constituísse em motivo para a disseminação de ideias e crenças que julgasse inadequadas, tendo como objetivo obstar a circulação de ideias vulgares no Brasil. Nunca se prendeu a sistemas ou modos de pensar que não contribuíssem para a interpretação da realidade brasileira, chegando a afirmar: “meu sistema filosófico reduz-se a não ser sistema algum”. Não houve nele nenhuma intenção originariamente filosófica, tendo a crença no poder da ciência e abominava questões de ordem especulativa.


PARTE II – Capítulos 5 a 8


Capítulo 5 - A paixão filosófica de Farias Brito e Antero De Quental
Esse capítulo tem como referência o primeiro volume da obra “Finalidade do mundo” de Farias Brito e a obra “ Tendências gerais da filosofia na segunda metade” do século XIX de Antero de Quental.



A obra de Farias Brito trata-se do livro que inicia sua trajetória filosófica. Já a obra de Antero trata-se do texto em que o autor português demonstra sua preocupação com o destino da filosofia, caminhando para especulações metafísicas e a virtude humana. Os dois autores mostram uma imensa paixão pela filosofia  como guia de conduta humana.
Primeiramente iremos conhecer um pouco sobre a história e o legado filosófico de Farias Brito. Sua obra “Finalidade do mundo” escrita na década de 90 esboça um pensamento marcado pelo conflito entre o empirismo materialista dominante e as tentativas de recuperação do espiritualismo, desenvolvido pelo pensamento europeu, representadas pelo intuicionismo bergsoniano, pelo neokantismo da Escola de Baden e pela fenomenologia proposta por Edmund Husserl. 
O 1° volume da obra “Finalidade do mundo” o autor busca responde as seguintes questões: O que é filosofia? Quais são as relações da filosofia com as ciências? Onde fica a religião nesta história? Farias Brito busca através da filosofia responde suas dúvidas perante a existência humana. Para esse autor a reflexão filosófica necessita ser como uma arma a serviço do combate ao ceticismo do mundo moderno. Sendo necessário preservar as virtudes, pois elas nos conduzem no equilíbrio.
Segundo Farias Brito, a política e a filosofia são os dois eixos que proporcionam a evolução da humanidade. Sendo o fim da filosofia a moral, enquanto fim da política é o direito. Para esse autor todos os esforços filosóficos nos últimos anos foram para resolver a questão moral.
Nos primeiros escritos desta obra, Farias mostra ser um naturalista, porém quando se trata da questão do homem, ele rompe com  naturalismo e defende que as tentativas de naturalização da consciência trata-se de equívocos a serem abandonando.
Farias Brito faz considerações a cerca da filosofia dos pré-socráticos, Aristóteles, Platão, Comte, Spencer e concluir que a filosofia é um conhecimento universal. Aproximando do pensamento cartesiano Farias Brito afirma “A filosofia é uma árvore; as ciências são ramos mais ou menos frondosos que brotam desta árvore, o fruto que ela produz” (Brito, 1894:57).[1]
 Segundo Farias Brito, a metafísica é a ciência dos fenômenos psíquicos, sendo assim, a própria psicologia. Para ele, é possível a criação de uma nova religião, que referencia várias ideias teológicas e que não aborda apenas o cristianismo. Segundo ele, todas as religiões caminhavam para o fim, mas havia a necessidade de uma criação de uma religião naturalista que reforçasse a moralidade humana.
Para a construção de seu pensamento Farias Brito usa várias fontes filosóficas e estuda diversos filósofos como: Kant, Come, Aristóteles, Sócrates, Platão, Descartes, Letourneau, Taine, Büchner e Feuerbach, Renan, Vacherot e entre outros.

Passo agora à questão da filosofia delineada por Antero de Quental no seu livro Tendências Gerais da filosofia na segunda metade do século XIX.
 Antero busca um novo direcionamento para a filosofia, frente ceticismo que predominava nos pensamentos metafísicos.  Para esse autor, o declino que ocorria atingia somente a filosofia transcendental do idealismo alemão.
Antero tinha uma imensa paixão pela filosofia e a liberdade que se fundamentava pela ordem do espírito. A paixão pela liberdade só se concretizava através da plenitude pela virtude, pois se trata da suprema liberdade enquanto “única realidade plena”.

