quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PARTE I - APRESENTAÇÃO



EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO

Como método avaliativo do semestre ou, como o Mapa de Atividades apresenta para nós, estudantes de Filosofia, a Checagem de Conteúdos prevista para esta semana na disciplina de Evolução do Pensamento Filosófico e Científico, ministrada pelos professores Filicio Mulinari e Silva e Cláudia Pereira do Carmo Murta e acompanhada pelos tutores Marcos Roberto Silva Caliari e Bruno Abílio Galvão, é realizar um Seminário sobre um dos temas expostos durante as seis semanas de estudos. A apresentação oral acontecerá no encontro presencial e as temáticas serão expostas neste blog.
A temática escolhida pelo grupo foi a exposta na Semana 1, sobre Ciência, Religião e suas fronteiras.

O grupo é composto pelos acadêmicos Beneir Cunha da Silva Junior, Cristiani Lopes Silva, Gislayne da Penha Croce Ferreira, Kerly Nunes de Souza e Maria Elizabeth Ribeiro.

PARTE II - CIÊNCIA, RELIGIÃO E SUAS FRONTEIRAS

1      Entre ciência e religião

1.1 Traçando uma fronteira conceitual

A ciência sempre procurou atestar empiricamente suas teorias, para tratá-las como verdade, mesmo assim, a medida que investiga, muitas vezes encontra outras verdades que são capazes de invalidar as antigas. O homem pauta o conhecimento a partir do que é capaz de compreender intelectualmente, e muitas vezes ignora ou descarta aquilo que foge ao seu entendimento.
Os conceitos de ciência e religião parece-nos conhecimentos totalmente distintos, que um não deve envolver-se com o outro, pois isso acabaria com suas essências e, consequentemente, com o que cada um é. Em outras palavras ciência deixaria de ser ciência e religião deixaria de ser religião.
Para entender melhor essa suposta contradição entre ciência e religião é importante conhecer suas origens. O termo religião era pouco utilizado antes do século XIX, seu sentido estava relacionado ao termo religio que significava piedade ou adoração e estava diretamente relacionado à tradição cristã. Após o século XIX o termo foi ganhando novos significados e usos.
Ao redor do termo religião existem algumas conceituações etimológicas como: religare que significa religar o homem à Deus; relegere, do latim, que se relaciona ao ato de releitura e interpretação dos textos bíblicos sagrados; e, atualmente, com uma conotação mais universal, considera um conjunto de crenças que associam o que é humano ao transcendente.
Já o termo ciência, como é conhecido atualmente, surgiu no século XIX, popularizado por William Whewell ao se referir aos praticantes de diversas áreas da filosofia natural.
Muitos filósofos da ciência  buscaram delimitar limites entre ciência e religião. Por exemplo: para Karl Popper a ciência, diferente da religião, possui hipóteses falsificáveis e Charles Alan Taylor defende que os limites entre ciência e religião variam de acordo com o contexto histórico que os cercam.
Normalmente distingue-se ciência de religião atribuindo àquela o conhecimento do que está ligado ao mundo natural e a esta ao mundo sobrenatural. Essa restrição da ciência ao mundo natural é chamada de naturalismo metodológico, que têm como objeto de estudo entidades naturais e não sobrenaturais, apesar de não desconsiderá-las. Os conceitos de ciência e religião não se resumem a uma definição única e imutável, pois suas vertentes irão variar de acordo com a delimitação do que se quer conhecer e por quais meios.

1.2 Uma complexa relação

Desde a antiguidade clássica filósofos, teólogos e cientistas estudam a relação que há entre ciência e religião. A ciência é conhecida pela sua eficácia, razão, experiência e evidência, já a religião é conhecida por seu caráter de revelação, fé e sacralidade.  Elas são passivas de mudanças de acordo com o contexto histórico. A religião é responsável por diversas inovações cientificas e técnicas anteriores a Revolução Cientifica.
Os séculos VIII e XIII é marcado pelo período denominado como Renascimento ou Idade de Ouro Islâmico.  Neste período houve várias contribuições em diversos setores cultural da região, beneficiando a tecnologia, a navegações a literatura, a artes e a indústria. Que ajudou no desenvolvimento da sociedade.
Segundo o físico e teólogo John Polkinghorne, a ciência e religião pode ser caracterizada através de quatro eixos:

·         Como disciplinas conflitantes;
·        Como disciplinas independentes;
·         Como disciplinas que podem dialogar entre si;
·        Como disciplinas que abrangem a mesma área.

