segunda-feira, 18 de abril de 2016

SEMANA 6

O PLANO DE AULA

http://www.felipeguedes.com/dica-do-dia-018-ganhem-tempo-planejando/


Nos últimos anos, tem crescido a diversidade dos espaços, tempos ou modos de ensinar e aprender. Tomando como referência a escola, por exemplo, constatamos inovações na orga­nização do currículo (ciclo, módulo, para além da série; trabalho com temas geradores, pro­jetos, complexos temáticos, para além da lógica disciplinar instrucionista etc.). Entretanto, por maior que seja a diversidade da prática educativa, existem alguns princípios do ensinar e do aprender que são fundamentais, como por exemplo, a preparação de uma aula pelo professor. 

O planejamento é algo intrínseco ao ser humano. Entende-se por planejamento o processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando o melhor das atividades humanas. 

O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios e recursos disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações (PADILHA, 2001, p. 30).

Seguindo esse pressuposto, o plano de aula norteia o trabalho do professor, facilitando o acompanhamento da disciplina e a aprendizagem dos alunos. È importante, ao elaborá-lo, entender o que se espera dos alunos e como pretende-se chegar ao máximo com eles.


http://www.mafalda.net/

Identificação, Ementa, Objetivos, Conteúdo programático, Metodologia, Avaliação e Bibliografia são prontos essenciais de uma Plano de aula bem elaborado.
Segue modelo de Plano de aula:

PLANO DE AULA
Escola
EEEFM “PROMETEUS”
Série/Turma
1ª série EM
Área de Conhecimento
Ciências humanas e suas tecnologias
Componente curricular
FILOSOFIA
Professor (a)
Gislãyne da Penha Croce Ferreira
Carga Horária
 02 aulas de 50min
Ementa
Introdução aos estudos filosóficos: conceito de filosofia, principais fases de sua história e os problemas que a determinaram, sua importância para se entender os fundamentos do conhecimento humano.

ÉTICA E POLÍTICA EM ARISTÓTELES: VIRTUDE, JUSTIÇA, FELICIDADE E RAZÃO

CONTEÚDO
HABILIDADE
COMPETÊNCIA
O homem como animal político e indivíduo ético em Aristóteles
- Ler textos filosóficos de modo significativo;
- Articular conhecimentos filosóficos, diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Humanas e outras formas de produções culturais.

- Formular e propor soluções a problemas, resguardando o valor da pluralidade das concepções filosóficas;
- Valorizar o pensamento autônomo, inovador, crítico e comprometido cultural e historicamente pela interação com diversas opiniões;
Compreender o conhecimento como construção social e histórica o que implica uma visão crítica, comprometida e transformadora.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
-Compreender como se constitui a felicidade para Aristóteles, identificando quais elementos são determinantes, segundo Aristóteles, para a felicidade e o bem comum.
Objetivos Específicos
- Compreender a relação entre felicidade, virtude e razão prática em Aristóteles;
- Promover debates sobre conceitos pré-concebidos e desconstrui-los, proporcionando a reconstrução da moral;
- Elaborar, por escrito, o que foi apropriado de modo reflexivo.
METODOLOGIA
- Apresentação da proposta da 1ª aula.
- Leitura dialogada do tema em questão: Sobre o excesso e a falta (Texto 1).
Com base em exemplos sobre experiências de desmedida, analisar com os alunos as consequências explicando a ideia de justo-meio para Aristóteles.
- Exposição do Tema e contexto: O homem é um animal político (Texto 2)
Debate sobre comportamentos humanos cotidianos, levando à compreensão da ideia de virtude, prudência e equilíbrio ou justo-meio.
- Apresentação da proposta da 2ª aula.
- Ampliação: Ética e felicidade (Texto complementar)
Vídeo: Abra a felicidade (Tema da campanha publicitária da Coca cola referente ao Verão de 2012 – Fonte Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=E0UyRAFBj-Q)
- Atividade de contextualização: Roda de prosa e texto síntese
Debate a partir de experiências e vivências sobre o conceito de ética e como esse conduz o homem para a felicidade a partir da pergunta contida na ampliação: Contudo, para vencer esse desafio, como o homem deve viver?
Após, escrita de um texto síntese, com os principais conceitos e entendimentos acerca da temática.
AVALIAÇÃO
Os alunos serão avaliados a partir da observação de suas composições crítico-filosóficas ao longo das aulas.
Ainda, durante os debates e principalmente na Roda de prosa, precisarão apresentar fundamentos teóricos, estudados durante as aulas para expor suas opiniões sobre felicidade, ética, virtudes, razão, desejo, deliberação, moderação, justo-meio, justiça, sabedoria, faltas e excessos, política, alma, etc.
Elaboração de um texto síntese para avaliar a capacidade de entendimento dos conceitos e articulação dos mesmos através da escrita.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ARISTÓTELES. Ética a Nicômano. Trad. Mário Gama Kury. 4ed. Brasília: UNB, 2001.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
REALE, Giovanni. História da Filosofia antiga: II Platão e Aristóteles. Trad. Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola. 1994.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

