Capítulo
9 - A prática da filosofia no Estado Novo
O
Estado Novo ergue-se em um clima de ingenuidade, como se a conjuntura universal
não falasse sobre o que somos enquanto seres que vivem num contexto histórico. O
discurso filosófico é gerado a partir de reflexões políticas, em uma associação
de interesses entre a verdade e a afirmação social.
Os instrumentalizadores da filosofia, dentro
do espírito da cultura brasileira, tratam as ideias não a serviço da
explicitação de nossa historicidade, mas a serviço de uma aparência que
conservava a ideia de um governo forte, como o de Vargas, que encarnava o
nacionalismo.
O movimento escolanovista buscava nas
ciências o caminho seguro para se chegar ao objetivo final da educação, através
de uma pedagogia e psicologia científica. Esse pensamento reforçava a
subordinação à ordem política que vê em um regime forte a possibilidade de se
alcançar eficiência e utilidade.
Enquanto uma visão pragmática direciona o
homem para uma sociedade democrática e capitalista, o positivismo contribuía
para justificar a ditadura.Os pensadores que aparecem nesse período, para
sobreviverem, subordinam-se ao Estado Novo, em um regime ditatorial.
Capítulo
10 - Verdade e consciência em Alvaro Vieira Pinto
Vieira Pinto pretende colocar a ideia de que,
“ou aceitamos a inteira responsabilidade pela interpretação de nossa realidade,
ou continuaremos orbitando no conjunto dos países avançados do mundo”.
Vieira ignora e despreza toda a tradição
filosófica Ocidental, a fim de construir um discurso original. Ele trata com
certo desprezo a dissertação acadêmica, combatendo-a. Sua obra Consciência e realidade nacional é
dedicada à tarefa de pensar o desenvolvimento nacional, partindo do princípio
da necessidade de uma reconstrução do pensamento tradicional filosófico, a fim
de reler o subdesenvolvimento e a miséria existencial decorrente dele.
Vieira Pinto enfatiza o mundo enquanto
realidade nacional. Ele pensou a realidade brasileira sem considerar o sentido
global da ordem econômico-social e do pensamento, acabando por obscurecer sua
percepção da contemporaneidade. “O que se postula é a existência de um
pensamento autenticamente nacional, com uma diretriz de compreensão da
realidade nacional como se esta devesse emergir enquanto singularidade no
contexto da civilização ocidental”.
Para Vieira Pinto, uma consciência ingênua ou
alienação é aquela destituída do sentido de ser nacional, que deve surgir a
partir do “despertar das massas para a necessidade de superação do estado de
subdesenvolvimento”. Ele engajou-se em estabelecer um quadro de referência para
o desenvolvimento nacional, como “verdade absoluta, a partir de um radicalismo
reducionista”, em que não existe verdade fora do referente nacional.
Capítulo
11 - A Ideia de verdade no pensamento De Miguel Reale
Se em Kant o objeto será sempre para o
entendimento, em Miguel Reale a existência do objeto é um pressuposto para o
ato de experienciar. O eu transcendental deve ser concebido em sua natureza
dinâmica, de uma realidade concreta, visível, perceptível, apreensível, não
comandada pelo imperialismo da razão.
Para
Reale deve-se levar em conta o condicionamento histórico-social em que todo
conhecimento é produzido. Ele toma como tarefa a desconstrução do pensamento da
razão kantiniana, pois esta se mostra insuficiente para uma teoria do
conhecimento que leve em conta a totalidade de experiência humana.
Reale destaca que é necessário “fugir do
idealismo e encontrar o sentido da concretude do pensar, a despeito de todas as
contribuições do pensamento fenomenológico”.
Miguel Reale desloca a questão da relação
sujeito-objeto para uma perspectiva da interação consciência-mundo, em que a
consciência como intencionalidade exercerá papel importante na reiterada
exigência da dialeticidade que tem como tarefa a interpretação de homem e da
história, “na infinita abertura das suas manifestações”.
Capítulo
12 - A questão da educação no pensamento De Miguel Reale
“Para Miguel Reale, a essência do homem é o
seu dever ser”. A existência humana é uma realização que acontece no âmbito da
cultura, e nesse âmbito o homem se realiza através “das objetivações da
intencionalidade da consciência”. O homem enquanto ser existencial é dever-ser,
a experiência humana amplia o universo da cultura e é nesse universo de
experiências que os sentidos da história e da própria presença no mundo são
desvelados.
“Filosofia
é educação”, pensar a educação brasileira é trazer à tona indicadores que são
capazes de conceber o homem brasileiro enquanto presença situada
historicamente. O universo cultural é o mais importante, Reale afirma que “o
ser da pessoa humana tem essa especificidade radical, não só em relação aos
demais entes, mas também no que concerne ao ser em geral”.
O homem se autorrevela em seu fazer
histórico-cultural, na “descoberta e doação de sentidos ao originário mundo da
vida”.“A relação sujeito-objeto é deslocada para o originário problema da
interação consciência-mundo”.
O pensar filosófico, como a educação, não se
esgota em si mesmo, pois sempre haverá muitos estímulos que o impulsione a
educar-se e a transmitir aos outros essa educação. “Educar é, conduzir o
indivíduo na trilha da autoconsciência para que ele se descubra como dever-ser,
como valor-fonte de toda experiência possível”. Para Reale é função prioritária
da educação conduzir o homem a assumir um lugar de autorreflexão, em um
processo global de disposições que o torne capaz de harmonizar-se com o mundo
da cultura.
Para Reale a educação deve levar o homem
a se preocupar com o modo pelo qual “os objetos se tornam objetos para o
entendimento humano”.
Ao afirmar que a essência do homem é o seu
dever-ser, Reale indica que “a morada do homem é o espaço ético, a partir do qual
ele realiza sua experiência histórica”. Partindo desse pressuposto, a educação
deve ter como tarefa principal dar condições para que o educando “ingresse no
espaço do dever-ser como lugar histórico da sua realização”.
“É necessário que o processo educacional
abandone a prática do privilégio excessivo à pura e simples transmissão do
conhecimento e se inscreva no trabalho de reflexão sobre o ser da pessoa humana
que se pretende educar, na perspectiva de uma lógica que ultrapasse as
fronteiras da fragmentariedade e da dispersão para atingir o horizonte
englobante da cultura como único espaço de realização do homem na finitude da
história”.
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