1.2.1 Incompatibilidade
         A teoria da evolução e a religião possuem incompatibilidades. E muitos pensadores usam desta incompatibilidade para definir a relação entre fé e ciência. Para Richard Dawkins, os religiosos apresentam um menosprezo pelos avanços nas pesquisas cientificas, e isso dificulta o professor explicar a teoria da evolução, visto que os alunos religiosos não aceitam essa teoria e rejeitam o professor. 

1.2.2 Independência
         Stephen Jay Gould é um importante historiador da ciência, afirma que ciência e religião possuem fundamentos com aspectos diferentes da experiência humana, sendo assim, essas áreas do conhecimento podem trabalhar pacificamente.  A definição de áreas separadas de Gould é aceita pela academia nacional de ciência do Estados Unidos, no qual defende que ambas são áreas do conhecimento independentes. Para o arcebispo John Habgood, a ciência é descritiva, enquanto a religião é prescritiva, por isso elas apresentam caminhos diferentes para compreensão da experiência humana.

1.2.3 Diálogos 
         O teólogo Philip Hefner defende que as comunidades religiosas e cientificas tem acadêmicos que participam de ambas áreas do conhecimento. Assim, a comunidade acadêmica não pertence a nenhum dos grupos específicos, mas formam a terceira via comunitária, que possuem interesses em comum entre as duas áreas de conhecimento e envolvem todos. No pensamento de Alvin Plantinga, a ciência e religião possuem afinidades, pois elas tentam explicar o mundo e a realidade. Com isto, o verdadeiro conflito está entre ciência e o naturalismo.

1.2.4 Integração

Apesar da complexidade que existe entre ciência e religião, os resultados produtivos que as duas trouxeram para o mundo devem serem considerados regras, ou seja, é necessário que as duas convivem em harmonia, pois o conflito entre as duas não beneficia a história.

PARTE III - CONEXÕES CONTEMPORÂNEAS ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO

2  Conexões contemporâneas entre ciência e religião

Atualmente temos vários temas que envolvem o debate entre ciência e religião, e iremos tratar de dois que tem sido destaque nas últimas décadas: o debate acerca da criação do universo e o debate da origem da humanidade.