ANEXO
Texto 1


















Texto 2































































Ampliação (Texto Complementar)

WATERHOUSE, John Wilian. Odisseu e as Sereias. 1891. 100 x 201,7 cm. National Gallery of Victory, Melbourne, Victoria, Austrália.


 “O que faz a marca específica do hoem é o pensamento e a razão que o segue. É a atividade intelectual. Nesta, encontra-se a fonte principal das alegrias do homem, ou seja, a fonte donde provém a verdadeira felicidade. Com efeito, a felicidade do homem consiste no aperfeiçoamento da atividade que lhe é própria, ou seja, na atividade segundo a razão. A subordinação da atividade sensível à atividade racional se impõe.; e o preço da felicidade humana é a condição moral humana.”
NODARI, Paulo César. A ética Aristotélica. In: Sítese. Nova fase. Belo Horizonte: UFMG, 1997. (Fragmento).
Vídeo:

PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-
pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001.
VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e
Projeto Político Pedagógico. São Paulo: Libertad, 2000.

SEMANA 5

A TENDÊNCIA NÃO CORRETA AO FIM: O MAL MORAL
https://etica-moral-equipo3.wikispaces.com/



Nesta semana, foram apresentadas as figuras do malvado na Ética Nicomaqueia.
Discutiram-se as formas que o indivíduo desvia-se do bem maior e do fim moralmente correto, principalmente, segundo Aristóteles, pela falta de maturidade ética, ou seja, pelo analfabetismo moral. A discussão foi calorosa.
Durante a discussão e, baseados no material didático, figuras ou mesmo perfis da ética aristotélica foram destacados.

Em princípio, o akolastos, que é o homem que, impulsionado pelos seus desejos e prazeres, faz as suas escolhas de forma indisciplinada e desregrada e, de maneira alguma se arrepende do que fez.

Posterior, o malakos que é um homem voluptuoso, que foge da dor e das suas responsabilidades a todo o custo.

Ainda, o theriothes, que é o homem fora dos padrões humanos, monstruoso assim por dizer.

Citou-se ainda o agente akrates que conhece o que é bom para tornar-se virtuoso, mas se deixa levar pelos desejos e vícios mundanos, não conseguindo controlar suas próprias ações e sendo controlado por elas.

Kakos ou moctheros é o homem vicioso por voluntariado, que desconhece o bem verdadeiro, mas toma o bem aparente como o bem verdadeiro. Prefere o mal ao bem e age por simples astúcia (panourgia). 

Como registro das discussões, foi proposto discutir a seguinte questão: Aristóteles distingue diferentes formas de falta de respeito dos valores morais. Quais tipos de “mal moral” se encontram hoje na vivência quotidiana? Quais são as causas que levam o homem a não respeitar o outro homem? Quais são hoje os principais problemas éticos que atormentam a sociedade?



