segunda-feira, 18 de abril de 2016

SEMANA 1

O CONTEXTO ÉTICO ANTERIOR A ARISTÓTELES E OS CONCEITOS-CHAVE DA ÉTICA ARISTOTÉLICA


É no diálogo “A República” que Platão fornece suas melhores argumentações com relação ao discurso ético sobre a felicidade no homem a partir da felicidade na cidade, um modelo perfeito, lugar onde as pessoas encontrariam a felicidade, porque viveriam de acordo com a sua própria natureza, tornando-se aptas a fazerem a escolha certa entre os valores e a agir de forma correta, uma vez que teriam a possibilidade do autoconhecimento através da educação, ou seja, o conhecimento da sua própria natureza, com suas qualidades e habilidades.
Três classes compõem a sociedade na cidade justa (os artesãos e profissionais em geral, responsáveis pela produção, os guerreiros e guardiões e os administradores ou governantes), assim como três partes estruturam a alma. Essas três almas têm uma relação direta com a nossa forma de agir, o nosso comportamento, uma vez que todos nós pensamos, temos desejos, paixões e emoções, prevalecendo em cada um alguma dessas situações, portanto ele afirmava que cada um de nós tem três almas distintas: A alma concupiscível, localizada no ventre, responsável pelos desejos e paixões; a outra localizada no peito, denominada alma irascível, ligada à ira, à irritação, sentimentos e emoções; e a alma racional, que se localiza na cabeça e é responsável pelo pensamento.

Nesse caso, a condição ideal para o ser humano é o predomínio da alma racional, que controlaria o corpo, dosando com o pensamento e o planejamento, nossas emoções e desejos.
O conceito de felicidade é imediatamente relacionado com o conceito de justiça. A justiça, então, consiste no ato de cumprir a tarefa própria e não interferir nas tarefas das outras partes ou classes (PLATÃO, A República IV 432b-434c). Portanto, aquele que age mais de acordo com a sua própria natureza é qualificado virtuoso (característica que cada indivíduo tem e o faz capaz de fazer o bem para si mesmo e para os outros), sendo o principal valor compartilhado pelos cidadãos da cidade justa, porque é justamente o que move suas ações e o possibilita alcançar a felicidade.
Nos escritos de Aristóteles, Ética Nicomaqueia, Ética Eudemia e posteriormente Magna Moralia, tem o objetivo de resumir seu raciocínio, ou seja, tratar da felicidade; introduzir as noções essenciais à sua compreensão, isto é, as noções de virtude moral e intelectual e a ética que implica uma ação racional, ou seja, pensada. A ética Aristotélica ensina a viver de acordo com o caráter, a disposição natural de cada um e, portanto, não se trata de agir de modo predeterminado. Para ele aprendemos a viver eticamente a fim de evitar o vício e alcançar a virtude através do desenvolvimento da prudência.
Aristóteles afirma ainda que, que a felicidade é o maior bem, pois tem seu fim em si mesmo. Sendo assim, se soubermos conduzir nossas ações de forma virtuosa, agindo racionalmente, com prudência e autonomia e distante dos vícios, seremos pessoas melhores e felizes e é essa harmonia entre emoção e razão que fará com que um bem almejado seja alcançado por meio das ações, pois é em nome do supremo bem para a ação humana, a felicidade, que fazemos tudo, portanto, a virtude moral baseada nos hábitos e nos costumes está ligada à parte irracional da alma, que precisa ser educada para agir adequadamente e deliberar nas escolhas das ações. Já o agir ético que utiliza a racionalidade e assim é capaz de submeter suas escolhas e suas ações de forma refletida, age virtuosamente e poderá alcançar a felicidade.
   

Uma wiki foi produzida após a leitura do material didático e do envolvimento com a obra A República de Platão, mais especificamente com o o Livro IV, que resumisse, explicasse e problematizasse a tripartição da cidade e da alma (relação entre macrocosmo e microcosmo), de Platão. eis o resultado dessa interação:





A tripartição da cidade e da alma


O livro "A República" de Platão tem como tema central a justiça. O tema é explorado a partir da exposição de diálogos em que Sócrates é o protagonista e suas argumentações são as principais responsáveis pelo prolongamento do debate que desperta nos interlocutores expectativas quanto ao seu desfecho.