2.1 A origem da Terra e o papel de Deus nessa história

Acreditamos que todos conhecem a doutrina bíblica da criação, descrita no Livro de Gênesis, que em síntese, diz que Deus criou o mundo em seis dias, e no sétimo descansou. Podemos encontrar 4 características básicas nessa doutrina da criação cristã:
a)Deus criou o mundo do nada;
b)Deus é distinto do mundo, mostrando uma assimetria radical entre criador e criatura;
c)Caráter bondoso da criação;
d)Deus fez provisões para o fim do mundo e irá criar um novo paraíso na Terra, erradicando o mal.
Podemos associar a doutrina da criação com o poder divino de Deus sobre a humanidade, e isso nos influencia até nossos dias não sendo apenas um fato que o ocorreu milhares de anos atrás.  Contudo, a questão é saber se essas doutrinas cristãs da criação e da ação divina são compatíveis com as últimas descobertas da ciência.
A invasão da ciência no território da religião acontece, principalmente, pelas descobertas científicas (vindas da geologia e da teoria da evolução) e pelas recentes leis científicas que parecem não deixar espaço para uma ação divina, afinal, não precisa mais de um ente metafísico para explicar o funcionamento do mundo que já funciona mecanicamente.
Após essa evolução científica, e com os textos bíblicos já difundidos por séculos, cabe a indagação: esses textos devem ser interpretados de um modo histórico, metafórico ou poético?
Vamos entender melhor os dois lados: No século XVII, o pastor anglicano James Ussher datou a criação da Terra no ano de 4004 a.C., porém, a ciência, através da geologia e suas descobertas, revela que a Terra teve origem significativamente muito antes do que 4004 a.C.
Não somente a geologia, mas outras descobertas científicas também impactaram a interpretação dos livros sagrados, tais como as teorias baseadas no conceito de evolução para explicar a origem das espécies. Nesse ponto, destaca-se Charles Darwin e sua teoria da evolução, apresentada em sua obra “A origem das espécies”. Cabe nesse ponto uma interessante curiosidade: Não obstante a viagem de Darwin iniciou em 1831, durando 4 anos, essa obra da origem das espécies só foi publicada em 1859, ou seja, vários anos depois. Alguns comentaristas afirmam que tal atraso se deu pelo medo da repercussão de sua obra no meio cristão, uma vez que suas observações iam de encontro aos ensinos bíblicos da criação.
Diante desse impasse de criacionistas e cristãos, recentemente nos foi apresentada a Teoria do Design Inteligente, numa tentativa de reconciliação. Essa teoria defende que a alta complexidade dos seres vivos só pode ser fruto de uma “mente inteligente e criadora” e não fruto do mero acaso. Essa mente criadora não costuma ser nomeada de Deus, mas isso por critérios políticos, para evitar uma nomenclatura religiosa e assim a teoria se revestir de uma aparente cientificidade.
Após essa breve explanação da teoria da evolução, sigamos com a compreensão das intervenções divinas. No século XVII, filósofos naturais desenvolveram uma visão mecânica do mundo, onde este era governado ordenadamente por processos e leis rígidas, e essa ideia de leis físicas imutáveis e estáveis, criou dificuldades para o conceito de ação divina. As novas descobertas da física no século XX, tais como teorias gerais da relatividade, teoria do caos e teoria quântica acabam por ultrapassar a ideia de um mundo como um sistema mecânico, além de abrir margem para possíveis reinterpretações da ação divina no mundo.
Na intenção de unir a ideia de Deus com o pensamento científico, a teoria do caos mostra uma abertura onde Deus pode operar sem violar as leis da natureza. Contudo, depara-se com uma nova indagação, pois uma coisa é afirmar que só podemos conhecer as coisas até certo ponto, mas outra muito distante é afirmar que para além das coisas que conhecemos existe algo, e esse algo é Deus, e Ele criou as coisas.

2.2 O futuro debate entre ciência e religião: ética evolutiva
  

Após a publicação da teoria da seleção natural de Darwin, houve uma preocupação sobre as consequências da teoria da evolução para a moralidade e a religião. Sendo assim, caso essas teorias estivessem certas, significaria por consequência que a Bíblia estaria errada, e assim toda a sua doutrina seria colocada em xeque. Nesse contexto, surge a indagação do porque agir eticamente, embora os evolucionistas argumentarem que a moralidade humana não é contrária à ideia de evolução, e pode ainda ser compreendida como uma continuação evolutiva do comportamento social de animais não humanos. Assim, nossa habilidade de realizar julgamentos morais é o resultado da própria seleção natural. Dessa forma, se o comportamento ético é um resultado da evolução, a ideia de Deus parece não ter muita serventia.
Essa última afirmação é polêmica. Refletindo sobre tema, caso concordemos que a habilidade de realizar julgamentos morais é resultado da seleção natural, isso significaria que as pessoas antiéticas seriam atrasadas evolutivamente! Além dessa conclusão estranha, essa afirmação ainda poderia nos fazer pensar que o sentido moral em termos evolutivos acaba por minar a autonomia e responsabilidade individual, ou seja, toda ação do sujeito nada mais seria que uma consequência natural.
Realizando um contraponto, filósofos como John Hare afirmam que a ética evolucionista não explica nosso sentimento de obrigação moral para além do nosso próprio interesse biológico, e sendo assim, as teorias religiosas tem uma explicação mais coerente do motivo de sentirmos necessidade de realizar certas obrigações morais. Em outras palavras, se a moral fosse fruto de evolução ela se restringiria a situações que propiciem a sobrevivência da espécie, e sendo assim, não faria sentido, por exemplo, nosso sentimento moral de não querer causar dor ao nosso próximo, mesmo que isso cause um desconforto em nós mesmos, uma vez que isso não faz o menor sentido numa linha evolutiva de sobrevivência.