Seguem algumas respostas bastante interessantes:

DISCUSSÃO A

Nas discussões finais de Ética II, somos convidados a refletir sobre o mal da humanidade, o mal moral. Aristóteles em seus pensamentos trouxe o conceito de felicidade de forma bem consistente, apesar de complexo, por vezes, mas supremo. Inata, que não encontramos pronta e vista como virtude concebida como prática da própria ação, realização de uma potência em ato.
Não nascemos virtuosos, a natureza nos potencializa tornando-nos capazes de virtudes, mas, essa capacidade necessita de escolhas, e, maturidade para tanto. Somente o homem racional e justo é capaz de decidir e escolher bem, sobre o que é bom e conveniente para si e para os demais.
A grande questão é que, nos dias atuais, há uma multiplicidade de valores e, alguns deles, contraditórios. De um lado observa-se o fortalecimento de virtudes coletivas, como a indignação diante de fatos como a desigualdade social, o desenvolvimento da solidariedade, a luta por justiça, pelo fim da corrupção. Do outro, vemos o individualismo e o hedonismo a qualquer preço, através do culto ao corpo, do consumismo, do prazer imediato. Comportamentos pautados na ambição e num capitalismo selvagem, ora citados pelos nossos colegas como a busca pela sobrevivência numa lei da selva, que, se realmente fosse uma lei, haveria culpados e inocentes, regras e limites.
O que quero refletir é que a formação das pessoas não é mais tarefa atribuída somente a um grupo específico de pessoas, como, por exemplo, família, escola, Igreja. Hoje, diversos grupos se incubem de formar o cidadão e, novas formas de convivência social funcionam como locais de troca de experiências e modelos de comportamento e não mais como referências na construção de valores. Nesses ambientes, prevalece a ética de grupos que, geralmente, se sobrepõem à ética individual. Atitudes como certas e erradas agora variam conforme o contexto e não mais com a máxima à qual devem ser tratadas...
Houve uma diversificação nos valores éticos, morais e comportamentais, o que trouxe uma nova conceituação do que é virtude e do que é vício, também bastante discutido por Aristóteles.
É preciso re - educar, refletir. É tarefa de cada um criar sua consciência moral, não imposta de fora, mas, para que isso aconteça de forma íntegra, acredito que a Filosofia seja o caminho. Ela não é normativa como uma religião ou como o jurídico, não indica como as coisas devem ser, mas propõe uma reflexão aberta, despida de preconceitos. Um papel crítico importante que nos está fazendo pensar - a máxima da felicidade, nos conflitos da humanidade em busca de soluções simples, mas valiosas, dessa vez, nos princípios éticos e morais.
Para pensarmos um pouco, exponho O mito do anel de Giges, que integra A República de Platão que nos faz refletir sobre desejos, honestidade e moralidade, dentre outros conceitos que surgem no decorrer da leitura e de nossos pensamentos...

Giges era um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegando, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o, e assim tomou o poder.

Para finalizar, encontrei essa discussão do prof. Clóvis Barros, irreverente por seus pronunciamentos, que também menciona a questão das escolhas e da honestidade frente ao que é certo e errado. Vale a pena conferir.