Capítulo 6 - Farias Brito e a questão da subjetividade
O inicio da trajetória filosófica de Farias Brito é marcado por uma crítica a todo o materialismo e ao positivismo. Mostrando uma preocupação pela esfera da interioridade enquanto espaço privilegiado, na qual há possibilidade de compreensão do mundo e da existência humana, para além das explicações das ciências da natureza.
Segundo esse autor, a interpretação do arquivista é tarefa do espírito, que tem a missão de explicar e compreender. Para compreender o papel da subjetividade Farias voltou-se o olhar para além da sua época. E advertia o perigo da filosofia através da razão científica entrar em campo de solidão e de vazio.
Farias reconhecia a importância processo científico e estava atento a toda e qualquer ameaça contra o espírito. Ele reconhecia a dificuldade de se pensar o papel da subjetividade num mundo que se encontra cheio de incertezas e sem nenhuma perspectiva, principalmente no campo das ciências clássicas. Seu pensamento se caracteriza pela crise da subjetividade e das incertezas no pensamento filosófico.

Capítulo 7 - Farias Brito e as filosofias contemporâneas da existência
Falecendo no mês de janeiro de 1917, o pensador cearense Farias Brito não teve nenhuma oportunidade de dialogar com o movimento fenomenológico-existencial, que  afirmou-se como uma das formas de compreensão e interpretação da existência humana.  Esse autor demonstra em seus escritos uma preocupação imensa com a existência humana, buscando compreender qual é a finalidade do mundo.
O sentimento do mundo, a gratuidade da existência, a angústia, a ideia de fracasso, o nada que subjaz à própria presença do homem no mundo, tudo isso se constitui na fermentação que marca o filósofo cearense do princípio ao fim.[2] Essa são as questões que esse autor buscou responder ao longo de suas obras. Essas ideias também são objetos de estudo das filosofias contemporâneas e do existencialismo cristão.
Farias busca levar as preocupações filosóficas brasileiras para mesma direção das outras partes do mundo. Farias Brito dedicou sua vida a estudar os problemas mais fundamentais do homem da sua época. Assim, ficou conhecido no mundo inteiro, sendo mencionado no dicionário de filosofia. Esse autor tinha um grande apreço pela filosofia e nos ensinou que é possível filosofar e estudar as questões humanas independente das origens sócio- culturais e econômicas.

Capítulo 8 - O espírito do positivismo na cultura brasileira
Os séculos XVI e XVII são marcados por nova forma de pensar que mudaria a direção dos próximos períodos, essa nova corrente do pensamento foi denominada como positivismo. O filósofo Augusto Comte é fundado desta nova doutrina. O positivismo é aderido no Brasil a partir da década de sessenta, influenciado pela França que era nosso modelo de civilização.  O positivismo no Brasil trazia a esperança de preencher o vazio nas áreas de medicina, engenharia e direito.   Assim, o positivismo ganhou força e predominou na nossa literatura, pedagogia, científico e política. A grande esperança era que o positivismo pudesse trazer luz e solução para nossos problemas.
Apesar de não ter funcionado o positivismo nos ensinou que a razão construtora não poderia nos fornecer a resposta pelo significado de nossa existência. E a necessidade de trilhar novos caminhos para nos conhecer melhor e encontrar nossa justificação na história. Sendo esse novo caminho aberto pelos filósofos, literários e artistas.