Concluindo, observamos que a religião ainda é um forte fundamento moral para a maior parte dos debates contemporâneos sobre ética. Se por um lado a ciência se torna um referencial em vários domínios em nossos dias, no que diz respeito aos debates éticos a religião ainda se encontra como um adversário à altura.

PARTE IV - TEXTO COMPLEMENTAR


 Pode a Ciência crer em Deus?

A fé religiosa está passando por uma crise, pois muitos já não acreditam tanto apesar de ansiarem por um sentido pela vida. A ciência é rejeitada por muitos e é culpada por esta frieza que tem acometido muitas pessoas.
A partir das grandes descobertas científicas, a religião não consegue explicar  questões como a criação do universo, a origem da vida e as leis que a orienta; porém, quando se estuda profundamente todo este processo, surge a pergunta: “mas quem criou tudo isso”?
As religiões pregam que a criação foi um ato planificado de um Deus que já existia, por outro lado, a ciência, tudo surgiu de uma explosão chamada big bang. O interessante é que se a teoria da Igreja é contestada, a do big bang também é muito discutida entre os estudiosos e cientistas, pois o grande questionamento é saber de onde veio a energia no momento da explosão.
Outra pergunta que paira é: “por que o universo tomou a forma que se tem hoje?
Muitos pesquisadores encontram explicações para perfeição do universo na Física quântica. As leis da física podem explicar por que a energia e a matéria podem surgir do nada.
Diante disso, a ciência acaba excluindo Deus como o autor exclusivo da criação, como prega os teólogos e as igrejas. Mas surge  outra questão: as leis podem explicar todo o fenômeno da criação, porém, quem criou estas leis tão perfeitas?
E é exatamente o estudo destas leis que impressionam e deixam indagações, pois são muito simples e de uma beleza e perfeição extrema. As referidas leis possuem beleza, simplicidade e uma lógica interna, que serve de sustentação para a vida racional. A existência dos átomos, as cargas elétricas, a força de campo, a gravitação, são alguns dos exemplos que a natureza fez tudo de forma correta.
Assim, entende-se que a ciência pode explicar através da Física Quântica que a existência do universo está escrita nas leis da natureza e que tudo faz parte de um plano, porém, quem pode explicar quem planejou tudo isto é a teologia, visto que a ciência lida somente com mundo natural.
Sendo assim, ciência e religião se preocupam com vertentes distintas, a ciência se preocupa com a razão e experiência e a religião fé e sacralidade; porém, vale ressaltar que ambas trouxeram e trazem muitos benefícios para a humanidade.

 ASSISTA O VÍDEO ABAIXO PARA COMPLEMENTAR NOSSA DISCUSSÃO:

A Religião e a Ciência - Marcelo Gleiser

PARTE V- FILÓSOFOS DO MUNDO E DA CIÊNCIA

KARL RAIMUND POPPER

Popper vê a ciência como uma atividade estritamente indutiva que a partir de determinadas observações  experiências., avança hipóteses e formula leis sobre fenômenos, procedendo depois à sua generalização e verificação.
Popper considera que, por maior que seja o número de observações particulares, não há justificação racional para a sua generalização a todos os casos.

Popper conclui que as inferências indutivas não conferem ao conhecimento uma necessidade lógica nem validade universal.
Ele propõe portanto, que as exigências de verificabilidade devem ser trocadas pela teoria da falseabilidade, segundo  a qual uma teoria científica só poderá ser considerada verdadeira até que ela seja refutável, ou seja, falseável. o conhecimento científico se desenvolve com base na busca e na tentativa de encontrar lacunas para falsear uma teoria.
nesse caso, os cientistas, levando em consideração o princípio da incerteza, desenvolveram teorias cada vez mais consistentes e flexíveis.