DISCUSSÃO B

Aristóteles aponta diversos traços de personalidade mau caráter presentes na humanidade. Esses traços reportam-nos a nossa realidade atual e ao comportamento moral de nossa sociedade. Vemos a indiferença como fator mais preocupante no que concerne a ação humana em sociedade. É notório que nossa humanização se configura na existência do outro, somos interdependentes, estamos vivos pelo simples fato de termos sido cuidados por outro ser humano, agimos, pensamos, expressamos sentimentos, porque somos espelhos que refletimos uns aos outros.
Infelizmente a medida que vamos crescendo, nos tornamos mais "autossuficientes”, ou pelo menos acreditamos nisso, isolamo-nos das macro preocupações nos restringindo cada vez mais ao nosso "mundinho”. Somos egocêntricos, insensíveis, mesquinhos, interesseiros, hipócritas, mas isso não nos parece evidente em nós, mas no outro, vemos os defeitos alheios, mas somos cegos e iludidos quanto ao que somos.
Deparamo-nos com muitas falas de pessoas que se julgam "cheias de verdade e razão”, que justificam uma ação errada e consciente a partir do erro do outro, não se reconhecendo de fato na ação, agindo motivadas pela desculpa de que o outro é quem começou e isso basta como justificativa, queremos parecer autônomos, mas não assumimos nossa ação como uma escolha, pois nos escondemos atrás de desculpas que visam tirar de nós a responsabilidade do ato, o meu agir não depende mais de mim e dos meus valores, e sim do que meus impulsos me dizem, então minha razão se perde e deixa de ser importante quando o que de fato vale é o "não levar desaforo para casa”.
Esse pensamento tem levado a humanidade a ações animalescas, irracionais, impensadas, impulsivas que banalizam a atitude violenta em todos os níveis, a prioridade "sou EU”, e isso é buscado com todas as forças, não admitimos perder ou fracassar, e quando isso acontece procuramos culpados.
"Respeito quem me respeita, caso contrário...” ouvimos pessoas usarem esse tipo de expressão como se fosse um princípio louvável, mas, afinal, a quem corresponde a decisão de nossas ações? A nós mesmos ou ao outro? Onde eu estou de fato nessa atitude se o meu agir depende do que o outro diz, se respeitar não parte de mim, mas da atitude do outro? Em que momento eu sou eu no agir? Existe um eu ou só uma mistura de outros "eus” que anulam o meu ser verdadeiro que sequer reconheço?
Os valores mudaram, mas não evoluíram, precisamos o tempo todo de ações que nos façam lembrar que somos HUMANOS, e que determinadas atitudes devem estar associadas a essa condição. Estamos nos perdendo e não temos dado conta disso, vivemos em uma situação de disputa do mais forte, que julga possuir uma total independência em relação ou outro, num processo de decadência dos valores humanos, e ainda nos gabamos por sermos homo sapiens e termos como diferencial o "pensar”. 
"A virtude moral é uma consequência do hábito. Nós nos tornamos os que fazemos repetidamente. Ou seja: nós nos tornamos justos ao praticarmos atos justos, controlados ao praticarmos atos de autocontrole, corajosos ao praticarmos atos de bravura." Aristóteles



SEMANA 4


O VOLUNTÁRIO E O INVOLUNTÁRIO, CONDIÇÃO PRÉVIA DA HARMONIZAÇÃO ENTRE A INCLINAÇÃO NATURAL E A RAZÃO PRÁTICA

A proposta de estudo da semana está relacionada a compreensão de que para que o homem deseje bem ele precisa usar a razão no interior do desejo, ou seja, o desejo precisa ser totalmente modificado de algo puramente irracional para se tornar um novo desejo, agora reformulado pela razão.

Aristóteles propõe um problema bastante complexo, para ele a parte irracional tem a capacidade de seguir a razão. Para tanto ele aponta para a noção de voluntariedade que traz consigo outras duas noções intrínsecas à responsabilidade ética, que correspondem à noção de deliberação e a noção de escolha. As ações voluntárias são resultado de escolhas, portanto somente esse tipo de ação pode ou não ser louvada ou censurada, ocasionando virtude ou vício dependendo dos caminhos trilhados para alcançar determinado fim.

Aristóteles afirma que só há responsabilidade ética quando o ato é voluntário, pois quando o ato é totalmente involuntário devido à ignorância das circunstâncias particulares ou coerção externa, o agente não o faz por escolha. O filósofo também ressalta que muitos atos a princípio involuntários, a partir do momento em que dão condições de escolha ao agente, passam a ser voluntários, por menor que seja a participação do agente na escolha ainda assim a ação torna-se voluntária, contudo a ação em si é involuntária, pois o agente não escolhe por si mesmo. Toda ação onde o agente é forçado ao ato é ação involuntária, pois o ato voluntário não se dá por coerção ou força, contudo para o filósofo as ações por impulso ou vontade são voluntárias. 

Para qualificar a ação como voluntária existem dois pressupostos: a ação deve ser impulsionada pelo próprio agente e o agente deve conhecer as circunstâncias particulares em que está agindo. Há que se fazer um parêntese em relação ao ato involuntário que parte da ignorância das circunstâncias, principalmente quando a ação tem um desfecho ruim, pois quando o agente se arrepende esse ato é involuntário, mas quando não há arrependimento o ato é considerado não voluntário, pois se relaciona com o conhecimento de uma ou mais circunstâncias particulares.

Aristóteles descreve o problema da ignorância a partir de duas possibilidades: a ignorância geral, ou seja, o agente desconhece as regras e costumes gerais, e a ignorância na escolha deliberada, em que o agente expõe seu desconhecimento quanto à proibição do emprego de determinados meios para se obter um fim.