[1] Aquiles Côrtes Guimarães pequenos estudos de filosofia brasileira 2ª edição revista, corrigida e aumentada.
[2] Aquiles Côrtes Guimarães pequenos estudos de filosofia brasileira 2ª edição revista, corrigida e aumentada

PARTE III – Capítulos 9 a 12


Capítulo 9 - A prática da filosofia no Estado Novo
O Estado Novo ergue-se em um clima de ingenuidade, como se a conjuntura universal não falasse sobre o que somos enquanto seres que vivem num contexto histórico. O discurso filosófico é gerado a partir de reflexões políticas, em uma associação de interesses entre a verdade e a afirmação social.

Os instrumentalizadores da filosofia, dentro do espírito da cultura brasileira, tratam as ideias não a serviço da explicitação de nossa historicidade, mas a serviço de uma aparência que conservava a ideia de um governo forte, como o de Vargas, que encarnava o nacionalismo.
O movimento escolanovista buscava nas ciências o caminho seguro para se chegar ao objetivo final da educação, através de uma pedagogia e psicologia científica. Esse pensamento reforçava a subordinação à ordem política que vê em um regime forte a possibilidade de se alcançar eficiência e utilidade.
Enquanto uma visão pragmática direciona o homem para uma sociedade democrática e capitalista, o positivismo contribuía para justificar a ditadura.Os pensadores que aparecem nesse período, para sobreviverem, subordinam-se ao Estado Novo, em um regime ditatorial.

Capítulo 10 - Verdade e consciência em Alvaro Vieira Pinto
Vieira Pinto pretende colocar a ideia de que, “ou aceitamos a inteira responsabilidade pela interpretação de nossa realidade, ou continuaremos orbitando no conjunto dos países avançados do mundo”.
Vieira ignora e despreza toda a tradição filosófica Ocidental, a fim de construir um discurso original. Ele trata com certo desprezo a dissertação acadêmica, combatendo-a. Sua obra Consciência e realidade nacional é dedicada à tarefa de pensar o desenvolvimento nacional, partindo do princípio da necessidade de uma reconstrução do pensamento tradicional filosófico, a fim de reler o subdesenvolvimento e a miséria existencial decorrente dele.
Vieira Pinto enfatiza o mundo enquanto realidade nacional. Ele pensou a realidade brasileira sem considerar o sentido global da ordem econômico-social e do pensamento, acabando por obscurecer sua percepção da contemporaneidade. “O que se postula é a existência de um pensamento autenticamente nacional, com uma diretriz de compreensão da realidade nacional como se esta devesse emergir enquanto singularidade no contexto da civilização ocidental”.
Para Vieira Pinto, uma consciência ingênua ou alienação é aquela destituída do sentido de ser nacional, que deve surgir a partir do “despertar das massas para a necessidade de superação do estado de subdesenvolvimento”. Ele engajou-se em estabelecer um quadro de referência para o desenvolvimento nacional, como “verdade absoluta, a partir de um radicalismo reducionista”, em que não existe verdade fora do referente nacional.

Capítulo 11 - A Ideia de verdade no pensamento De Miguel Reale
Se em Kant o objeto será sempre para o entendimento, em Miguel Reale a existência do objeto é um pressuposto para o ato de experienciar. O eu transcendental deve ser concebido em sua natureza dinâmica, de uma realidade concreta, visível, perceptível, apreensível, não comandada pelo imperialismo da razão.
Para Reale deve-se levar em conta o condicionamento histórico-social em que todo conhecimento é produzido. Ele toma como tarefa a desconstrução do pensamento da razão kantiniana, pois esta se mostra insuficiente para uma teoria do conhecimento que leve em conta a totalidade de experiência humana.
Reale destaca que é necessário “fugir do idealismo e encontrar o sentido da concretude do pensar, a despeito de todas as contribuições do pensamento fenomenológico”.
Miguel Reale desloca a questão da relação sujeito-objeto para uma perspectiva da interação consciência-mundo, em que a consciência como intencionalidade exercerá papel importante na reiterada exigência da dialeticidade que tem como tarefa a interpretação de homem e da história, “na infinita abertura das suas manifestações”.