NEIL DEGRASSE TYSON

“Nós nos definimos como inteligentes. Isso é estranho, porque nós fizemos a definição. Nós criamos nossa própria definição e dissemos que éramos inteligentes!”

O astrofísico mais pop da galáxia nasceu no Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, e começou a se apaixonar por astronomia aos 9 anos, numa visita ao Planetário de Hayden, do qual se tornou diretor em 1996.
Sua vida midiática decolaria após assinar sob o pseudônimo Merlin, entre 1995 e 2005, uma coluna mensal na revista Star Date em que tirava dúvidas dos leitores sobre o universo.

SEU OBJETIVO É TORNAR A CIÊNCIA MAIS ACESSÍVEL AO PÚBLICO


“Quando eu penso em um “significado” para a vida, eu me pergunto: ‘será que eu aprendi algo hoje que me deixou um pouco mais perto de saber tudo que há para se saber no universo?’ Se eu não sei mais em um dia do que eu sabia no dia anterior, para mim esse foi um dia desperdiçado. (...) Então, essa não é uma questão eterna e sem resposta — ela está ao alcance das minhas mãos todos os dias. Eu sugiro que você, com seis anos, explore a natureza o máximo que puder.”

 Em entrevista à Revista Galileu, da Editora O Globo, Tyson revela sua relação própria com a ciência ao fazer uma relação com a religião:

“Toda descrição de um poder superior que eu já vi, de todas as religiões que eu conheci, inclui várias declarações em relação à benevolência desse poder. Quando eu olho o universo e todas as maneiras pelas quais ele quer nos matar, eu acho difícil conciliar isso com as afirmações de generosidade.”

PARA OS AMANTES DE GAME OF TRONES, TYSON DEU A SUA GRAÇA. ELE COMENTOU ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA SÉTIMA TEMPORADA, NO QUESITO CIÊNCIA. ACOMPANHE O LINK ABAIXO:




terça-feira, 20 de junho de 2017

PARTE I - APRESENTAÇÃO

ÉTICA III
PROF. DANIEL OMAR PEREZ



Como método avaliativo do semestre ou, como o Mapa de Atividades apresenta para nós, estudantes de Filosofia, a Checagem de Conteúdos prevista para esta semana na disciplina de Ética III, ministrada pelo professor Daniel Omar Perez, é realizar um Seminário sobre um dos temas expostos durante as seis semanas de debates intensos. A apresentação oral acontecerá no encontro presencial e as temáticas serão expostas neste blog.

A realização deste trabalho, portanto, se baseou na escolha da quinta semana, cuja temática é “A HOSPITALIDADE DE KANT EM DEBATE COM DERRIDA E LEVINAS”.

O grupo é composto por Beneir Cunha da Silva Junior,
Cristiani Lopes Silva, Gislãyne da Penha Croce Ferreira, Kerly Nunes de Souza e Maria Elizabeth Ribeiro .


SEJAM TODOS MUITO BEM-VINDOS, AFINAL, A HOSPITALIDADE É POR CONTA DA CASA!!!