Com relação à deliberação, essa não diz respeito ao fim que se busca, mas sim a escolha dos meios que devem ser utilizados para alcançá-lo. Aristóteles precisa de uma relação que torne o homem responsável da ação pelo fato de que ele poderia ter feito outra coisa que estava em seu poder. Para ele o homem adulto deve ter sido educado para agir de forma correta, pois o hábito faz com que o ato passe a pertencer ao homem de uma forma forte e direta.

A razão delibera os meios para alcançar aquilo que o desejo quer (finalidade), para isso não basta escolher os instrumentos da ação, mas muito mais do que isso, o desejo deliberado depende da maneira como o agente se comporta para alcançar o fim. A escolha é consequência de uma ponderação racional quanto aos meios utilizados para alcançar um fim, e esta racionalização conduz a um desejo deliberado que, por intervenção da razão, resulta na reformulação do desejo, ou seja, um desejo em função daquilo que a razão deliberou.

SEMANA 3

A VIRTUDE DA RAZÃO PRÁTICA

Nessa semana foi abordada a relação entre a virtude ética e a virtude dianoética, a primeira correspondente a parte irracional da alma responsável pelo desejo, e que necessita da intervenção constante da razão, e a segunda relativa a excelência da função exercida pela parte racional da alma que visa a utilidade prática da ação.

A atividade proposta nessa semana foi o fichamento do livro VI da Ética a Nicômaco. Nesse livro Aristóteles trata da essência da virtude moral como a justa medida ou justo meio, que consiste na harmonia ou equilíbrio entre dois extremos: a falta e o excesso. Ele destaca que para se alcançar tal equilíbrio devemos cultivar bons hábitos, os quais, por meio da razão, nos conduzirão a justa medida no que concerne aos anseios despertados pelas emoções.   

 


A seguir o fichamento do livro VI da Ética a Nicômaco que ilustra esse Pensamento:

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, tradução e notas: Luciano Ferreira de Souza. São Paulo: Martin Claret, 2015.




1-  [...] existe um determinado fim para o qual, [...], visa o homem que possui a razão correta, [...] e existe um princípio que determina os meios-termos, que dizemos ser um estado intermediário entre o excesso e a falta, pelo fato de estar em conformidade com a razão correta. [...] em tudo o que é objeto da ciência, [...] não devemos empregar ou diminuir o nosso esforço, [...] mas de modo mediano, e isso como pede a razão correta; [...]. (pág.153)

2-  Anteriormente dissemos que havia duas partes da alma, a saber, a parte racional e a parte irracional. [...] as partes racionais são duas, uma pela qual contemplamos esses tipos de seres cujos princípios podem ser diferentes do que eles realmente são, e outra pela qual nós conhecemos as coisas contingentes; quando, de fato, os objetos diferem em gênero, as partes da alma adaptadas naturalmente ao conhecimento uns dos outros devem também diferir em gênero, se é verdade que é por certa semelhança e afinidade entre o sujeito e o objeto que se encontra o conhecimento. Chamemos uma delas de parte científica, e a outra de calculativa, pois deliberar e calcular são o mesmo, [...] a parte calculativa é somente uma parte racional da alma. [...] a virtude de uma coisa é relativa ao seu próprio funcionamento.
Ora, existem na alma três fatores predominantes que determinam a ação e a verdade: sensação, intelecto e desejo. Desses fatores, a sensação não é o princípio de nenhuma ação [...].
A afirmação e a negação estão no pensamento e correspondem à busca e à aversão no domínio do desejo; [...] portanto, que a razão seja verdadeira e o desejo correto, se a escolha é realmente boa, e que exista identidade entre o que a regra afirma e o que o desejo busca. (pág. 154)

3-  [...] o pensamento contemplativo, que não é nem prático nem produtivo, seu estado bom e mau consiste no verdadeiro e no falso [...] enquanto a parte do intelecto prático, seu bom estado consiste na verdade que corresponde ao desejo, ao desejo correto.
O princípio da ação é assim uma escolha [...] o princípio da escolha é o desejo e a razão dirigida para algum fim. [...] a escolha não pode existir nem sem o intelecto e pensamento, nem sem uma disposição moral, pois as boas e más ações não existem sem pensamento e sem caráter. (pág. 155)