Ao longo do diálogo o tema justiça vai sendo trabalhado e discutido a partir de vários apontamentos, alguns inclusive divergentes, mas que servem de base para fortalecer o diálogo em direção a respostas mais próximas da verdade.

Esse trajeto argumentativo reflexivo em busca da compreensão de justiça conduz o discurso para a organização de uma cidade ideal, tornando-a palco e sustentáculo necessário para a existência da justiça.

São indicadas diversas necessidades para que a cidade ideal se estabeleça com justiça, dentre elas: a cidade não pode ser pobre nem rica, ela deve ter uma unidade interna, cada cidadão deve cumprir com suas funções, ou seja, seus cidadãos devem ter sua função social ajustada ao que destinou a natureza, dividindo assim, a sociedade em classes baseadas nas virtudes mais determinantes de cada um.

Platão apresenta uma estruturação da cidade e da alma em três partes que, por sua vez, representam uma unidade entre si e no todo:


1. Cidade:


a. Os produtores: Responsável pela produção de todos os produtos para o sustento da cidade.


b. Os guardiões: Responsável de guardar a cidade.


c. Os governantes: Responsável de administrar a cidade, àqueles dotados da razão.

2. Alma:


a. Concupiscível - Responsável pela satisfação dos desejos. Localiza-se no baixo-ventre e permite adquirir moderação, temperança.


b. Irascível - É o que dar ânimo para resolver os conflitos e agir. Localiza-se no coração e permite a aquisição da coragem, a partir da impetuosidade e da manutenção dos sentimentos.


c. Racional - É o que controla ou modera a parte concupiscível e irascível. Localiza-se na cabeça e permite a aquisição da sabedoria e da prudência.

Assim as pessoas de caráter concupiscível seriam responsáveis pela produção, os artesãos e profissionais em geral e portanto viveriam de forma absolutamente livre. Os de caráter irascível, aqueles que vivem de acordo com as emoções seriam os guerreiros, os guardiões da cidade, pois viveriam de acordo com a sua coragem e as pessoas de caráter racional seriam os administradores, responsáveis pelas atividades de gestão, pois seriam capazes de governar com justiça. 

A teoria das ideias de Platão está diretamente relacionada à sua teoria da alma. Ao conceber o homem como corpo e alma em que o primeiro envelhece e a segunda permanece imutável e divina, dinâmica, ele entende o conhecimento como um processo de reminiscência e a inteligência torna-se guia da alma. A partir desses direcionamentos, ele entende a alma subdividida, como apresentado anteriormente e há uma necessidade de dominação dos desejos e entendimento do bom senso para que o homem chegue ao bem e à verdade. Ele traduz a felicidade como domínio dos sentimentos através da razão.

Para Platão é importante que toda a cidade fosse feliz, sendo assim, nenhuma classe poderia usufruir de uma felicidade superior a de outra classe, e todos, independentemente de ser o governante, o guardião ou o produtor, deveriam possuir a mesma felicidade, mas para haver essa felicidade, era necessário haver justiça.

Virtudes relacionadas:


Temperança: Virtude que domina ou disciplina os prazeres e desejos.(Produtores)


Coragem: Virtude de não se deixar levar pelos prazeres, dores, medos ou paixões. (Guardiões)


Sabedoria: Capacidade de contemplar as formas e distinguir a maneira correta do Estado se comportar. (Governantes) 

Para Platão, quando investigamos o que é justiça para a cidade, conseguimos alcançar a ideia de justiça também em cada indivíduo. Ele acredita ser mais fácil primeiramente observar a justiça na cidade, por conta das suas dimensões mais visíveis, para, em seguida, observar a justiça na alma do homem em suas dimensões menores. Assim, estabelece uma relação entre o macrocosmo e o microcosmo, de modo que, ali onde está a cidade justa, está o indivíduo justo. Trata-se de perceber a existência de um terceiro elemento além desses dois maiores, no qual é cunhado o sensível pelo inteligível. Cabe transmitir não só as formas do inteligível, mas também as virtudes, fazendo uma espécie de ponte entre as duas extremidades, entre o sensível e o inteligível.


Mas o que é a justiça na cidade e na alma humana?