PARTE II - NOÇÃO DE HOSPITALIDADE NO SENSO COMUM CONTEMPORÂNEO


Antes de nos aprofundar sobre a hospitalidade de Kant em debate com Derrida e Levinas, entendemos que compreender melhor sobre hospitalidade em nossos dias fará nosso trabalho ser mais produtivo, e assim, com esse conceito definido, nossa compreensão do contexto filosófico ficará facilitado.
Na atualidade, hospitalidade tem sentidos múltiplos, considerando aquilo que diz respeito à ação gratuita de acolher indivíduos vindos do estrangeiro ou grupos migratórios e também àquilo que refere ao turismo e à hotelaria. Hospitalidade então pode sugerir dádiva e também gestão em relação com aquele que não é da casa.
Em nossos dias, talvez a área em que mais desperta estudos de hospitalidade não seja a filosófica, mas sim a econômica. A meta de ser um bom hospitaleiro não é moral, pelo contrário, a ideia é atrair novamente o hóspede, e assim, auferir lucros com essa estadia. Nessa linha de raciocínio que já existe, inclusive, cursos de mestrado voltado para explorar esse segmento (disciplina: Mestrado em Contextos Contemporâneos, optativa do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense – http://hospitalidadecontemporanea.com.br/disciplinas-em-curso/hospitalidade-em-contextos-contemporaneos-mestrado/).
Após observar esse destaque econômico para a hospitalidade ficamos ainda mais curiosos para entender o real sentido da hospitalidade, entender seu sentido filosófico. Nossa preocupação aumenta quando, procurando no google curiosidades sobre hospitalidade, encontramos várias nações se autointitulando como as mais hospitaleiras. No Japão encontramos o destaque do “Omotenashi”, que significa, em outras palavras, que sua hospitalidade é mais forte que as outras (http://www.japaoemfoco.com/omotenashi-o-espirito-da-hospitalidade-japonesa). Até mesmo em países árabes, onde assistimos em noticiários que estão constantemente em guerras, encontramos a hospitalidade como sendo referencial para todo o mundo. Desnecessário comentar sites brasileiros, onde se vangloriam de serem os melhores hospitaleiros do mundo, certamente no intuito de vender mais pacotes turísticos.

Após essa breve pesquisa, percebemos que a hospitalidade ao redor do mundo nos dias de hoje, tem o mesmo sentido material. Em tudo que pesquisamos sempre encontramos a mesma conotação financeira, a mesma preocupação apenas turística quanto à hospitalidade, e por isso, o estudo deste trabalho torna-se mais importante, uma vez que abordaremos a origem de um termo essencialmente filosófico que se perdeu ao longo dos anos e acabou por ter um significado muito mais restrito e comerciável.

PARTE III - RELAÇÃO HÓSPEDE X INIMIGO - HOSPITALIDADE X HOSTIL

O homem hospitaleiro consiste em ser gentil, o qual prepara o ambiente para receber o próximo. Esse termo está associado à cortesia, respeito e educação. O respeito às diferenças e a alteridade é fundamental no desenvolvimento desta prática.
No entanto, o termo hospitalidade possui uma ligação com a palavra hostilidade.  Hostilidade significa receber o estranho ou o inimigo, na qual desperta o sentimento de desconfiança com visitante. Com isto, a nossa linguagem sempre estará direcionada para lembrar ao visitante que ele não faz parte deste ambiente.
Ao longo de nossas vidas somos hospedeiros de hóspede parasita que nos habitam, e através de nosso comodismo aceitamos até o momento em que não nos tirem da zona de conforto. Os seres humanos, quando não tem vontade ou não podem lidar com os estranhos habitantes, simplesmente o obedecem e deixam fazer morada em seu lar, como se a casa fosse deles. O estranho também tem a função de nos estimular a sair de nossas rotinas, quando nos incomoda e nos perturba. Assim, nos permite encontrar outra perspectiva no nosso próprio ser. O fato de sermos confrontados pelo estranho nos faz com que nos tornemos estrangeiros dos nossos próprios costumes.
O hóspede não possui os nossos costumes e nem se expressa com o mesmo idioma. Mas, é recebido por nós através do dever moral, como ser fosse uma norma ética a ser cumprida.    
Derrida, na leitura dos textos platônicos, cita a acolhida de dois tipos de estrangeiros. O primeiro é aquele que fala nossa língua, possui boas referências familiares e tem um estatuto social. O segundo são os bárbaros, que falam um idioma diferente, que possuem um mal cheiro, tem hábitos alimentares diferentes, não tem estatuto social e nem documentos. No primeiro caso temos o estrangeiro acolhido e no segundo caso o rejeitado. O primeiro estrangeiro se refere àquilo que eu posso ser, como sujeito de legislação, já o segundo estrangeiro é irreconhecível, não e nada e nem ninguém. A distinção se apresenta entre o hóspede e o hostil, entre o hospedado e o hostilizado, ou seja, aquele em que eu me reconheço e aquele que é rejeitado por suas diferenças.
Para Levinas, devemos servir ao estrangeiro sem questionar suas origens, pois me constitui o ser que sou. Assim, me torno responsável pelo estrangeiro, pois é minha responsabilidade ética. Com isto, para esse autor a hospitalidade molda o nosso ser, fazendo parte de nossa essência. Essa responsabilidade ética é consequência por sermos seres sociais que necessitam viver em comunidade.
A hospitalidade, no pensamento de Levinas, está muito associada aos personagens bíblicos, aos pobres, às viúvas e aos órfãos. O acolhimento neste contexto é independente da localização geográfica, da origem, da cultura e entre outros, pois a hospitalidade é servir o próximo sem questionar e é incondicional, e se encontra muito além da caridade e dos bons costumes.