Capítulo 12 - A questão da educação no pensamento De Miguel Reale
“Para Miguel Reale, a essência do homem é o seu dever ser”. A existência humana é uma realização que acontece no âmbito da cultura, e nesse âmbito o homem se realiza através “das objetivações da intencionalidade da consciência”. O homem enquanto ser existencial é dever-ser, a experiência humana amplia o universo da cultura e é nesse universo de experiências que os sentidos da história e da própria presença no mundo são desvelados.
“Filosofia é educação”, pensar a educação brasileira é trazer à tona indicadores que são capazes de conceber o homem brasileiro enquanto presença situada historicamente. O universo cultural é o mais importante, Reale afirma que “o ser da pessoa humana tem essa especificidade radical, não só em relação aos demais entes, mas também no que concerne ao ser em geral”.
O homem se autorrevela em seu fazer histórico-cultural, na “descoberta e doação de sentidos ao originário mundo da vida”.“A relação sujeito-objeto é deslocada para o originário problema da interação consciência-mundo”.

O pensar filosófico, como a educação, não se esgota em si mesmo, pois sempre haverá muitos estímulos que o impulsione a educar-se e a transmitir aos outros essa educação. “Educar é, conduzir o indivíduo na trilha da autoconsciência para que ele se descubra como dever-ser, como valor-fonte de toda experiência possível”. Para Reale é função prioritária da educação conduzir o homem a assumir um lugar de autorreflexão, em um processo global de disposições que o torne capaz de harmonizar-se com o mundo da cultura.
Para Reale a educação deve levar o homem a se preocupar com o modo pelo qual “os objetos se tornam objetos para o entendimento humano”.
Ao afirmar que a essência do homem é o seu dever-ser, Reale indica que “a morada do homem é o espaço ético, a partir do qual ele realiza sua experiência histórica”. Partindo desse pressuposto, a educação deve ter como tarefa principal dar condições para que o educando “ingresse no espaço do dever-ser como lugar histórico da sua realização”.
“É necessário que o processo educacional abandone a prática do privilégio excessivo à pura e simples transmissão do conhecimento e se inscreva no trabalho de reflexão sobre o ser da pessoa humana que se pretende educar, na perspectiva de uma lógica que ultrapasse as fronteiras da fragmentariedade e da dispersão para atingir o horizonte englobante da cultura como único espaço de realização do homem na finitude da história”.

PARTE IV – Capítulos 13 a 19

Capítulo 13 - Situação histórica da teoria tridimensional do Direito
A teoria tridimensional foi criada por Miguel Reale que procura interpretar o direito sobre três vertentes: norma, fato e valor e analisar a interação entre as mesmas. Esta união entre as três vertentes possibilita uma maior flexibilidade na interpretação e estudo das leis. Segundo Reale “fato, valor e norma se dialetizam e se complementam mutuamente” (GUIMARÃES, 1997, p. 106), ou seja, não podem ser concebidas separadamente. A referida teoria surgiu do descontentamento do filósofo diante de três escolas de pensamento: a normativista, a sociologista e a moralista. A teoria reoliana trouxe significação às reflexões nos campos da cultura, direito e história.

Capítulo 14 - A “segunda via” de inspiração do pensamento brasileiro
A França é um dos principais países que influencia o pensamento intelectual do Brasil, ainda que a fenomenologia fundada por Edmund Husserl tenha aparecido com mais força nos últimos vinte e cinco anos. A partir do ano de 1945 muitos estudiosos e pensadores tentaram inserir o método fenomenológico no Brasil sem alcançarem muita expressão. Entre estes estudiosos podemos citar: Isaías Paim, Creusa Capalbo, Gerd Borheim, Carneiro Leão, Maria da Conceição Miranda, Zenilda Lopes de Siqueira e João Souza Ferraz. Segundo Guimarães (1997) o principal obstáculo para aceitação de fenomenologia no Brasil é o rigor exigido por Husserl, o que não combina com o estilo brasileiro. Desse modo, a fenomenologia pode ser considerada a segunda via de inspiração do pensamento brasileiro, ficando com supremacia o pensamento francês, que influencia sobremaneira a moda brasileira.