4-  [...] as duas partes intelectuais da alma tem por função a verdade.
[...] O objeto do conhecimento científico existe então necessariamente, e ele é eterno, pois coisas que existem por uma necessidade absoluta são todas eternas.
Além disso, considera-se que toda ciência é suscetível de ser ensinada, e que seu objeto pode ser aprendido. Mas todo ensinamento dado vem de conhecimentos preexistentes, [...]. (pág. 156)

5-  [...] um homem tem conhecimento científico quando tem sua convicção estabelecida de certa maneira, e que os princípios lhe são familiares [...].
[...] Produção e ação são distintas [...], de modo que a disposição para agir, acompanhada de razão, é diferente da disposição para produzir acompanhada de razão. [...] nem a ação é uma produção, nem a produção uma ação.
Toda arte diz respeito sempre a uma geração, a um aplicar-se em inventar e considerar, de modo a dar existência a alguma coisa que é suscetível de existir ou não, mas cujo princípio de existência reside em quem produz, e não no que é produzido. (pág. 157)

6-  [...] é necessário que a arte surja da produção e não da razão; [...].
[...] Parece que é próprio de um homem dotado de sabedoria prática ser capaz de deliberar corretamente sobre o que é bom e vantajoso para si mesmo, não de uma parte, [...], mas de uma maneira geral, quais tipos de coisas, por exemplo, conduzem para uma vida feliz.
[...] possui sabedoria prática aquele que é capaz de deliberação. [...] (pág. 158)

7-  [...] dotados de sabedoria prática, [...] possuem a capacidade de ver as coisas boas por si mesmas e o que é bom para os homens, e tais são também, pensamos, as pessoas que se dispõem para a administração de uma casa ou de uma cidade. [...]
[...] os princípios de nossas ações consistem no fim para o qual tendem nossos atos; mas ao homem corrompido pelo prazer ou pela dor, o princípio não se mostra de modo imediato, e ele é incapaz de ver, por isso, qual fim ele deve escolher e realizar aquilo que escolhe, pois o vício é destrutivo do princípio. A sabedoria prática deve, [...] ser necessariamente uma capacidade acompanhada de razão verdadeira, capaz de agir no que diz respeito aos bens humanos. [...] existe uma virtude na arte, mas não na sabedoria da prática; na arte, é preferível o homem que erra voluntariamente, enquanto que na sabedoria prática, assim como em relação às outras virtudes, é o inverso que ocorre.
[...] a sabedoria prática é uma virtude e não uma arte. [...]. (pág. 159)

8-  [...] a razão intuitiva que apreende os primeiros princípios.
[...] não queremos dizer por sabedoria nada além do que a excelência em uma arte. [...] (pág. 160)


9-  [...] a sabedoria, dentre as formas de saber, é a mais perfeita. [...] a sabedoria será a combinação de razão intuitiva e conhecimento científico, ciência que possui a parte mais nobre das coisas mais dignas de honra.
[...] a sabedoria filosófica é ao mesmo tempo conhecimento científico e razão intuitiva das coisas que são, por natureza, as mais elevadas. [...]. (pág. 161)

10-        [...] a sabedoria prática relaciona-se às coisas humanas e às coisas que admitem deliberação, pois o homem dotado de sabedoria prática, dizemos, tem por obra principal o bem deliberar; [...]. O bom deliberante, no sentido absoluto, é o homem que se esforça, racionalmente, para atingir o melhor dos bens realizáveis pelo homem.
A sabedoria prática não se ocupa somente das coisas universais, mas ela deve ter também o conhecimento dos fatos particulares, pois ela é de ordem prática, e a ação se relaciona com as coisas particulares. [...]
[...], sabedoria prática é de ordem da ação, de modo que deveríamos possuir as duas espécies de sabedoria e, de preferência, mais a segunda do que a primeira. [...]. (pág. 162)

11-        [...] a sabedoria prática também se identifica especialmente com aquelas formas no que diz respeito à própria pessoa, isto é, um indivíduo; [...].
[...] aquele que conhece seus próprios interesses e com eles se ocupa, é um homem dotado de sabedoria prática, [...]. (pág.163)