No pensamento de Derrida, esse dever ético é uma obrigatoriedade com aquele que o constitui e recebe uma hostilidade pura e incondicional. O estrangeiro não pode sentir o diferente em minha casa.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

PARTE IV - HOSPITALIDADE E KANT – PROBLEMA DA HOSPITALIDADE – DEVER ÉTICO DA RESPONSABILIDADE KANTIANA


Ao tratar a hospitalidade como um dever ético, surge a necessidade de entendê-la de maneira pura e incondicional. O hóspede precisa ser respeitado como o outro, a hospitalidade deve estar aberta ao inesperado, ao estranho, ao novo, ao desconfortável, ao diferente pois, a partir dos argumentos de Kant, este é um problema moral e prático e está tanto no âmbito da liberdade externa, isto é, do direito, como no âmbito da liberdade interna, ou seja, da ética. A ação hospitaleira subtende uma relação consistente entre o dever ético e o dever jurídico, de maneira que, embora sejam diferentes não se contradigam.

Não devemos esperar que o outro, o hóspede, o estrangeiro, se adéque aos meus hábitos, costumes, gestos, mas sim, eu preciso tratá-lo bem, respeitando-o, a fim de que, a minha ação seja um fim em si mesmo.
O imperativo categórico de Kant é uma máxima que exige o exercício dos deveres virtuosos para com os outros, de maneira que a sua observância não resulte “na obrigação da parte dos outros, mas em um dever que é devido por mim em relação com o princípio supremo da moralidade”. O fim que se espera com determinada ação não pode ser diferente da própria ação em si mesma.
Para Kant, virtudes como amabilidade, gentileza, cortesia, são deveres para com os outros regidos por uma lei moral que manda “imperativamente em mim”. O homem deve ser um fim em si mesmo, “devemos nos interessar pelos fins dos outros, desde que sejam morais, buscando a felicidade do outro”.
“O exercício dos deveres de virtude (éticos) como uma obrigação para com os outros possibilita, na sua realização, uma comunidade ética de afabilidade, cooperação, cortesia, gentileza gratuita.” Contudo, essas ações virtuosas precisam ser verdadeiras, sinceras, pois a lei que me manda agir deve ser moralmente reconhecida num sentimento de respeito e não como resultado do desejo.


Kant afirma que mesmo a mera ação da elegância do ato da hospitalidade, pode tornar o exercício da virtude um hábito que favoreça o desenvolvimento moral, já que as ações externas se concretizam na realização das instituições, como a institucionalização da hospitalidade. No entanto, Kant reconhece que não devemos mentir, “a obrigação moral que o sujeito tem com relação à hospitalidade não pode contradizer a obrigação moral que tem de dizer a verdade”. “Quando a razão nos obriga a obedecer a lei incondicionalmente nos exige obedecer a lei da razão e não qualquer lei nem de qualquer maneira”, pois a ação deve permear uma lei moral que imponho a mim mesmo. As ações devem ser conduzidas para o campo racional do imperativo categórico que caminha na contramão do desejo e da irracionalidade, já que é uma ação que exige do agente uma postura consciente.