Capítulo 15 - A presença do pensamento de Ortega y Gasset no Brasil.

O filósofo Ortega Y Gasser tormou-se a figura mais influenciável no Brasil nas últimas cinco décadas, devido ao seu espírito esteticista que identifica-se com a cultura brasileira e seu potencial em debater ideias existencialistas com propriedade o que facilitou a sua aceitação no período pós-guerra. O referido filósofo é um exímio palestrante com potencial para explanar vários assuntos, dentre eles, filosofia, artes, ciências, entre outros, ao mesmo tempo com proeza e sensibilidade, e isto, faz com que tenha muitos seguidores no âmbito brasileiro. Vale acrescentar que para um país ligado à visão literária em oposição à conceitual é muito mais fácil acolher a dinâmica de Ortega.


Capítulo 16 - A inspiração kantiana na obra de Antonio Paim


Antonio Paim convida o ser humano a construir uma cultura significativa através do retorno à subjetividade, à sua essência, ao seu eu interior, mas sem perder de vista sua história, o seu dia a dia, a sua vivência com o outro. Nota-se a presença dos pensamentos de kant nas ideias de Paim no momento que ele convida a todos a superar as mentalidades passadas e buscar respostas para os desafios do mundo atual. Existe uma preocupação de Paim com a filosofia, política, moral e uma educação humanística.

Capítulo 17 - Antonio Paim e os sentidos da vida espiritual no Brasil do século XIX
Antonio Paim realiza uma releitura da história da vida espiritual brasileira do século XIX de uma forma eclética, sem nenhuma forma de preconceito, demonstrando fidelidade à história de um povo. Prestou um grande serviço à cultura brasileira, no sentido de que buscou sua valorização, respeitou à liberdade do povo em expressar sua espiritualidade nas diversas formas. Dizia que: “Somos todos livres na ordem do pensamento e, portanto, somos todos livres na formulação das mossas ideias, todas elas passíveis de confrontação e discussão, nas infinitas possibilidades de compreensão e interpretação” (GUIMARÃES, 1997, p. 130).

Capítulo 18 - Em torno da questão do absoluto no pensamento de Sampaio Bruno
Sampaio Bruno é de origem portuguesa e ficou conhecido como “o pensador do erro e do mal”. Seus trabalhos geralmente foram assinalados com sua  preocupação em entender a origem, a raiz e o princípio de tudo. Seus textos sempre se referem à existência de Deus, como também a presença do mal no mundo. O filósofo entende Deus como o princípio de tudo. Soube argumentar com propriedade filosófica assuntos como ciências da natureza, metafísica e teologia e, não somente sob um prisma místico. Sobre Bruno pode se dizer também que foi um filósofo português que jamais se afastou da cultura de seu país para defender suas ideias.

Capítulo 19 - Alexandre Fradique Morujão e o movimento fenomenológico em Portugal

A fenomenologia começou a aparecer em Portugal por volta da década de 1940. Foi Alexandre Fradique Morujão um dos principais propagadores da   fenomenologia em solo português, pois realizou um amplo trabalho de interpretação da maneira de pensar dos portugueses, do contexto brasileiro e das circunstâncias que envolvem a teia simbólica da língua portuguesa. Morujão apresenta um comprometimento profundo com a vida portuguesa e por isso mesmo, jamais se afastou de Portugal.


CONCLUSÃO


O livro estudado referencia várias passagens contextuais da Filosofia no Brasil. Expõe a expectativa de constituir uma filosofia própria, que trouxesse uma identidade ao Brasil, principalmente no que diz respeito ao processo social e cultural.
Nenhuma corrente ou pensamento filosófico foi absoluto. É possível construir um pensamento com base na tradição e no que há de novo – aproximação. É preciso pensar a partir da diversidade existente – o moderno e o antigo. Foi por esse caminho que os pensadores e teorias apresentadas caminharam para constituir uma Filosofia identitária, baseada no contexto nacional.