12-        [...] não parece existir um homem jovem dotado de sabedoria prática. A causa disso é que tal sabedoria tem relação não só com os universais, mas também com os particulares, que se tornam familiares somente por experiência – experiência que o jovem não possui – pois é pela força do tempo que se adquire experiência. [...]
Que a sabedoria prática não é conhecimento científico, isso é uma coisa manifesta. Ela se ocupa, de fato, sobre o que há de mais particular, como já foi dito, pois a ação a ser realizada é ela mesma particular. Ela, portanto, se opõe à razão intuitiva, [...] enquanto que a sabedoria prática se relaciona com o que existe de mais individual, o qual não é objeto de conhecimento científico, mas da percepção, e não da percepção das qualidades sensíveis, mas uma percepção daquela natureza pela qual nós percebemos que tal figura particular é um triângulo, pois nessa direção e na premissa maior existe um limite. [...] (pág. 164)

13-        [...] a boa deliberação é uma forma de investigação, e aquele que delibera investiga e calcula. [...] a deliberação exige muito tempo, [...].
[...] a boa deliberação é um tipo de correção, [...].
[...] que ela seja correção do raciocínio, pois ele não é ainda uma asserção, [...] e o homem que delibera, quer delibere bem, quer delibere mal, busca alguma coisa e calcula. (pág. 165)

14-        [...] os homens dotados de sabedoria prática têm por característica o fato de ter deliberado bem, a boa deliberação será a correção no que diz respeito ao que é útil para a realização de um fim, utilidade cuja verdadeira concepção é a sabedoria prática em si. (pág. 166)

15-        [...] A sabedoria prática é, de fato, diretiva (pois ela tem por fim determinar o que é nosso dever fazer ou não fazer), enquanto que a inteligência é somente judicativa. [...].
A inteligência não consiste nem em possuir a sabedoria prática, nem em adquiri-la. [...]
O que é chamado, enfim, discernimento, [...] é a discriminação correta do que é equitativo. [...] E o discernimento é o que aprecia corretamente o que é equitativo; e o discernir corretamente é julgar conforme a verdade. (pág. 167)

16-        [...] ser um homem inteligente ou de discernimento bom e humano consiste em ser capaz de julgar as coisas que entram no domínio da sabedoria prática, enquanto as equidades são comuns a todas as pessoas de bem em suas relações com o outro.
[...] os casos particulares servem de ponto de partida para atingir as coisas universais. Nós devemos, porém, ter uma percepção dos casos particulares, e essa percepção é razão intuitiva. [...] Por isso a razão intuitiva é ao mesmo tempo princípio e fim, coisas que são ao mesmo tempo origem e objeto das demonstrações. [...] (pág. 168)

17-        [...] A sabedoria teórica, de fato, não estuda nenhum dos meios que podem tornar um homem feliz, já que ela não diz respeito ao devir. A sabedoria prática, por outro lado, preenche bem esse papel, [...]. (pág.169)

18-        [...] a sabedoria filosófica produz a felicidade, pois sendo uma parte da virtude total, é pela simples possessão e pelo seu exercício que ela torna o homem feliz.
[...] a própria alma do homem só é completa quando está em conformidade com a sabedoria prática, assim como com a virtude moral; a virtude moral, com efeito, assegura a exatidão do fim que perseguimos, e a sabedoria prática, aquela dos meios para alcançar esse fim. [...]. (pág. 170)
19-        [...] para ser um homem bom, é necessário ter uma certa disposição quando pratica cada uma dessas ações, isto é, eles devem ser feitos por escolha deliberada, e em vista das próprias ações que são realizadas.
[...] a impossibilidade de se possuir sabedoria prática sem ser virtuoso.
[...] O caso da virtude é, de fato, análogo ao da sabedoria prática em relação à habilidade. [...]. (pág. 171)

20-        [...] do mesmo modo que para a parte que opina se distinguem dois tipos, a habilidade e a sabedoria prática, na parte moral também haverá dois tipos, a virtude natural e a virtude propriamente dita, e dessas duas virtudes a virtude propriamente dita não é produzida sem ser acompanhada de sabedoria prática. [...]. (pág. 172)

21-        [...] não é possível ser um homem bom no sentido estrito, sem a sabedoria prática, nem possuir tal virtude sem a virtude moral. [...]. (pág. 173)