PARTE V - O DEVER JURÍDICO DA HOSPITALIDADE KANTIANA – CONDIÇÃO PARA A PAZ DURADOURA



Para Kant a hospitalidade consiste num modo de se viver juntos. Uma noção de tolerância capaz de evitar conflitos e até mesmo guerras. Para o filósofo a construção da hospitalidade se dá no momento em que se entende que não existe “posse comum”, mas sim, o direito de visita “que a todos os homens assiste” (KANT, 1993).
A hospitalidade transparece quando o direito de alguém chegar de outro território é resguardado e o mesmo pode apresentar-se em sociedade sem hostilidade ou constrangimento.
Segundo o referido filósofo a hospitalidade torna-se “o direito de alguém ir, vir, estar em algum lugar e poder cuidar da própria vida” (pg. 10). É o início nato da liberdade.
O estabelecimento da paz entre Estados e  povos depende da hospitalidade no sentido jurídico delimitada por Kant. Esta hospitalidade não diz respeito somente a uma certa região, mas sim, ao contexto global, no qual as pessoas tornam-se cidadãos do mundo.
Kant acredita que a paz mundial pode ser resultado da hospitalidade entre povos de diferentes países e que esta é benéfica tanto para quem é acolhido e para quem acolhe.
O filósofo adiantou-se no tempo e alertou para os grandes problemas que a falta de hospitalidade poderiam gerar como a divisão de territórios, guerras, invasões militares causando “a negação da moralidade, a negação da própria humanidade... o desastre moral. A hospitalidade traduz-se no acolhimento dos imigrantes. O encontro com o outro diferente e pela acolhida da diferença” (pg. 12).
A hospitalidade, segundo Kant é o exercício da razão prática e que pode levar à construção da paz entre os povos. Torna-se um direito e um dever de todos.
A leitura do texto torna-se muito atual, principalmente, quando se vê tantas pessoas deixando seus países e procurando abrigo em outros, e muitas vezes, não são acolhidos. São abandonados à própria sorte. Infelizmente o alerta de Kant tem cada vez mais se fazendo presente em nosso meio.

As migrações tem acontecido de maneira mais forte na Europa, porém, em todos os continentes há esta prática, inclusive no Brasil, pois as pessoas buscam melhores condições de vida em outras cidades, quando não podem viver dignamente em seu lugar de origem.

PARTE VI - CONSIDERAÇÕES


O termo hospitalidade, portanto, pode ter várias definições, uma vez que está associado, em sua raiz ao termo hostilidade.
A hospitalidade pode ter seu sentido atribuído à própria acolhida de pessoas quaisquer quanto às normas de etiqueta de um certo lugar.
Em resumo, e objetivo dessa discussão, a hospitalidade está na compreensão das relações com o outro que é diferente e a acolhida dessa diferença bem como os sentimentos que lhes são atribuídos: estranhamento, familiaridade, dever, reconhecimento da diferença, relação de troca, gratuidade, etc.
Kant traz a relação da hospitalidade com a razão prática: uma relação com o outro que implica um dever moral, pautado no funcionamento da própria razão. Por outro lado, nos apresenta a hospitalidade dentro dos aspectos jurídico-políticos se resumem no caminho para a paz duradoura.
O estrangeiro para Kant é sempre o outro, independente de sua origem territorial, devendo ser tratado como pessoa, como fim em si mesmo e não apenas como meio.
A semana nos trouxe uma reflexão que, diga-se de passagem, deve ser constante, sobre as diferenças e o nosso trato em relação a essa temática. Como reagimos com o que é diferente? Diferente de nós ou para nós?  
O modo como reconhecemos a diversidade, a nossa conduta com o outro mostra a nossa verdadeira face. Qual o nosso conceito de hospitalidade?
Para reagirmos um pouco mais, abaixo o link de uma reflexão iniciada com as migrações, os refugiados e relação com o Mito da Hospitalidade, resquício da Cultura grega...

https://leonardoboff.wordpress.com/2015/10/02/o-mito-da-hospitalidade-e-os-refugiados-de-hoje/