Considerando que cada uma das três classes da cidade e cada uma das partes da alma humana possuem funções bem próprias, específicas, Platão entende que a justiça corresponde à realização do que é próprio a cada uma delas de modo que uma não deva interferir na tarefa das outras classes ou partes. Nesse sentido ele visualiza e busca uma harmonia totalizante tanto entre as classes existentes na cidade, quanto entre as partes da alma, estabelecendo ainda uma correspondência particular entre a cidade e a alma. Essa correspondência é observada nas ações virtuosas dessas classes e partes, isto é, uma ação é considerada virtuosa quando é realizada de maneira excelente. A sabedoria é uma virtude comum tanto à parte governante da cidade (os governantes) quanto da alma (a razão). De modo semelhante, a coragem é uma virtude comum à parte que defende a cidade (os guerreiros) e à parte impulsiva da alma (as emoções), bem como a temperança estaria presente tanto na parte que sustenta a cidade (os produtores) quanto na parte da alma que dá base à nutrição e à procriação humana (a vegetativa ou desiderativa).


Desse modo, cada classe contribuiria com as necessidades da comunidade e teria condições de viver de acordo com a sua natureza, sendo considerado virtuoso aquele que age mais de acordo com a sua própria natureza e faz com que seja capaz de fazer o bem para si mesmo e para os outros, pois a virtude é o principal valor compartilhado pelos cidadãos da cidade justa, porque é o que move suas ações.

No livro IV de "A República", a justiça aparece como o princípio que norteia as decisões, pois estas são tomadas pela sabedoria de quem governa a cidade. Há uma clara relação entre justiça e sabedoria à medida em que as partes da alma e os cidadãos da cidade só podem realizar algo utilizando a razão, porém fazendo com que a cidade se divida em categorias de forças opostas a distinguir os governos injustos - marcados por uma divisão interna que não leva em conta os reais propósitos de cada uma de suas forças rivais, onde a função que tornara possível a sua harmonização.


O estado nasce porque nenhum homem é independente, eles possuem diversas necessidades, não sendo ninguém suficientemente habilitado para que seja capaz de sozinho atender todas as suas necessidades pessoais, sendo assim, todo e qualquer homem precisa da ajuda de outro homem, que exerça profissões diferenciadas para assim atender as necessidades uns dos outros. Deste modo, a cidade vai se tornando excelente através da sabedoria, usada tanto no âmbito privado como no coletivo.

Segundo Platão, o estado surge da divisão de trabalho e da especialização, gerada pela necessidade dos homens. Após construir uma cidade há uma necessidade de defender a cidade de pessoas que querem se apoderar de suas riquezas e da terras, e essa necessidade de autodefesa, gera a divisão do trabalho, que surge também da necessidade de uma classe de indivíduos capacitados nas artes Bélicas, sendo preciso distingui-las das demais.

É importante destacar que, mesmo sendo a justiça um bem maior para a cidade e necessária para a organização da mesma, a cidade verdadeira também está sujeita à injustiça. É possível observar que a justiça e a injustiça existente em uma cidade pode partir de qualquer classe, quando uma não se satisfaz do que lhe é apresentado.

O filósofo Sócrates divide a cidade em três classes, mas para ele o indivíduo só poderá exercer uma atribuição, com precisão, na função destinada para ele, ou seja, naquela que na vida desse cidadão se apresenta como habilidades que quando executadas demonstram segurança na sua função.

Assim, a cidade deveria ter uma classe produtiva, ou seja, com cidadãos que cuidassem da agricultura, do artesanato e do comércio, cuidando dos interesses materiais da cidade. Também era necessária a classe dos guardiões, cidadãos que zelavam pela segurança, e a classe dos governantes que era composta por cidadãos responsáveis em comandar a cidade e em tomar decisões, de maneira que atendesse aos interesses de cada classe na sua individualidade e da cidade em geral.

Para Sócrates a cidade ideal pensada por ele tinha base, fundamentos e virtudes, dentre as quais a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça se destacavam em nível de importância. Logo, a justiça reside em cada cidadão que cuida e zela por suas funções e habilidades naturais, e por conseguinte, na cidade que se organiza visando o bem comum, onde não existe indivíduos, mas sim cidadãos.

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